Em áudio obtido pela PF, Cid cita US$ 25 mil “em cash” para Bolsonaro e receio de utilizar sistema bancário
General Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, foi alvo de operação da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (11), assim como seu filho
Em áudio obtido durante investigação da Polícia Federal (PF), o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid diz que seu pai, Mauro Lourena Cid, estaria em posse de US$ 25 mil, o equivalente a pouco mais de R$ 122 mil.
O dinheiro supostamente pertencia ao ex-presidente e deveria ser entregue em espécie para evitar movimentações em contas bancárias.
No áudio, enviado para Marcelo Camara, então assessor de Bolsonaro, Cid diz:
E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta […]. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”]Tem 25 mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente […] E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta […]. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?
””
Em resposta, Camara reforçou o receio de utilizar o sistema bancário e disse: “Melhor trazer em cachê [sic]”.
Venda de presentes do governo federal
No mesmo áudio, Cid também fala para Marcelo Camara sobre a tentativa de vender duas esculturas douradas, recebidas pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) como presente ao governo federal, no encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Reino do Bahrein, em novembro de 2021.
Ele teria levado os objetos no mesmo avião em que viajou para Orlando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 30 de dezembro do ano passado, na véspera do fim de seu mandato.
Cid relata que estava tendo dificuldades em vender as esculturas, pois elas não teriam o valor esperado.
Ele diz: “Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro […] Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar […] eu preciso deixar a peça lá […] pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje.”
A operação iniciada pela PF nesta sexta-feira (11), que teve como alvo Mauro Cid e seu pai, investiga a “utilização da estrutura do Estado brasileiro para desviar e vender bens de alto valor patrimonial entregues de presente por autoridades estrangeiras em missões oficiais”.
Veja também: Cid diz que Bolsonaro não levou escultura porque era latão
Joias sauditas à venda em leilão
Ainda no áudio, Cid cita um “kit”. Ele se refere a um dos estojos de joias recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita em 2021. O estojo também foi colocado à venda por US$ 120 mil em um site de leilão dos Estados Unidos em fevereiro deste ano.
Segundo a investigação da PF, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) só foi capaz de devolver as joias ao Estado brasileiro no fim de março, após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), pois elas não haviam sido arrematadas ainda.
A PF aponta que o kit de joias masculinas, composto por uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (masbaha) e um relógio, e chamado de “kit ouro rosé”, foi levado por Cid no mesmo avião em que viajou para Orlando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 30 de dezembro do ano passado, na véspera do fim de seu mandato.
Segundo a PF, “o kit foi submetido a leilão, mas não foi arrematado, não sendo vendido por circunstâncias alheias à vontade dos investigados”.
A investigação também mostra que Mauro Cid, junto a outros aliados do ex-presidente, organizaram uma “operação de resgate” para que as joias fossem encaminhadas para a cidade de Orlando, na Flórida, onde Bolsonaro residia no momento, depois que a imprensa brasileira passou a noticiar a existência das joias dadas pela Arábia Saudita.
Após a decisão do Tribunal de Contas da União, que definiu que o kit de joias sauditas deveria ser entregue em uma agência da Caixa Econômica Federal, os itens foram enviados ao Brasil e devolvidos em 24 de março deste ano.
A CNN tenta contato com as defesas de Mauro Lourena Cid e Mauro Cid e aguarda retorno.
O que diz a defesa de Bolsonaro
O advogado Fábio Wajngarten, que atua na defesa de Jair Bolsonaro, disse à CNN que ele e seus colegas do time jurídico do ex-presidente não sabiam da operação de recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos.
De acordo com Wajngarten, que foi secretário de comunicação do governo Bolsonaro, ele estava dando uma orientação jurídica a Cid sobre como proceder, mas desconhecia o paradeiro das joias.
“A defesa não sabia. Eu estava ali para orientá-los a se antecipar a uma decisão que o TCU tomaria, pegar as joias e entregar. Só isso. Eu não sabia onde elas estavam”, afirmou à CNN.
Questionado o motivo de não ter perguntado o paradeiro das joias, Wajngarten afirmou que não cabia a ele essa pergunta naquele momento.