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    Ex-assessor nega contato com Dominghetti e diz que só fez interlocução política

    Airton Antônio Soligo é apontado como 'ministro de fato' durante gestão Eduardo Pazuello; requerimento pela oitiva dele foi protocolado por Randolfe Rodrigues

    Beatriz Gurgel, Giovanna Galvani, Rafaela Lara e Renato Barcellos, da CNN, em São Paulo e Brasília

    A CPI da Pandemia realizou a sua 40ª sessão e ouviu, nesta quinta-feira (5), o empresário e ex-assessor do Ministério da Saúde Airton Antônio Soligo, conhecido como Airton Cascavel. 

    O requerimento pela oitiva de Cascavel foi apresentado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que justifica o pedido citando reportagens que revelam que o ex-assessor era apontado como “o ministro [da Saúde] de fato” durante a gestão de Eduardo Pazuello. Cascavel e o ex-ministro da Saúde são amigos, de acordo com a CPI.

    Em resposta aos questionamentos dos senadores, Airton afirmou que atuou para pacificar as relações entre o Instituto Butantan e o governo federal na compra da vacina Coronavac. Segundo ele, havia e ainda há politização das vacinas contra a Covid-19.

    Ele também negou que tenha negociado compra de vacinas. Segundo ele, apenas a secretaria-executiva do Ministério da Saúde poderia fazer essas tratativas.

    Os senadores devem questioná-lo também sobre sua atuação junto à gestão Pazuello, na qual o empresário teria participado de reuniões na Saúde, – mesmo sem um cargo formal na pasta. O então ministro nomeou o amigo como “assessor especial” do ministério após a informalidade ser descoberta – Cascavel ocupou o cargo entre junho de 2020 e março deste ano.

    O ex-assessor chegou a pedir salvo-conduto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer ao depoimento de hoje. O ministro Gilmar Mendes concedeu o pedido apenas parcialmente. Cascavel tem a garantia do direito ao silêncio em questões que possam incriminá-lo – o STF já se manifestou desta forma em pedidos de outros depoentes.

    Acompanhe o resumo da CPI da Pandemia: 

    • ‘Nunca respondi mensagens, achava que era armação’, diz Cascavel

    Em resposta à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), Airton Cascavel afirmou que nunca respondeu às mensagens enviadas a ele pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti.

    Segundo o ex-assessor da Saúde, não houve resposta por ele achar que se tratava de uma “armação”.

    Questionado por Gama se conhecia o PM vendedor de vacinas, Cascavel negou e disse que “havia um insistente mandando mensagens ofertando vacinas”.

    “Eu nunca respondi essas mensagens porque eu achava que era picaretagem. Eu achava que era uma armação. Se tem essa mensagem dele, pode ver que não tem resposta nenhuma”, disse.

    • Cascavel confirma que respondeu processo por corrupção ativa

    Questionado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Airton Casvavel confirmou que respondeu por processos de corrupção ativa.

    No processo de corrupção ativa, o ex-assessor foi denunciado pelo Ministério Público Federal por tentar roubar uma caminhonete do governo federal. 

    Cascavel afirmou que foi inocentado do caso. Vieira, no entanto, ressaltou que em dezembro de 2001, o STF reconheceu a prescrição do feito. 

    • Airton diz que ‘picaretas’ apareciam tentando vender vacinas no Ministério da Saúde 

    Ao responder ao senador Eduardo Braga (MDB-AM), Airton afirmou que “picaretas” apareceram no Ministério da Saúde tentando vender vacinas contra Covid-19. Ele diz não ter atendido nenhuma destas pessoas – o ex-assessor não citou nomes.

    “Quando se fala de picaretas da vacina eu criei ojeriza de ver isso. Quando eu estava no ministério quantos picaretas apareciam. Eu resolvi não receber nenhum. No momento que não se tinha a fábrica da AstraZeneca, não tinha um milhão de vacinas para entregar pro Brasil, picaretas apareciam tentando vender 100, 200 milhões [de vacinas] para todo lado e de todo jeito”, disse

    Em seguida, Airton defendeu a vacinação contra a Covid-19. “Só a vacina, de fato vai resolver o problema da pandemia. Qualquer vida salva por vacina antecipada valeria a pena.”

    Ao mencionar os “picaretas da vacina”, o ex-assessor foi interpelado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que ocupava a presidência da sessão temporariamente. “Quando fazem referencia aos picaretas, muitos ofereceram até 400 milhões de doses, alguns contratos chegaram inclusive a ser realizados. Tivemos empenho de mais de um R$ 1 bilhão de reais”, disse.  

    Em seguida, a sessão foi suspensa por 30 minutos para almoço.

    • Simone Tebet revela ter sido recebida por Airton Cascavel no Ministério da Saúde 

    Durante a gestão Pazuello, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) solicitou uma reunião com o então ministro e foi recebida por Cascavel – ainda antes de assumir o cargo de assessor especial formalmente. A parlamentar revelou o encontro durante a sessão desta quinta. Na reunião, ela pediria recursos para hospitais de seu estado. 

    Para Tebet, o ex-assessor ocupava o lugar “de um ministro de Estado”. Na ocasião, segundo ela, Pazuello demorou mais de 30 minutos para atendê-la e Cascavel a recebeu. “Vossa senhoria nos recebeu numa sala que não era sua para tratar como empresário de uma pauta relacionada à pandemia portanto pública e no lugar de um ministro de Estado”. Ao pedir a oitiva de Cascavel, o relator Randolfe Rodrigues (Rede-AP) incluiu reportagens que apontavam o ex-assessor como “o ministro de fato”. 

    Ao revelar o fato, Simone afirmou que precisava “trazer a verdade” porque havia sido citada pela imprensa por “por ter tido uma reunião com vossa senhoria e vossa senhoria não era servidor de fato.”

    “Uma senadora marcou uma audiência com o Ministério da Saúde e pedia recursos para hospitais regionais terem insumos para garantir o minimo de gestão. Ali, a senadora era eu e fui atendida por um empresário que era vossa senhoria e estava ali ausente naquela sala o verdadeiro titular que era o ministro de Estado. Vossa senhoria não estava na função de assessor especial”, disse.

    Airton então afirmou que não discordava da senadora e sua intenção era ajudar, mas ela tinha “agenda com o ministro e ela, de fato, ocorreu”. “Não discordo da senhora e minha intenção foi ajudar. A sua agenda era com o ministro e ela, de fato, ocorreu. Tenho a lembrança de ter falado para senhora onde eu estava em 11 de setembro, quando houve o atentado, eu estava no ministério sendo atendido pelo seu pai. Eu fui recebê-la e fiz antessala.”

    Após a fala do ex-assessor, Randolfe falou sobre a abertura de inquérito pela Polícia Federal para investigar supostos vazamentos de documentos sigilosos da comissão. “Ainda ontem à noite, o senhor presidente da República divulgou abertamente um inquérito sigiloso pelas redes sociais. Um inquérito que está em andamento na PF. Aproveito para perguntar a Anderson Torres, ministro da Justiça, e o diretor da PF, a que horas será anunciada a abertura do inquérito contra o presidente da República?”, disse.

    • Airton detalha ações durante colapso no Amazonas

    O ex-assessor Airton Cascavel afirmou que não tinha nenhum conhecimento sobre o aplicativo Tratecov, desenvolvido pelo Ministério da Saúde e lançado em Manaus no dia 12 de janeiro. “Não tenho conhecimento, não sei. Eu nunca tive acesso e nem interesse, não me dizia respeito”, respondeu. 

    Airton também afirmou que, nas diversas viagens que fez o estado do Amazonas, auxiliou o Ministério com reuniões organizadas entre secretários de Saúde e gestores de hospitais.

    Apesar da crise da falta de oxigênio na capital amazonense, o ex-assessor disse que era necessário “ver coisas positivas também” no trabalho de aquisição de cilindros de oxigênio e deslocamento de pacientes para outros estados, já que o Amazonas não comportava a quantidade de doentes. 

    Airton ressaltou, no entanto, que haviam diversos assessores e que a tomada de decisões não passava por eles. “Queria diminuir minha importância em todas essas decisões. Eu não era o ministro da Saúde. Era um assessor e naquele momento tinham vários”, declarou.

    • Não negociei vacinas, fiz interlocução política, diz Airton Cascavel

     

    Ainda durante as perguntas do relator Renan Calheiros, Airton Cascavel informou que não negociou compra de vacinas. Segundo ele, apenas a secretaria-executiva do Ministério da Saúde poderia fazer essas tratativas.

    Airton teria ficado responsável apenas pela interlocução política em torno da pandemia, com secretários estaduais de Saúde. “Tudo estava centralizado na secretaria-executiva. E eu nunca fui a essa secretaria em nenhum momento”, disse. O empresário e ex-político atuou como assessor especial da pasta. 

    Ao ser perguntado sobre as tratativas com a Pfizer para a compra dos imunizantes, o ex-assessor especial informou que também não participou destas negociações. “Naquele momento eu não participava disso. Era em outra coisa que eu estava concentrado: a interlocução política”. A CPI da Pandemia revelou que o governo Bolsonaro deixou de responder aos e-mails da Pfizer sobre a venda das vacinas. Conforme revelou a CNN, o CEO mundial da Pfizer, Abert Bourla, chegou a pedir agilidade do governo

    • Airton diz atuou para pacificar Butantan e governo

    Durante as respostas ao relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Airton afirmou que atuou para pacificar as relações entre o Instituto Butantan e o governo federal na compra da vacina Coronavac. Segundo ele, havia e ainda há politização das vacinas contra a Covid-19.

    O depoente detalhou reuniões entre governadores e Ministério da Saúde. Segundo Airton, ele chegou a viajar à São Paulo para tratar desta aproximação com o Butantan. “Nós precisávamos de vacinas e [fui] construir esse diálogo para que isso pudesse acontecer”, disse.

    “Através do fórum dos governadores essa relação se pacificou, ficou pactuado. Dali surgiu um diálogo de todos os governadores com Pazuello e se marcou uma reunião pra anunciar isso no dia 20 de outubro”, afirmou Airton.

    No dia seguinte, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro desautoriza a compra da vacina e, em 22 de outubro, o vídeo de Pazuello e Bolsonaro com a fala “um manda e outro obedece” é divulgado.

    • Airton: Teich me convidou para integrar equipe da Saúde

    Ao iniciar sua fala de apresentação na CPI da Pandemia, Airton Cascavel informou que foi convidado para integrar a equipe do Ministério da Saúde pelo então ministro Nelson Teich. Ele revelou ainda ter participado de uma reunião da pasta, ainda sem cargo formalizado, no momento de transição da gestão de Mandetta para Teich. Neste momento, o general Eduardo Pazuello era o secretário-executivo da Saúde, número 2 da pasta.

    Depois de uma conversa inicial com Pazuello e Teich, Airton vai à Manaus, onde mora parte de sua família. “Fico até 6 de maio [em Manaus] e, nesse intervalo, falei com Teich e Pazuello. E Teich me convida para fazer parte da gestão dele”, disse. 

    “A vida é feita de escolhads e ali fiz a minha. ‘Vou pra lá’, eu disse. Em 7 de maio chego em Brasília e sou acometido de doença crônica e tenho problema de pressão alta. Durante cinco dias fico em repouso e, em 12 de maio, me apresento para aceitar o convite de Teich, mas três dias depois o ministro cai, pede exoneração”, disse.

    A nomeação de Airton Cascavel é efetivada em 24 de junho do ano passado. Segundo ele, o atraso se deu devido a entraves burocrático e atribuiu resistências ao seu nome na Casa Civil. “No dia 26 de maio, Pazuello, como interino, me convida para o cargo. Não tinha o meu afastamento de administrador da minha empresa, os cartórios estavam fechados naquele momento e eu e outros servidores fomos nomeados em junho. Houve rejeição ao meu nome na Casa Civil e, por isso,” a minha nomeação só sai no dia 24 de junho.”

    • Airton Cascavel já chegou ao Senado; saiba quem é o ex-assessor 

    Airton Cascavel - CPI da Pandemia
    O empresário e ex-assessor do Ministério da Saúde, Airton Antonio Soligo, conhecido como Airton Cascavel, já está no Senado Federal para prestar depoimento
    Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

    O ex-assessor do Ministério da Saúde e amigo de Pazuello, Airton Cascavel chegou ao Senado Federal antes das 9 horas para depor. A sessão, que estava prevista para iniciar às 9h, registrou mais de um hora de atraso.

    Antes de sua chegada à Brasília para atuar na pasta da Saúde, Cascavel atuou como empresários, ocupou cargos públicos e também foi eleto deputado estadual e federal por Roraima. Embora tenha nascido no estado do Paraná, Cascavel se estabeleceu em Roraima no ano de 1985, com  a expansão das linhas de ônibus da empresa paranaense União Cascavel de Transporte e Turismo (Eucatur), onde trabalhou como assessor.

    Em 1988, iniciou a carreira política ao se tornar prefeito do município de Mucajaí, pequeno município de Roraima, quando tinha apenas 24 anos. Dois anos mais tarde, renunciou da prefeitura e se candidatou como deputado estadual.

    Presidiu a Assembleia Legislativa de Roraima e participou da Assembleia Constituinte Estadual. No ano de 1994 foi eleito vice-governador de Roraima. Entre 1999 e 2002, Cascavel foi deputado federal pelo PPB, atual Progressistas. Ao terminar o mandato como deputado federal, foi eleito novamente deputado estadual. 

    Em 2007, Airton Cascavel Secretário de Desenvolvimento Agrário de Boa Vista. Ficou à frente da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) por cem dias.

    Airton Cascavel
    Em pronunciamento, à mesa, empresário e ex-assessor do Ministério da Saúde, Airton Antonio Soligo, conhecido como Airton Cascavel
    Foto: Pedro França/Agência Senado

    (Com informações de Gabriela Coelho, da CNN, em Brasília, e Renato Barcellos, da CNN, em São Paulo)

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