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    Decotelli diz que Bolsonaro não pediu gestão ‘ideológica’ no MEC

    "O presidente falou: aplique a ciência, aplique a integração, para podermos entregar a melhor política pública", disse o novo ministro da Educação

    Rachel Vargas e Bernardo Barbosa, da CNN em Brasília e São Paulo

    Em sua primeira entrevista após ser nomeado como ministro da Educação, o professor Carlos Alberto Decotelli da Silva disse nesta quinta-feira (25) em Brasília que o presidente Jair Bolsonaro não pediu a ele uma gestão “ideológica”. O novo chefe do MEC também defendeu o diálogo com o Congresso.

    “Não houve nenhuma demanda, nenhuma fala sobre questão ideológica, até porque eu não tenho nenhuma competência ideológica. A minha formação é na área de gestão e finanças”, afirmou o novo ministro. “Eu sou um gestor de finanças e administração. O presidente falou: aplique a ciência, aplique a integração, para podermos entregar a melhor política pública para a educação no Brasil. Não tenho competência para fazer adequação ideológica.”

    Decotelli contou que foi procurado por Bolsonaro hoje de manhã, e que até ontem (24) estava dando aulas. “Fui pego de surpresa”, afirmou.

    Em diversos momentos da entrevista, Decotelli deu sinalizações no sentido que pretende fazer uma gestão com diálogo não só com o Congresso, mas com universidades e entidades de classe ligadas ao setor da educação — o que marcaria uma mudança de tom em relação ao seu antecessor, Abraham Weintraub, que teve uma relação ruim com estes atores.

    “Eu tenho este hábito, esta tendência de sempre estar falando de maneira didática, pedagógica, conversando, dialogando, ampliando para a gestão públicas as metodologias aplicadas em sala: ouvir, ponderar, analisar, respeitar e prosseguir”, declarou.

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    “É o tom que eu sei fazer”, disse Decotelli quando perguntado se haveria então uma mudança de tom no comando do MEC em relação a Weintraub. “Eu vim para fazer o que eu sei fazer. E o que eu sei fazer é sala de aula, é conversa, é gestão, é ajuste, é muito diálogo e construção de projetos a serem entregues para a educação.”

    Segundo o novo ministro, quando chefiou o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), entre fevereiro e agosto de 2019, aplicou “gestão integrada e bom relacionamento com as entidades da educação brasileira”.

    “É isso que foi pedido: que o que foi feito no FNDE no ano passado se estenda para a gestão do MEC”, afirmou.

    O novo ministro não deu detalhes sobre sua saída do FNDE, em agosto do ano passado. Disse apenas que recebeu a exigência de fazer “uma mudança operacional, uma reestruturação de equipe”, e que nessa “reestruturação” voltou a ser professor universitário. Naquele momento, o ministro era Abraham Weintraub.

    Decotelli também não especificou medidas que pretende tomar ao assumir o cargo. Segundo ele, o grande desafio será planejar o restante do ano e a retomada de atividades da educação no período de pandemia de Covid-19.

    Na noite de quinta-feira, em sua live semanal nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o novo ministro da Educação foi escolhido entre quatro nomes “excepcionais”. Bolsonaro confirmou que um dos cotados era o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder.

    “A opção foi o Decotelli pela idade, currículo mais extenso, mas tantas virtudes quanto Renato e os outros candidatos”, afirmou o presidente.

    Repercussão

    O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse torcer para que Decotelli “cuide das crianças e não do Olavo”. A declaração foi uma menção à influência que o escritor Olavo de Carvalho e sua linha de pensamento teriam nas políticas do MEC no governo de Jair Bolsonaro. 

    “Estive com ele [Decotelli] só uma vez, mas não tenho nenhuma informação sobre o trabalho dele. Tem um bom currículo, mas não tenho conhecimento, certamente será melhor que o ex-ministro. Independente de que ala, tem que ter uma pessoa equilibrada, com a cabeça no lugar, né? Quem foi ofendido pelo Weintraub foi o Brasil, o Brasil que foi ofendido, que teve um ministro tão sem condições, para não usar outro nome. Ele tem um bom currículo. Vamos torcer para que o novo ministro cuide das crianças e não do Olavo na Virgínia, e não cuidar do que pensa o Olavo de Carvalho nos Estados Unidos”, disse Maia à imprensa em Brasília.

    A preocupação com a influência de Olavo de Carvalho sobre o MEC também foi citada pelo secretário-geral da Frente Parlamentar Mista de Educação no Congresso, deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF). Segundo ele, os integrantes do grupo tomarão “precauções” para que Decotelli não seja “de novo alvo dos olavistas que aparelharam o Ministério da Educação”.

    O educador Mozart Ramos disse, em entrevista à CNN, ter dúvidas sobre se Decotelli conseguirá sobreviver a pressões por uma gestão “ideológica” no MEC. “Se conseguir, será uma grande vitória”, afirmou. 

    O ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez declarou à CNN que Decotelli é uma pessoa prudente e sensata e que poderá “criar pontes”. Questionado se a ideologia de Decotelli está alinhada com a do governo, Vélez o definiu como um “liberal conservador” e um “gestor competente sem ser radical, que segue a linha de moderação e tolerância com ideias diferentes”.

    Em nota, o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) disse que “enquanto presidente do FNDE, Carlos Alberto Decotelli manteve um bom canal de diálogo com os secretários, chegando a visitar alguns estados durante a sua gestão.”

    O Consed afirmou acreditar “na possibilidade de ampliação do diálogo e na contínua interação com o Ministério da Educação, para que políticas educacionais, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular e o Novo Ensino Médio possam avançar com celeridade e qualidade.”

    Em nota conjunta, UNE (União Nacional dos Estudantes), Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional dos Pós-Graduandos) criticaram a nomeação de Decotelli para o MEC.

    Para as entidades estudantis, o fato de Decotelli ser o terceiro ministro em um ano e meio “demonstra a falta de compromisso com essa área fundamental.”

    “Embora possua trajetória acadêmica e possa vir a representar um deslocamento do grupo olavista na gestão, o novo ministro não tem experiência vinculada à educação, mas sim nas áreas financeira e militar, o que é sempre motivo de preocupação. A educação não pode ser tutelada nem por grupelhos ideológicos estar a serviço dos interesses do mercado financeiro”, disseram as entidades. 

    (Com informações de Anna Gabriela Costa, Giovanna Bronze, Rudá Moreira e Tainá Farfan, da CNN em São Paulo e Brasília)

     

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