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    Brasil faz promessas na Cúpula do Clima após deixar de lado Acordo de Paris

    Metas de diminuição de desmatamento e queimadas foram assinadas em 2015; entre janeiro e dezembro do ano passado, a Amazônia perdeu 8.058 km² de área verde

    Adriana Freitas, da CNN, no Rio de Janeiro

    Enquanto o presidente Jair Bolsonaro faz promessas para alcançar a meta de neutralidade de carbono em 2050, na Cúpula dos Líderes sobre o Clima, os compromissos assinados no Acordo de Paris, em vigor há seis anos, não figuram nas estatísticas do País.

    Isso porque o Brasil assinou em 2015, entre outras intenções, que diminuiria o desmatamento, as queimadas e que restauraria 12 milhões de hectares. 

    No entanto, o ano de 2020 registrou um recorde no desmatamento na Amazônia, como mostram os dados do Imazon. Entre janeiro e dezembro do ano passado, a floresta perdeu 8.058 km² de área verde. Foi a maior perda florestal dos últimos dez anos.

    Além disso, o ano passado teve o maior número de focos de queimadas em uma década, de acordo com o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

    A especialista em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, Renata Camargo, lembra que faltam apenas quatro anos para o país honrar a meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 37% (comparados aos níveis emitidos em 2005), estendendo para 43% até 2030.

    Para ela, o discurso de Bolsonaro apresentado na Cúpula do Clima, nesta quinta-feira  (22) está descolado da realidade.

    “Desde 2019, o Brasil sofre um processo contínuo de desmantelamento de políticas públicas direcionadas à preservação do meio ambiente. A equipe do governo Bolsonaro parece agir em direção contrária aos interesses nacionais e de conservação do Meio Ambiente. Há uma  clara diminuição de fiscalização e desarticulação dos órgãos ambientais que atuam no combate às ilegalidades”, analisou.

    Renata Camargo vê o indicativo de neutralidade climática – ou seja, emissões líquidas nulas – para 2050, como apenas uma tentativa de alinhar o Brasil aos esforços globais feitos por outros países e mesmo por empresas.

    “O presidente Jair Bolsonaro não apresentou metas mais ambiciosas, como é esperado, ele apenas reiterou as metas climáticas no âmbito do Acordo de Paris. É preciso considerar que estamos em um estado de emergência climática”.

    Fogo na Amazônia
    Fogo na reserva extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho (RO), em agosto
    Foto: Christian Braga/Greepeace

    A rede WWF faz ainda a ressalva de que o Brasil tem R$ 2,9 bilhões parados há dois anos do Fundo da Amazônia, “marcando um congelamento de bilhões para cerca de 40 projetos ambientais”. Renata lembra das duas ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) exigindo a retomada imediata não só do Fundo Amazônia, como também do Fundo Clima.

    “Esses são importantes mecanismos financeiros da política nacional de mudança climáticas pelos quais era possível doações estrangeiras para auxiliar na proteção da Amazônia. Desde 2019, o Governo Federal dissolveu dois comitês do Fundo Amazônia sob alegações jamais comprovadas de que os contratos com ONGs tinham indicativo de irregularidades”, destacou. 

    Já o pesquisador Décio Rodrigues, do ClimaInfo, se mostra descrente com a possibilidade de o Brasil se beneficiar da grande novidade da Cúpula dos Líderes sobre o Clima: o financiamento que permitirá a execução das metas de redução de emissões. 

    “A partir de agora, os projetos precisam ser apresentados e o Brasil vai disputar com as demais propostas de países com florestas tropicais. Ganha a melhor, mais consistente e confiável. E a gente volta à questão defendida pelo Governo Federal de que o país pode ganhar US$ 100 bilhões em crédito de carbono, de acordo com o artigo do Acordo de Paris. Mas empresas e nações só fecharão negócio se houver credibilidade e confiança”, ressalta.

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