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    Câmara gastou mais de R$ 100 mil com viagem de bolsonaristas para evento da direita na Europa

    Deputados têm feito viagens para denunciar suposta perseguição e censura política; grupo criticou decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF

    Emilly BehnkeJussara Soaresda CNN

    Brasília

    A Câmara de Deputados gastou R$ 104 mil para financiar a viagem de seis deputados bolsonaristas a encontros da direita no Parlamento Europeu em Bruxelas, capital da Bélgica, entre os dias 8 e 14 deste mês.

    Nos eventos, registrados nas redes sociais, os congressistas fazem críticas a Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Bolsonaristas têm se articulado com representantes da direita de várias partes do mundo para propagar uma suposta perseguição política e censura à oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT).

    Nesta semana, o Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos Estados Unidos divulgou decisões sigilosas de Moraes, relacionadas à moderação e remoção de conteúdos publicados em redes sociais por pessoas investigadas pelo STF. O caso vem sendo explorado pela oposição no Congresso brasileiro.

    De acordo com os dados disponíveis no site da Câmara, o valor foi gasto com passagens aéreas e diárias. Entre os deputados que receberam a ajuda de custo, estão Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Julia Zanatta (PL-SC), Gustavo Gayer (PL-GO) e Marcos Pollon (PL-MS). Veja detalhes abaixo.

    Os deputados Ricardo Salles (PL-SP) e Coronel Ulysses (PL-AC), embora tenham viajado, não constam despesas em nome deles. Segundo a CNN apurou, Salles fez a viagem sem ônus – ou seja sem pedir reembolso.

    Na visita, em discurso de 20 minutos, feito em inglês, Eduardo Bolsonaro afirmou que o uso “inconstitucional” do Supremo Tribunal Federal busca acabar com a oposição a Lula no Brasil. Ele falou sobre o assunto ao comentar perfis bloqueados no X (antigo Twitter) por decisões judiciais de Moraes.

    “Essa narrativa não se sustenta. As coisas ficam piores quando analisamos as razões por que esses perfis foram bloqueados. A intenção é esmagar a oposição no Brasil com o uso inconstitucional do Supremo Tribunal Federal”, disse Eduardo.

    Em vídeo gravado pela deputada Bia Kicis, o deputado Gustavo Gayer diz que a ida para Bruxelas é a continuidade de uma viagem feita anteriormente por deputados bolsonaristas a Washington, nos Estados Unidos, em março.

    O objetivo também era o mesmo: denunciar uma suposta censura e perseguição política. Não há registros no site da Câmara de gastos com essa missão.

    “A gente começou nos Estados Unidos onde a gente foi falar com alguns parlamentares, algumas entidades americanas, divulgando o que está acontecendo no Brasil. As violações dos direitos humanos, perseguição política e agora vamos levar a mesma mensagem na Europa. E se precisar no mundo inteiro”, disse Gayer

    Gayer afirmou que o país está “se debandando” para o autoritarismo e mencionou “atropelos constitucionais” de Moraes.

    Gastos

    A justificativa para a missão oficial dos deputados foi registrada como “reunião de grupo de parlamentares europeus e latino-americanos, entre outras atividades no Parlamento Europeu”. Procurada sobre as despesas custeadas, a Câmara dos Deputados não retornou.

    Leia o detalhamentos dos gastos:

    Bia Kicis: R$ 15.953,62 em passagens e R$ 9.938,16 em diárias;
    Eduardo Bolsonaro: R$ 15.935,06 em passagens e R$ 10.015,20 em diárias;
    Gustavo Gayer: R$ 9.938,16 em diárias;
    Julia Zanatta: R$ 11.912,82 em passagens e R$ 9.938,16 em diárias;
    Marcel van Hattem: R$ 11.140,86 em passagens (viagem foi cancelada);
    Marcos Pollon: R$ 9.938,16 em diárias.

    Pelo Regimento Interno da Casa, os deputados podem solicitar a autorização para Missão Oficial Internacional com ou sem ônus para a Câmara dos Deputados. As autorizações passam pela Presidência da Câmara.

    Podem ser bancadas passagens e diárias, que têm valor fixo: US$ 391 para missões na América do Sul e US$ 428 para demais países.

    Posicionamento dos deputados

    A CNN procurou todos os deputados citados. A deputada Bia Kicis afirmou que os gastos são “decorrentes de missão oficial e cumprem os requisitos da Câmara dos Deputados”.

    Sobre os gastos e as atividades realizadas na viagem, a deputada Julia Zanatta afirmou: “Tem coisas que não têm preço, têm valor e uma delas é a defesa da democracia”.

    A planilha aponta um custo de R$ 11.140,86 com compra de passagens para Marcel van Hattem (Novo-RS), mas o deputado não viajou. Em nota à CNN, a assessoria do parlamentar disse que o reembolso foi solicitado pelo parlamentar ainda antes da partida do voo.

    “O deputado não participou desta missão. A passagem foi emitida em tarifa full, como o deputado sempre costuma fazer, para que seja feito reembolso integral do valor em caso de imprevisto”, informa.

    Os demais parlamentares ainda não retornaram.