Defesa de ex-diretora do Ministério da Justiça diz que apagar dados de celular é norma padrão
Marília Alencar apagou dados que mostravam locais onde Lula e Bolsonaro venceram no primeiro turno
O advogado da ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça Marília Alencar declarou à CNN que apagar dados de celular faz parte da “doutrina de contrainteligência”. Octavio Orzari representa Marília no inquérito da Polícia Federal que investiga as blitze da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições do ano passado.
“Os profissionais de inteligência lidam com uma enormidade incalculável de informações e devem seguir a orientação de apagá-las, segundo a doutrina de contrainteligência”, explicou o advogado.
A informação foi repassada por conta do fato de a então diretora ter apagado uma imagem com a planilha do celular, bem como dezenas de outros materiais da Diretoria de Inteligência (Dint).
Segundo o advogado, a tabela detalhava cidades onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tiveram votação expressiva. A planilha é o ponto de partida da investigação sobre a atuação do ex-ministro da Justiça durante o segundo turno das eleições.
Os investigadores apuram se Anderson Torres viajou à Bahia para tratar dos bloqueios da PRF que seriam feitos nas eleições, inviabilizando, assim, que eleitores petistas chegassem aos locais de votação, com base no relatório das cidades onde Lula teria vantagem.
O documento, explica o advogado, foi elaborado pela Dint como parte do processo de inteligência e apresentado em reunião no ministério, na presença de outros servidores. A partir dali, não seria mais papel da diretora saber o que seria feito – ou não – com o documento.
“A Delegada Federal Marília Alencar confia na apuração técnica dos fatos, compareceu espontaneamente para colaborar, inclusive explicou detalhes sobre a coleta de informações que pudessem indicar possível compra de votos, no cumprimento de suas atribuições, e segue à disposição da autoridade policial para esclarecimentos”, declarou em nota a defesa.
Viagem investigada
O arquivo deu início à investigação que corre na PF, bem como a viagem de Anderson Torres, já em posse do mapa eleitoral, à Bahia. A ida ao Nordeste ocorreu cinco dias antes do segundo turno das eleições presidenciais.
Conforme revelado com exclusividade pela CNN nesta semana, Torres viajou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se reunir com o chefe da PF no estado e pediu, segundo apurado, apoio nos bloqueios que a PRF faria em estradas. A PF, no entanto, não participou da operação.
A ex-diretora de inteligência afirmou em depoimento à PF, há duas semanas, que fez o mapa de votação a pedido de Torres. A defesa dele nega.