Em conversa com Maduro, Lula defenderá eleições, mas evitará “destruir pontes”
À CNN, conselheiros do petista disseram que assuntos como prisão de funcionários da ONU e vitória de María Corina Machado nas primárias venezuelanas não serão abordados
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se encontrar com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, à margem da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que ocorrerá nesta sexta-feira (1º), em São Vicente e Granadinas.
Segundo relatos feitos à CNN por auxiliares diretos do petista, Lula pretende falar com Maduro sobre a importância de se fixar uma data para as eleições presidenciais na Venezuela ainda em 2024, conforme estabelecido pelo Acordo de Barbados.
O acordo, celebrado em outubro do ano passado, prevê a realização de eleições transparentes e a libertação de oposicionistas presos. Em troca, os Estados Unidos suspenderam parcialmente suas sanções econômicas contra a Venezuela.
Nas últimas semanas, entretanto, uma sucessão de episódios levantou preocupações da comunidade internacional. María Corina Machado, que venceu as primárias da oposição com mais de 90% dos votos, teve sua inabilitação política por 15 anos confirmada pela Suprema Corte da Venezuela.
Depois, pelo menos 12 funcionários de um escritório local do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos tiveram sua saída do país determinada pelo governo.
E a ativista Rocío San Miguel, que estava à frente da ONG Controle Cidadão, foi detida sob a acusação de traição à pátria e conspiração.
À CNN, conselheiros de Lula disseram que ele não pretende fazer referência pública a esses episódios, a fim de evitar “destruição de pontes” com Maduro.
Esses auxiliares reconhecem, no entanto, que os últimos acontecimentos tumultuam o processo pré-eleitoral e podem ser mencionados reservadamente por Lula na conversa com o líder venezuelano.
Na semana passada, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com Lula no Palácio do Planalto. Na reunião, conforme relatos, Blinken e seus auxiliares demonstraram esperar uma influência positiva do Brasil – e também da Colômbia (governada pelo esquerdista Gustavo Petro) – para a realização de eleições transparentes na Venezuela.
De acordo com fontes do Planalto, os Estados Unidos indicaram que devem manter suas sanções suspensas por enquanto e não veem o Acordo de Barbados ferido de morte.
Em Brasília, a percepção é de que opositores de Maduro em Caracas não querem transformar a inelegibilidade de María Corina Machado em debate central sobre eleições. Mais do que “quem” protagonizará o processo eleitoral, importa “como” ele será levado adiante, diz um assessor de Lula.
A intenção, contudo, é mostrar para Maduro que ele tem a oportunidade de resgatar alguma confiança da comunidade internacional e precisa respeitar o Acordo de Barbados para isso.
Guiana e Essequibo
Na conversa com Lula, Blinken parabenizou o Brasil pela atuação que teve a fim de acalmar os ânimos entre Venezuela e Guiana, em meio às ameaças de Maduro sobre o Essequibo (região altamente promissora na exploração de petróleo).
Em sua escala inicial na primeira viagem ao exterior que fará em 2024, Lula deve ter um encontro privado com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, à margem da cúpula do Caricom (bloco de países caribenhos), que ocorrerá em Georgetown.
Lula pretende dizer para Ali, segundo auxiliares, que manobras militares na região não colaboram para o distensionamento entre os dois países. Em dezembro, um navio de guerra britânico foi enviado à costa da Guiana. A chegada da embarcação deflagrou exercícios de forças venezuelanas nas proximidades da fronteira.