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    Em recurso a Toffoli, PGR desvincula caso J&F da Lava Jato

    Paulo Gonet diz que empresa buscou “benefício incomum” ao querer se livrar de multa em caso sem relação com Lava Jato

    Prédio da Procuradoria Geral da República (PGR)
    Prédio da Procuradoria Geral da República (PGR) Antonio Augusto/Secom/PGR

    Lucas MendesRaquel Landimda CNN

    Brasília e São Paulo

    No recurso enviado ao ministro Dias Toffoli, o procurador geral da República, Paulo Gonet, desvincula o caso J&F e os procuradores envolvidos das supostas ilegalidades cometidas na Lava Jato.

    Gonet não nega o que teriam sido os abusos de Curitiba, mas defende os procuradores do Distrito Federal que investigaram os desvios de recurso nos fundos de pensão na Operação Greenfield.

    Segundo Gonet, a J&F buscou um “benefício incomum” ao pedir a suspensão de todas as suas obrigações financeiras “que ela própria pactuou, livremente, em 2017, no Distrito Federal, em acordo firmado com autoridades estranhas à operação Lava Jato”.

    “Não é dado à empresa invocar o contexto das ilegalidades verificadas pelo STF na Operação Lava-Jato para se isentar das suas obrigações financeiras decorrentes de acordo de leniência celebrado em juízo diverso, no âmbito da Operação Greenfield, que não tem relação com a Operação Spoofing nem com a Operação Lava-Jato”, disse o procurador-geral da República.

    Conforme o PGR, todas as investigações que miraram a companhia dos irmãos Wesley e Joesley Batista foram desenvolvidas de forma autônoma no Distrito Federal e não foram “braços” da Lava Jato, “como a holding J&F quer acreditar”.

    As afirmações estão em recurso assinado por Gonet em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) contesta a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu o pagamento da multa de R$ 10,3 bilhões do grupo.

    A decisão é de dezembro. O recurso foi enviado na noite de segunda-feira (5).

    A PGR pede que a o caso da J&F seja redistribuído a outro ministro do STF, com a suspensão da decisão que favoreceu a empresa.

    Se Toffoli decidir ficar com o processo, o pedido é para que ele reverta sua decisão ou, então, que mande para análise do plenário.

    O ponto principal usado por Gonet é que as tratativas e o próprio acordo de leniência fechado pela J&F se deram em Brasília, por órgãos da Justiça e do Ministério Público Federal (MPF) que não têm relação com a Lava Jato ou com a Vara Federal de Curitiba.

    A J&F acionou o Supremo em uma ação que tratava do acordo de leniência da Odebrecht, fechado no âmbito da Lava Jato.

    Os advogados argumentaram que tanto a J&F quanto a Odebrecht foram “reféns dos mesmos abusos, praticados pelos mesmos agentes, no mesmíssimo contexto (a operação Lava Jato)”.

    Ao suspender as multas, Toffoli deu razão à empresa. Em sua decisão, disse que há “dúvida razoável” de que o acordo de leniência da J&F teria sido firmado de forma voluntária pela companhia.

    A J&F foi alvo de investigações da operação Greenfield, que apurou rombos e fraudes em fundos de pensão de empresas públicas.

    A companhia também entrou na mira de desdobramentos, como as operações Sépsis, Cui Bono e Carne Fraca.

    “Observa-se, portanto, que a Operação Greenfield não derivou da Lava Jato; o único grupo de trabalho da ‘Lava Jato’ em Brasília vinculava-se à Procuradoria-Geral da República, em nada se confundindo com a FT Greenfield”, disse Gonet.

    O PGR ainda faz um alerta que considera ser um “grave prejuízo”, caso se mantenha a suspensão das multas: o desfalque em fundos de pensão, em especial Funcef (funcionários da Caixa) e Petros (dos trabalhadores da Petrobras).

    Conforme Gonet, cada fundo receberia cerca de R$ 2 bilhões do acerto da J&F, como compensação.

    “Enfatize-se que a superação da respeitável decisão agora agravada também impede a ocorrência de grave risco ao sistema previdenciário complementar brasileiro, com vultoso prejuízo especificamente à Funcef e à Petros”, afirmou.

    “O valor de reparação aos fundos de pensão representa, nos planos de equacionamento do déficit acumulado da Funcef e da Petros, cerca de dois bilhões de reais a cada uma. Daí se vê a dimensão do risco na suspensão do cumprimento do acordo celebrado pela empresa requerente com o Ministério Público Federal.”