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    Coronavírus zera sucessão presidencial

    O bolsonarismo caminhava com otimismo para a reeleição, mas crise deve fazer com que o jogo política recomece, novamente, do zero

    Caio Junqueirada CNN

    O maior impacto político da crise do coronavírus até agora foi o de zerar o jogo da sucessão presidencial. Até o final do ano passado, o bolsonarismo caminhava com otimismo e segurança para seu projeto reeleitoral. A perspectiva de crescimento do PIB para 2020 era de 2,5% e, a despeito da permanente instabilidade política entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, a ampliação do orçamento impositivo empoderou parlamentares e permitiu a irrigação de recursos em suas bases eleitorais.

    O ano de 2019 foi o de maior liberação de emendas parlamentares da história. Tudo isso fazia com que o jogo nos holofotes parecesse duro, mas nos bastidores, com dinheiro na mão, as pontas da engrenagem política não estavam de todas insatisfeitas. Para contribuir com o processo, a oposição se mantinha anódina.

    O coronavírus mudou tudo. O PIB caminha para ser negativo, o desemprego vai aumentar e as pessoas já estão morrendo. A descrença da população no plano de Bolsonaro para combater a epidemia é alta, conforme revelado em pesquisa exclusiva realizada pela consultoria Atlas Político para a CNN e divulgada na quinta-feira (18) pela manhã. Ela deixa claro que há questionamento sobre a forma como ele tenta liderar o processo e que ele não está convencendo a população de que tirará o Brasil de uma das mais graves crises da história do país. 

    Isso ocorre nem tanto pelas medidas que tem tomado, muitas delas bem vindas, mas pela forma como desdenhou dos efeitos do vírus antes que ele gerasse todo o efeito emocional que acomete o Brasil. Projetando 2022, é provável a exploração, pelos adversários, das falas presidenciais de que o coronavírus era uma “fantasia da imprensa”.

    Se quiserem subir o tom, basta mostrar as imagens dos enterros dos infectados pelo vírus, dos hospitais públicos abarrotados, da transformação, como se ventila, de hotéis e estádios em hospitais de campana e dos milhares de brasileiros nas filas de desempregados. A crise é grave e mete medo não apenas porque mata pessoas, mas porque retira delas a capacidade de trabalhar e de sustentarem as suas famílias. É, portanto, uma crise econômica.

    Bolsonaro corre para mostrar serviço e tomar as rédeas da crise, mas o passivo de conflitos que acumulou com outros entes políticos nos quinze meses de mandato cobra a fatura agora: cada um opera a seu modo. Um levantamento da consultoria Arko Advice divulgado no sábado (21) mostra que os estados já divulgaram 118 decretos para cuidar da crise.

    O balanço aponta que 25 estados já suspenderam suas aulas, 20 impuseram restrições de lazer, 20 declararam estado de emergência pública, 18 restringiram o comércio, 10 declararam estado de calamidade, 10 restringiram atividades legislativas e 8 instalaram gabinetes de crise. 

    Tudo isso sem que, em nenhum momento, o comando central tivesse sentado com os governos estaduais para tratar do assunto. Uma tentativa tardia de coordenar algo veio neste sábado, com uma edição extra do Diário Oficial da União, revelada em primeira mão pela CNN, que visa empoderar o governo federal. Prevê, por exemplo, que qualquer fechamento de divisas intermunicipais e interestaduais deva ser submetido a uma prévia avaliação da Anvisa. Também estabeleceu que o presidente indicará quais serviços públicos e bens essenciais poderão ser restritos ou não.    

    Menos de três horas depois, o presidenciável governador de São Paulo, João Doria, estava em rede nacional mais uma vez para anunciar a quarentena no estado mais populoso e mais rico do país. O fato de o epicentro da crise brasileira se dar nos dois maiores estados, São Paulo e Rio de Janeiro,  pesa e muito contra o presidente. Enquanto Brasília tardava a responder a crise, ambos se adiantavam a ela.

    Algo que, registre-se, até mesmo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, fez: foi o primeiro do país a suspender as aulas, medida criticada pelo governo federal, mas posteriormente seguida por outros 24 estados. 

    Em São Paulo, as análises internas do Palácio dos Bandeirantes corroboram a pesquisa da CNN e mostram também que o tucano tem ganhado simpatizantes na crise, o que, claro, ajuda a entender o motivo de todos os dias ele ir para a frente das câmeras. Ele é a cara da crise em São Paulo. Em Brasília, não é Bolsonaro, é o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que justamente por isso virou alvo de críticas do bolsonarismo em razão da sua exposição contínua (e obrigatória, tendo em vista seu cargo), à frente à população.

    Um erro crasso. O ministro cresceu na crise. Uma pesquisa também da Atlas Político publicada nesta semana pelo jornal Valor Econômico mostrou que 38% dos brasileiros têm imagem positiva dele e 23% negativa. Bolsonaro tem 42% positivas e 51% negativa. No Rio, reduto eleitoral da família Bolsonaro, Wilson Witzel, outro com ambições políticas nacionais, também tem conseguido ampliar seu espaço nacional com exposições diárias no noticiário nacional. 

    O futuro, por óbvio, é incerto. Bolsonaro tem muitos mais instrumentos e recursos na mão para esboçar uma reação do que qualquer outra pessoa no país, e já vem demonstrando isso pelas série de medidas que estão sendo anunciadas praticamente todos os dias por sua equipe. O prejuízo político e econômico poderá ser compartilhado por todos.

    Mas a diferença da forma como a largada do combate à crise se deu potencializou potenciais adversários que antes patinavam no jogo. Evidente que a prioridade é salvar as vidas e evitar a catástrofe, mas é nítido que o gestor que a população identificar como o grande condutor desta dura travessia chegará em 2022 com maiores condições de jogo.

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