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    À CPI, Otávio Fakhoury nega financiar fake news e atos recentes pró-Bolsonaro

    Segundo documentos obtidos pela comissão, ele teria financiado canais que espalharam notícias falsas durante a pandemia

    Bia GurgelGiovanna GalvaniDouglas Portoda CNN* , em Brasília e São Paulo

    A CPI da Pandemia recebeu nesta quinta-feira (30) o empresário Otávio Fakhoury, convocado por suspeita de ter financiado veículos propagadores de fake news sobre a Covid-19. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli atendeu à defesa de Fakhoury e lhe concedeu o direito de permanecer em silêncio para não se autoincriminar. A Corte também garantiu que ele não fosse preso durante o depoimento.

    O empresário negou as acusações e disse que deu apenas um “aporte inicial” ao Instituto Força Brasil, do qual é apontado como vice-presidente.

    O Instituto teria sido responsável por reunir representantes da Davatti Medical Supply e do Ministério da Saúde, mas Fakhoury afirmou que não participou do processo. A CPI investiga a denúncia de um representante da Davati, que afirma que Roberto Ferreita Dias, ex-diretor de Logística da Saúde, havia pedido propina nas negociações das doses da AstraZeneca então ofertadas.

    Questionado sobre seu papel em financiar atos pró-Bolsonaro nos últimos meses, Otávio Fakhoury negou e disse ter participado ativamente como financiador de movimentos do gênero apenas até 2019.

    Ao longo do depoimento, o empresário também fez comentários com afirmações consideradas falsas acerca da vacinação contra a Covid-19 e sobre medidas restritivas, o que gerou embate entre os senadores da comissão.

    Durante a sessão foram aprovados requerimentos sobre os próximos depoimentos da CPI. O primeiro para o diretor-presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Paulo Roberto Vanderlei Rebello Filho, prestar depoimento para esclarecer as ações da entidade frente à pandemia, e após às denúncias envolvendo a Prevent Senior. O segundo para George Joppert Netto e Andressa Fernandes Joppert, dois ex-médicos da operadora de saúde.

    Acompanhe os destaques da CPI

    Otávio Fakhoury diz que deu “aporte inicial” ao Instituto Força Brasil, mas não participa de gestão

    O depoente foi questionado por Renan Calheiros sobre pagamentos feitos a grupos que, segundo a CPI, também agiram como propagadores de informações falsas sobre a pandemia.

    Depois, Fakhoury respondeu sobre sua relação com o Instituto Força Brasil, a organização responsável por apresentar representantes da Davatti Medical Supply ao Ministério da Saúde.

    “O coronel Helcio [Bruno] me procurou. Ele queria formalizar o instituto, me apresentou e eu me comprometi a fazer um aporte inicial para que ele ficasse operante”, declarou. O empresário ainda disse não participar de “atos de gestão no instituto”.

    Otávio Fakhoury diz que financiou manifestações pró-Bolsonaro até 2019

    Otávio Fakhoury afirmou à CPI da Pandemia que não financia atos pró-Bolsonaro desde 2019, ano em que resolveu apoiar o presidente nas campanhas pela reforma da Previdência.

    Segundo o depoente, ele atua em atos desde 2014, quando surgiram movimentos pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).

    No entanto, durante a pandemia, ele não teria participado financeiramente de outros atos do gênero.

    Senadores discutem sobre informações falsas levantadas pelo depoente

    A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) solicitou à presidência da CPI que, a cada fala considerada “negacionista” do depoente, o presidente da mesa advertisse e informasse “a população sobre as medidas sanitárias e de proteção contra a Covid-19”.

    Para ela, não se pode admitir declarações contrárias ao uso de máscara e favoráveis a medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. A senadora ressaltou que a comissão é transmitida para todo o Brasil.

    O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou que a ressalva seria feita “toda vez que estiverem sendo emitidas informações que não sejam baseadas na ciência e na OMS”.

    No entanto, o posicionamento não foi unânime entre os senadores. Marcos Rogério (DEM-RO), que integra a base de defesa do governo na CPI, afirmou que não se poderia “censurar” o depoente.

    Já Eduardo Girão (Podemos-CE) afirmou que a comissão “tem que ter cuidado para não passar do ponto”, pois “ninguém é dono da verdade”.

    Fakhoury defende que a vacinação não seja obrigatória, diz que máscaras não funcionam e afirma que o faz pela “liberdade de expressão”

    Fakhoury se coloca contra vacinação obrigatória e uso de máscaras / Leopoldo Silva/Agência Senado

    Ao responder os primeiros questionamentos do relator Renan Calheiros (MDB-AL), o empresário Otávio Fakhoury disse não ter se vacinado, afirmou que não acredita na eficácia das máscaras e defende a não-obrigatoriedade da imunização contra a Covid-19.

    As afirmações do depoente são falsas, já que, segundo órgãos oficiais de proteção à saúde, tanto o uso de máscaras quanto a vacinação são comprovadamente eficazes na batalha contra a Covid-19.

    Calheiros questionou o depoente sobre publicações nas quais ele classifica a vacina Coronavac como “lixo”, ao que ele respondeu que era uma “conclusão pessoal baseada na liberdade de opinião”.

    O empresário negou estar alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesse tópico e disse não conhecê-lo pessoalmente. “Só sou favorável que [a vacinação] não seja obrigatória”, disse.

    Fakhoury também declarou ter tomado medicamentos do “kit Covid”, conjunto de medicamentos sem eficácia que frequentemente é recomendado por grupos bolsonaristas.

    Ao comentar a resposta do depoente, o senador Randolfe Rodrigues disse para os brasileiros “não ouvirem” o que ele dizia. “Sim, eu não sou médico. Ouçam um médico. Não me ouçam”, rebateu o depoente.

    Senador rebate ofensa homofóbica de Otávio Fakhoury nas redes

    No início do depoimento de Otávio Fakhoury, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) tomou a palavra para defender-se de uma ofensa homofóbica feita pelo depoente nas redes sociais.

    Uma publicação de Fakhoury no Twitter ironizou um erro gramatical do senador para, depois, insinuar que Contarato teria se “cativado” por algum outro parlamentar, destacando sua orientação sexual.

    “O senhor não é um adolescente. É casado, tem filhos. Sua família não é melhor do que a minha”, disse Contarato. “Não pensem que pra mim é fácil estar aqui e me expor. Que tipo de imagem eu vou deixar pros meus filhos? Que tipo de imagem o senhor enquanto pai deixa para os seus filhos?”, afirmou o senador.

    O depoente desculpou-se com Fabiano Contarato: “Realmente o meu comentário foi infeliz, em tom de brincadeira. Porém, é uma brincadeira de mau gosto. Declaro que meu comentário não teve a intenção de lhe ofender, e sei que, se ofendi, foi profundamente”, disse Otávio Fakhoury.

    Ao concluir sua fala, Contarato solicitou que a CPI remetesse a publicação exibida para análise da Polícia Legislativa, o que foi posteriormente feito pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

    O senador também solicitou que as informações fossem encaminhadas para o Ministério Público Federal para a apuração de um possível crime de homofobia.

    À CPI, empresário Otávio Fakhoury nega ser propagador de fake news

    Em sua fala inicial à CPI da Pandemia, o empresário Otávio Fakhoury negou que tenha financiado ou produzido notícias falsas relativas à pandemia e disse ter sido “injustamente” acusado de tais atos, motivos principais de sua convocação no Senado.

    Após traçar seu histórico profissional, Fahkoury disse que se via como alguém que acreditava na “liberdade de expressão” e que defendia que “conservadores e os cristãos devem ter voz na mídia e espaço para defenderem suas ideias, suas opiniões e suas perspectivas”.

    “Fui alvo de campanhas difamatórias, fui acusado injustamente e caluniado como propagador de fake news, sem jamais ter produzido uma única notícia falsa. Também injustamente acusado de financiador de discurso de ódio sem jamais ter pago por qualquer matéria ou notícia”, declarou.

    O depoente ainda afirmou que assumiu a presidência do diretório do PTB de São Paulo. “Aceitei o desafio. Estamos fazendo grandes e profundas mudanças. Os senhores devem estar acompanhando na mídia”, disse. O partido é dirigido por Roberto Jefferson, que se encontra preso no momento.

    Acusações contra Fahkoury

    O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou no requerimento de convocação que o empresário também financiou os canais Terça Livre e Brasil Paralelo, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e propagadores das informações sem comprovação científica.

    Para a CPI, os depósitos e supostos favores financeiros são verificados a partir de trocas de mensagens obtidas pela comissão por meio de quebras de sigilo.

    Em uma delas, Fakhoury recebe um pedido de Allan dos Santos, responsável pelo blog Terça Livre, para arcar com os honorários do advogado do blogueiro. O pedido, segundo a CPI, foi atendido.

    Em nota enviada à CNN, a Brasil Paralelo diz que as acusações de Randolfe “são falsas e não têm base em nenhum indício. “O sr. Otávio Fakhoury não é investidor e, muito menos, o principal investidor da Brasil Paralelo. Isso é uma mentira absoluta”, diz trecho do comunicado.

    O empresário também é investigado pelo inquérito das fake news, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF).

    *Com informações de Bárbara Baião e Rachel Vargas, da CNN, e da Agência Senado

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