Cid vendeu Rolex e Wassef o recomprou para entregar ao TCU, diz PF
Inquérito aponta “organização criminosa” com pelos menos quatro envolvidos na compra e venda de objetos valiosos da União
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, vendeu por US$ 68 mil (cerca de R$ 346 mil pela cotação atual do dólar) um relógio Rolex que era da Presidência da República. É o que mostra investigação da Polícia Federal (PF).
Segundo a PF, a venda foi em junho do ano passado, nos Estados Unidos.
Os investigadores dizem que provas colhidas apontam que Mauro Cid viajou de Miami a Willow Grove, na Pensilvânia, para ir a uma loja de relógios e “efetivou a venda do relógio que integrava o kit ouro branco presenteado ao ex-presidente Jair Bolsonaro”.
VÍDEO: Mauro Cid teria levado mala com presentes para o pai, segundo PF
O kit foi presente da Arábia Saudita ao governo brasileiro em 2019.
Após a venda, sustenta a PF, Cid depositou o valor da venda na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid.
Uma troca de mensagens entre os dois também mostrou que o pai indicou ao filho qual conta deveria ser depositado o dinheiro em espécie.
Com a descoberta do caso e decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) determinando a inserção dos presentes ao governo brasileiro para a União, teria sido realizada uma “operação resgate” para reaver o relógio que havia sido vendido.
A investigação aponta que no dia 14 de março deste ano, o advogado voltou ao Brasil com o relógio e entregou a Mauro Cid.
O militar, então, devolveu a Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Bolsonaro, e, assim, foi reinserido no patrimônio da União.
Com base nessas provas colhidas, com pagamentos, mensagens trocadas, rastro do dinheiro e geolocalizações em Miami, a PF pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a autorização para cumprir os quatro mandados de busca e apreensão nas casas dos quatro envolvidos.
O objetivo é colher mais elementos para o inquérito.
O que diz a defesa de Bolsonaro
O advogado Fábio Wajngarten, que atua na defesa de Jair Bolsonaro, disse à CNN que ele e seus colegas do time jurídico do ex-presidente não sabiam da operação de recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos.
De acordo com Wajngarten, que foi secretário de comunicação do governo Bolsonaro, ele estava dando uma orientação jurídica a Cid sobre como proceder, mas desconhecia o paradeiro das joias.
“A defesa não sabia. Eu estava ali para orientá-los a se antecipar a uma decisão que o TCU tomaria, pegar as joias e entregar. Só isso. Eu não sabia onde elas estavam”, afirmou à CNN.
Questionado o motivo de não ter perguntado o paradeiro das joias, Wajngarten afirmou que não cabia a ele essa pergunta naquele momento.
A CNN aguarda posicionamentos dos demais envolvidos.