Cid delatou reunião em que se cogitou instalação de estado de sítio
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou que, na ocasião, "não tinha nada específico, ainda detalhando o que se ia fazer"
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, afirmou em delação premiada o que seriam as conversas iniciais em que se aventou a decretação do Estado de Sítio no país após a eleição presidencial de 2022, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A conversa teria ocorrido, de acordo com a delação, na casa do general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro, no dia 12 de novembro de 2022.
O tom da reunião, disse Cid, foi no sentido de que algo tinha que ser feito para estimular uma uma “mobilização de massa”.
“A conversa foi nesse nível: nós temos que fazer alguma coisa para que haja uma mobilização de massa, que haja alguma ação que tenha repercussão, que faça o Exército ter que fazer alguma coisa, tenha que decretar estado de sítio”, contou o ex-ajudante de ordens.
De acordo com Cid, os presentes no encontro queriam fazer com que os generais entendessem a “necessidade” do presidente assinar “alguma coisa”.
No entanto, na delação, ele afirmou que ainda não havia “nada específico”.
“Mas tudo assim, sem saber o que fazer. Não tinha nada específico, ainda detalhado do que se ia fazer”, ressaltou.
A partir daí, começaram a ventilar possibilidades. Dentre elas, o ex-ajudante de ordens apontou: “vamos mobilizar os caminhoneiros, parar o país… não, vamos bloquear estrada. Então, ideias que podiam ser feitas”, relatou.
Foi nesse momento que, de acordo com Cid, o general Braga Netto justificou que seria melhor que o ex-ajudante de ordens não participasse do planejamento, “porque ele está muito próximo ao Bolsonaro”.
“E foi aí que eu fiquei, tanto que a própria Polícia Federal… eu saí mais cedo, fiquei 20, 30 minutos do período inicial, saí da reunião e voltei pro Alvorada”, afirmou.
Primeiro contato com o assunto veio antes
Cid afirmou também ter sido contatado para conversar sobre o planejamento do “Punhal Verde e Amarelo”, envolvendo o golpe, entre os dias 9 e 11 de novembro de 2022.
Ele disse ter sido procurado pelos coronel “de Oliveira” e “Ferreira Lima”, que expressaram “indignação com o que estava acontecendo no país, que alguma coisa tinha que ser feita”.
Bolsonaro nega
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já negou anteriormente ter participado de discussões para um golpe de Estado no país, após a eleição de 2022.
“Não levei para frente. Até para estado de defesa. Não convoquei ninguém e não assinei papel. Eu procurei saber se existia alguma maneira na Constituição para resolver o problema. Não teve como resolver, descartou-se”, disse o ex-presidente em novembro do ano passado.