Com adiamentos em série, TCU prolonga disputa entre Planalto e Centrão por comando de agências
Caso que analisa mandatos de presidentes de agências reguladoras foi pautado pela primeira vez em agosto de 2023
Pela sexta vez em menos de um ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) adiou o julgamento que pode abreviar os mandatos de cinco presidentes ou diretores-gerais de agências reguladoras, prolongando um embate que opõe o Palácio do Planalto a partidos que compõe o chamado Centrão.
Estão em jogo cargos de comando em setores regulados que movimentam dezenas de bilhões de reais por ano e exercem, naturalmente, interesse de grupos políticos por indicações.
O caso foi pautado pela primeira vez em agosto de 2023. Onze meses depois, os chefes das agências reguladoras ainda vivem um clima de indefinição sobre seus mandatos.
O imbróglio gira em torno da interpretação da Lei 13.848 de 2019 – a chamada Lei Geral das Agências. O texto estabelece que diretores dos órgãos reguladores têm mandato de cinco anos, no máximo, sem direito a recondução.
O julgamento envolve especificamente o caso do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) no fim de 2021. Ele tem mandato para a função até 2026.
A controvérsia ocorre quando se trata de alguém que já fazia parte da diretoria colegiada e foi posteriormente alçado à condição de diretor-geral ou presidente da mesma agência.
O relator do caso no TCU, ministro Walton Alencar, levou seu voto ao plenário em agosto do ano passado e sustentou a tese de que os mandatos não se somam. Com isso, Baigorri teria que deixar o cargo em 2025 – em vez de 2026.
“A permanência nos dois cargos – presidente e conselheiro – não pode ultrapassar o limite de cinco anos estabelecido na legislação”, afirmou.
Se a tese prevalecer, o limite de cinco anos faz com que também precisem sair imediatamente os seguintes presidentes ou diretores-gerais: Sandoval Feitosa na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Paulo Rebello na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Alex Muniz na Agência Nacional de Cinema (Ancine). Antônio Barra Torres teria que deixar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária em agosto deste ano.
O presidente do TCU, ministro Bruno Dantas, é defensor de uma definição imediata no processo. Na última sessão que discutiu o caso, no fim de junho, ele afirmou que a demora na análise pode gerar insegurança nos mandatos.
“Estamos tratando do prazo de mandatos de diretores de agências reguladoras, que precisam de tranquilidade para exercer o seu mister. Essa situação de insegurança na verdade se alastra para o setor regulado”, afirmou Dantas.
O Governo Federal e o Centrão, com visões diferentes, entraram em campo para defender seus objetivos.
Segundo relatos feitos à CNN, a Casa Civil pressiona os ministros para pautarem o caso. Isso porque, se for seguido o entendimento do relator, o governo teria espaço para indicar imediatamente três novos diretores, abrindo espaço para a nomeação imediata de nomes de confiança em cargos importantes do setor de regulação.
O Centrão, no entanto, foi quem intercedeu por tantos adiamentos. O centro foi responsável por indicar diversos desses nomes que podem perder os mandatos. É de interesse da ala que os mandatos sejam concluídos em sua totalidade.
Outra discussão é com relação às possíveis interpretações da Corte. Além do ponto de vista do relator, há outros dois entendimentos entre os ministros do TCU. Uma delas é simplesmente separar os mandatos de diretor e de presidente ou diretor-geral, sem considerá-los como a mesma parte de um mandato só. Assim, não haveria o limite de cinco anos.
Outra possibilidade é seguir o entendimento fixado por Walton Alencar, mas apenas daqui em diante. Para os mandatos em andamento, não haveria antecipação do término.
O argumento para isso é que, como esses presidentes ou diretores-gerais foram sabatinados e aprovados pelo Senado Federal, sua nomeação constitui ato jurídico perfeito.
O TCU não teria, conforme essa tese, autonomia para encurtar um mandato concedido pelo Executivo e ratificado pelo Senado.
A tendência é que o caso volte ao plenário no dia 31 de junho.