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    PF aponta que bens foram extraviados por avião presidencial de Bolsonaro em 30 de dezembro

    Mauro Cid levou presentes recebidos pelo governo na viagem para os Estados Unidos no fim do ano passado

    Léo Lopesda CNN , em São Paulo

    A Polícia Federal (PF) apontou que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid levou para os Estados Unidos presentes recebidos pelo Estado brasileiro com a intenção de vendê-los.

    Ele levou os objetos no mesmo avião presidencial em que viajou para Orlando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 30 de dezembro do ano passado, na véspera do fim de seu mandato.

    Nesta sexta-feira (11), a PF iniciou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em uma investigação sobre “utilização da estrutura do Estado brasileiro para desviar e vender bens de alto valor patrimonial entregues de presente por autoridades estrangeiras em missões oficiais”.

    VÍDEO: Mauro Cid teria levado mala com presentes para o pai, segundo PF

    Entre os alvos, além de Mauro Cid, estão seu pai, general Mauro César Cid, o ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, e o ex-assessor especial da Presidência, Osmar Crivelatti. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

    Durante a investigação, ao obter as mensagens por aplicativo de mensagem no celular de Mauro Cid, a PF mostrou como o ex-ajudante de ordens levou uma mala com presentes recebidos pelo Estado brasileiro na mesma viagem no final de mandato na qual Bolsonaro foi para Orlando, nos EUA, onde permaneceu por três meses.

    Os presentes em questão são duas esculturas. Uma miniatura dourada de uma palmeira, presenteada ao Brasil pelo Bahrein, e uma escultura dourada de um barco, semelhante a um presente ofertado pelo Kuwait à Câmara dos Deputados, em 1995, mas cuja procedência não foi identificada pela PF.

    No mesmo relatório, a PF cita que Cid pediu US$ 25 mil “em cash” para entregar para Bolsonaro. Ele também demonstrou receio de utilizar o sistema financeiro.

    Escultura de palmeira e de barco presenteados ao Brasil. Mauro Cid tentou vendê-los nos EUA, mas não conseguiu porque não eram de ouro, apontou PF.
    Escultura de palmeira e de barco presenteados ao Brasil. Mauro Cid tentou vendê-los nos EUA, mas não conseguiu porque não eram de ouro, apontou PF. / Reprodução

    “Os elementos colhidos evidenciaram que as esculturas foram evadidas do Brasil, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30 de dezembro de 2022. Em seguida, com auxílio de seu pai, o General Mauro Cesar Lourena Cid, Mauro Cid encaminhou os bens para vários estabelecimentos especializados nos Estados Unidos, para avaliação e tentativa de venda”, detalharam os policiais investigadores em trecho da decisão de Moraes.

    Segundo os investigadores, a venda dos itens desviados do patrimônio público foi frustrada porque “os bens não possuíam o valor patrimonial esperado pelos investigados”.

    Essa hipótese dos policiais foi reforçada por uma mensagem enviada por Mauro Cid ao ex-assessor da Presidência, Marcelo Camara, em 1º de março deste ano, quando Bolsonaro ainda estava nos EUA. No áudio, Cid explica o porquê do ex-presidente não ter pegado as esculturas.

    VÍDEO: Rolex vendido foi recuperado por Wassef e devolvido a Mauro Cid, segundo PF

    “Não. Ele não pegou porque não valia nada. Então tem […] aqueles dois maiores: não valem nada. É, é… não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai, vai levar pro Brasil na mudança […]”, disse o ex-ajudante de ordens.

    A PF destacou que, apesar do baixo valor material, os objetos teriam “valor histórico-cultural para o Estado brasileiro, considerando o contexto diplomático e respeito aos países que presentearam o Brasil”.

    A PF apontou que os presentes teriam sido recebidos pelo Brasil durante o Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Bahrein, em novembro de 2021.

    VÍDEO: PF apura se Cid teria vendido e recomprado Rolex presentado pela Arábia Saudita

    “Na página da Organização das Nações Unidas (ONU) há uma palmeira que, assim como a escultura do evento, foi presenteado pelo Bahrein. O destaque dado pela ONU ao presente demonstra a sua importância. Com relação à escultura do barco, foram encontradas notícias em fontes abertas que mostram a existência de uma escultura semelhante na Câmara dos Deputados do Brasil. Neste caso, o presente foi ofertado pelo Comitê para os Detidos, Desaparecidos e o Bem-estar das Famílias dos Mártires do Estado do Kuwait ao Deputado Luís Eduardo, Presidente da Câmara dos Deputados, em 5/9/1995”, escreveram os policiais.

    Eles afirmam que os bens não constam nos registros do acervo museológico do acervo privado do ex-presidente Jair Bolsonaro.

    “Assim, concluiu a Polícia Federal que há indícios de que as esculturas possam ter sido desviadas do patrimônio público, sem sequer terem sido submetidas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica – GADH para avaliação de decisão a quanto a destinação ao acervo público brasileiro ou privado do ex-presidente”, concluíram os investigadores.

    CNN tenta contato com a defesa de Mauro Cid e aguarda retorno.

    O que diz a defesa de Bolsonaro

    O advogado Fábio Wajngarten, que atua na defesa de Jair Bolsonaro, disse à CNN que ele e seus colegas do time jurídico do ex-presidente não sabiam da operação de recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos.

    De acordo com Wajngarten, que foi secretário de comunicação do governo Bolsonaro, ele estava dando uma orientação jurídica a Cid sobre como proceder, mas desconhecia o paradeiro das joias.

    “A defesa não sabia. Eu estava ali para orientá-los a se antecipar a uma decisão que o TCU tomaria, pegar as joias e entregar. Só isso. Eu não sabia onde elas estavam”, afirmou à CNN.

    Questionado o motivo de não ter perguntado o paradeiro das joias, Wajngarten afirmou que não cabia a ele essa pergunta naquele momento.

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