Em depoimento à PF, Ramagem nega amizade com a família Bolsonaro
Diretor da Abin considerou "absurda" alegação de que presidente pudesse interferir em seu trabalho caso assumisse a Polícia Federal
Sua nomeação para a diretoria-geral da própria PF foi barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que apontou a suposta proximidade do presidente como um impeditivo para ocupar o cargo.
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Ramagem foi indicado para a diretoria da PF em substuição a Maurício Valeixo, indicado do ex-ministro Sergio Moro ao cargo. A escolha de Bolsonaro por seu nome alimentou a acusação do ex-ministro de que o presidente estaria interferindo na organização para benefício próprio.
No depoimento, Ramagem classificou como “absurda a alegação de desvio de finalidade com base em presunção futura de influência em investigações criminais sigilosas”. Ele afirma que nunca conversou com Bolsonaro “sob a forma de intromissão, sobre investigações específicas da Polícia Federal que pudessem, de alguma forma, atingir pessoas ligadas ao presidente”.
Segundo o diretor da Abin, o motivo de Moro não querer sua nomeação no lugar de Valeixo “foi o fato deste não integrar o núcleo restrito de Delegados de Polícia Federal próximos ao então ministro”.
E que, ainda segundo Ramagem, “argumentos desarrazoados” fomentaram “celeuma entre poderes da União, tendo como foco apenas uma ação de governo, um ato de nomeação a um cargo do Executivo que atendia aos seus requisitos objetivos”.
Suposta amizade com Bolsonaros
Alexandre Ramagem aparece em uma foto em festea de Ano-Novo com a presença de Carlos Bolsonaro. Em algumas oportunidades, o próprio presidente afirmou ser seu amigo, ponderando que isso não seria um problema para nomeá-lo.
Em seu depoimento nesta segunda, o diretor da Abin afirmou que possui relação próxima de trabalho com Bolsonaro e seus filhos, tendo frequentado a residência oficial do presidente, mas apenas para fins profissionais.
Segundo ele, a foto foi tirada no réveillon de 2018 para 2019, véspera da posse de Bolsonaro. Assim, de acordo com ele, se tratava de uma “situação operacional complexa e sigilosa, com extenso planejamento e ensaio das equipes policiais”. Na festa de Ano-Novo ele afirma que “encontravam-se apenas o vereador Carlos Bolsonaro, seu primo, três policiais da segurança do presidente e suas esposas”.
Delegado federal, Ramagem foi o responsável por chefiar a segurança do presidente durante a campanha nas eleições de 2018, após o episódio da facada.
“Ele exerceu com presteza a missão, e aí nasceu a amizade. Ele passou a ser uma pessoa que tomava café da manhã comigo, comia pão com leite condensado também. E depois, se não me engano, acho que ele foi num casamento de um filho meu”, disse Bolsonaro sobre sua relação com o delegado.
“Faço apelo ao ministro e aos demais. Não é por mim, é por sua vida pregressa, tudo o que fez pela pátria, combate à corrupção, à criminalidade, para que se reveja a decisão e o Ramagem possa assumir”, afirmo o presidente em defesa da nomeação.