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    Torço para que Decotelli cuide das crianças e não do Olavo, diz Rodrigo Maia

    Ao comentar a nomeação do novo ministro da Educação, presidente da Câmara disse que Weintraub não tinha "condições" de comandar o MEC

    Anna Gabriela Costa, Bernardo Barbosa e Tainá Farfan, da CNN em São Paulo e Brasília

    O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira (25) torcer para que o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, “cuide das crianças e não do Olavo”. A declaração foi uma menção à influência que o escritor Olavo de Carvalho e sua linha de pensamento teriam nas políticas do MEC no governo de Jair Bolsonaro. Maia também voltou a criticar Abraham Weintraub, que deixou o comando da pasta.

    “Estive com ele [Decotelli] só uma vez, mas não tenho nenhuma informação sobre o trabalho dele. Tem um bom currículo, mas não tenho conhecimento, certamente será melhor que o ex-ministro. Independente de que ala, tem que ter uma pessoa equilibrada, com a cabeça no lugar, né? Quem foi ofendido pelo Weintraub foi o Brasil, o Brasil que foi ofendido, que teve um ministro tão sem condições, para não usar outro nome. Ele tem um bom currículo. Vamos torcer para que o novo ministro cuide das crianças e não do Olavo na Virgínia, e não cuidar do que pensa o Olavo de Carvalho nos Estados Unidos”, disse Maia à imprensa em Brasília.

    A preocupação com a influência de Olavo de Carvalho sobre o MEC também foi citada pelo secretário-geral da Frente Parlamentar Mista de Educação no Congresso, deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF). Segundo ele, os integrantes do grupo tomarão “precauções” para que Decotelli não seja “de novo alvo dos olavistas que aparelharam o Ministério da Educação”.

    Segundo o deputado, Decotelli iria assumir uma secretaria no Ministério da Educação quando deixou o comando do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e “foi alvejado pelos olavistas”.

    “Tudo que nós não queremos é que o MEC continue sendo um instrumento para divulgação dessas campanhas que incendeiam a sociedade e não tratam dos assuntos sérios que a educação brasileira precisa tratar”, disse o parlamentar.

    Decotelli presidiu o FNDE entre fevereiro e agosto de 2019. No dia 8 daquele mês, o próprio MEC chegou a anunciar que ele assumiria a Semesp (Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação), voltada para a coordenação da educação no campo e de pessoas com deficiência, entre outras atribuições. No entanto, a nomeada para o cargo foi Ilda Ribeiro Peliz.

    Em entrevista à CNN, o novo ministro atribuiu sua saída do governo no ano passado a “uma mudança operacional, uma reestruturação de equipe”. Naquele momento, o ministro era Abraham Weintraub.

    No fim da tarde desta quinta-feira, pelo Twitter, Weintraub dise que teve “o prazer de trabalhar” com Decotelli. “Desejo muita sorte e sucesso ao novo ministro e ao presidente Jair Bolsonaro”, disse o ex-chefe do MEC.

    Decotelli, por sua vez, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não pediu a ele uma gestão “ideológica”

    “Não houve nenhuma demanda, nenhuma fala sobre questão ideológica, até porque eu não tenho nenhuma competência ideológica. A minha formação é na área de gestão e finanças”, afirmou o novo ministro. “Eu sou um gestor de finanças e administração. O presidente falou: aplique a ciência, aplique a integração, para podermos entregar a melhor política pública para a educação no Brasil. Não tenho competência para fazer adequação ideológica.”

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    Segundo o deputado Professor Israel Batista, se Decotelli focar na retomada das aulas e entender a importância da aprovação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), além de “evitar os assuntos emocionantes e focar nos assuntos que são realmente importantes”, já haverá um “grande ganho”.

    O educador Mozart Ramos disse, em entrevista à CNN, ter dúvidas sobre se Decotelli conseguirá sobreviver a pressões por uma gestão “ideológica” no MEC. “Se conseguir, será uma grande vitória”, afirmou. 

    Ramos, que foi secretário de Educação de Pernambuco e um dos diretores do Instituto Ayrton Senna, falou ainda que Decotelli terá que “correr contra o tempo”, já que, segundo ele, o país ainda não teve um ministro da Educação na gestão atual.

    “O [Ricardo] Vélez passou apenas dois meses e meio [no MEC] e [Abraham] Weintraub veio para cumprir uma agenda política, muito mais vinculado ao embate com as entidades e universidades, e não conseguiu ter uma agenda positiva para a educação”, avaliou. 

    Diálogo

    Na tarde desta quinta-feira, em sua primeira entrevista, Decotelli sinalizou que pretende fazer uma gestão com diálogo com o Congresso, universidades e entidades de classe ligadas ao setor da educação — o que marcaria uma mudança de tom em relação a Weintraub.

    “Eu tenho este hábito, esta tendência de sempre estar falando de maneira didática, pedagógica, conversando, dialogando, ampliando para a gestão públicas as metodologias aplicadas em sala: ouvir, ponderar, analisar, respeitar e prosseguir”, declarou.

    Ramos disse que apresentar mensagem de diálogo é importante. “Estamos precisando de um ministro que seja capaz de dialogar com diferentes áreas da educação, tanto nas universidades, principalmente as federais, e com os secretários municipais e estaduais de educação”, afirmou.

    O deputado Professor Israel Batista também declarou que Decotelli é “um homem de diálogo”, com boas relações com o Parlamento, e que durante sua gestão no FNDE tentou fazer com que o órgão cooperasse com estados e municípios.

    A deputada Luísa Canziani (PTB-PR), também integrante da Frente Parlamentar Mista da Educação, foi outra parlamentar a classificar o novo ministro como “uma pessoa do diálogo”. A deputada é a relatora da medida provisória 934, que flexibiliza o cumprimento do mínimo de 200 dias letivos devido à pandemia de Covid-19.

    “O professor Decotelli é uma pessoa do diálogo, que acredita na construção de consensos, na construção de pontes para que a gente possa implementar a melhor educação possível”, afirmou a parlamentar.

    De forma similar, o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez disse à CNN que Decotelli é uma pessoa prudente e sensata e que poderá “criar pontes”.

    Questionado se a ideologia de Decotelli está alinhada com a do governo, Vélez o definiu como um “liberal conservador” e um “gestor competente sem ser radical, que segue a linha de moderação e tolerância com ideias diferentes”.

    Em nota, o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) disse que “enquanto presidente do FNDE, Carlos Alberto Decotelli manteve um bom canal de diálogo com os secretários, chegando a visitar alguns estados durante a sua gestão.”

    O Consed afirmou acreditar “na possibilidade de ampliação do diálogo e na contínua interação com o Ministério da Educação, para que políticas educacionais, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular e o Novo Ensino Médio possam avançar com celeridade e qualidade.”

    Estudantes criticam nomeação

    Em nota conjunta, UNE (União Nacional dos Estudantes), Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional dos Pós-Graduandos) criticaram a nomeação de Decotelli para o MEC.

    Para as entidades estudantis, o fato de Decotelli ser o terceiro ministro em um ano e meio “demonstra a falta de compromisso com essa área fundamental.”

    “Embora possua trajetória acadêmica e possa vir a representar um deslocamento do grupo olavista na gestão, o novo ministro não tem experiência vinculada à educação, mas sim nas áreas financeira e militar, o que é sempre motivo de preocupação. A educação não pode ser tutelada nem por grupelhos ideológicos estar a serviço dos interesses do mercado financeiro”, disseram as entidades. 
     
    Segundo as organizações, “é preciso superar a lógica que elegeu a educação e a ciência como inimigas, frear o projeto de desmonte das áreas e adotar o caminho de investimentos robustos para assegurar que estas possam cumprir suas missões diante da profunda crise de saúde pública e econômica que o país atravessa.” 
     
    As entidades defendem “a aprovação urgente do novo Fundeb permanente; saídas para a educação básica durante a pandemia; realização do Enem de maneira segura e no tempo adequado; garantia de auxílio aos estudantes das universidades privadas para pagar as mensalidades; investimentos emergenciais na ciência e nas universidades públicas para permanência estudantil; valorização e investimento na pós-graduação; e todos os esforços de combate à Covid-19.”

    (Com informações de Rudá Moreira e Giovanna Bronze, da CNN em Brasília e São Paulo)

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