Bolsonaro e Forças Armadas não anseiam ruptura institucional, diz Mourão
Vice-presidente defende que governo afaste extremos e procure adotar postura de 'mais harmonia' com poderes
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou nesta segunda-feira (22), em entrevista exclusiva à CNN, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “não tem o anseio mínimo de fazer uma ruptura institucional no nosso país” e que esse comprometimento é compartilhado pelas Forças Armadas.
“Em primeiro lugar, o presidente não tem o anseio mínimo de fazer uma ruptura institucional no nosso país, porque as instituições estão bem. O que há, no nosso país, é uma instabilidade emocional. As pessoas estão muito desacerbadas nas suas ideias, nas suas discussões. As Forças Armadas estão afastadas de qualquer ação dessa natureza, mas tenho que deixar claro que o presidente não tem essa visão em momento nenhum”, disse o vice-presidente.
General da reserva, Mourão colocou que as Forças Armadas obedecem à Constituição e estão afastadas da política desde o fim da ditadura militar. “A questão das Forças Armadas, elas têm permanecido como foi nos últimos 35 anos, mantendo-se na hierarquia, na disciplina, cumprindo as suas missões constitucionais, são inúmeras”.
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Instituições
O vice-presidente vê uma “parcela de responsabilidade” do governo na atual crise, colocando que o Executivo tem que “buscar mais harmonia”. “Temos que deixar de levarmos as ideias a um nível tão de confronto que não haja retorno”, colocou.
Mourão, no entanto, ponderou que considera que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha se excedido e que a Corte deveria se omitir sobre temas que são prerrogativas do Poder Executivo.
“Eu tenho discordado de algumas medidas que o Judiciário tem tomado, em particular o nosso Supremo Tribunal Federal”, disse o vice, elencando a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal e da expulsão de diplomatas venezuelanos.
Mourão também disse discordar da forma como é conduzido o inquérito das fake news. “Na minha visão, não acompanha o devido processo legal”, disse. “Eu como vice-presidente, se eu me sentir ofendido, eu vou na polícia, abro um boletim de ocorrência, aí vai ser acompanhado pelo Ministério Público. Se tiver crime, vão oferecer denúncia, aí o juiz vê se aceita e segue o devido processo legal. Acho que os ministros do STF também deveriam fazer dessa forma”, argumentou.
Extremos
O vice-presidente da República fez uma análise do que acredita ser esse ambiente de “instabilidade emocional” coletiva, que vê como um panorama global derivado da crise econômica mundial de 2008. Na visão de Mourão, a melhor forma de conter a polarização é “afastar os extremos” e “reunir o centro”.
Isso significa, segundo o vice, afastar os grupos mais “extremados” tanto a esquerda quanto da própria direita. “Meu anseio é que a gente consiga afastar os extremos dessa polarização, tanto a direita mais extremada quanto o pessoal da esquerda mais extremada, e conseguir reunir o centro, que é a grande massa, daqueles que conseguem sentar em uma mesa e, mesmo tendo ideias discordantes, conseguem chegar a um senso comum. Acho que, se a gente conseguir fazer isso daqui pra frente, nós teremos muito sucesso”, afirmou.
O vice-presidente comparou o momento global atual com o período que compreende as duas grandes guerras mundiais, entre 1914 e 1945. “Compete a nós, que temos responsabilidade de liderança, conduzir a população da forma mais organizada possível, desfazendo os temores, desfazendo os medos e buscando, então, colocar a bola no chão e tratar as coisas com a devida seriedade e a maior naturalidade possível”, coloca.
Bolsonaro
Mourão afirmou que a sua relação com o presidente Jair Bolsonaro é boa e que ele não se afeta com as críticas feitas pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). “Os filhos do presidente são maiores de idade e têm liberdade para se manifestar, eu não me incomodo com isso”.
“São pessoas que estão desinformadas. O meu relacionamento com o presidente da República se desenvolve da maneira que tanto eu quanto ele aprendemos nos nossos tempos de cadete na academia militar, que são os princípios da profissão que nós tivemos, ele por determinada parte da vida e eu por toda a minha vida, que é a lealdade, a camaradagem, o respeito mútuo e assim nós temos nos relacionado. Isso são manifestações de pessoas que talvez não entendam o que está acontecendo”, disse, tratando de forma geral de militantes que apontam descompasso entre ele e Bolsonaro.
O vice-presidente ainda negou existir qualquer pensamento sobre assumir a Presidência da República. “Nem passa pela minha cabeça. O nosso presidente se chama Jair Messias Bolsonaro. Seu primeiro governo vai até 2022 e se assim o povo brasileiro quiser, ele pode continuar até 2026”, disse.
Queiroz
Para Hamilton Mourão, a posição do governo sobre a investigação que prendeu Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é a manifestada pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado. “Esse é um caso que o presidente Bolsonaro se manifestou desde o começo do ano passado e deixou muito claro, que quem errou vai ter que pagar”, disse.
Mourão disse não temer uma eventual delação premiada de Queiroz e disse que o caso “não tem condições” de chegar a afetar o Palácio do Planalto, sendo “uma questão circunscrita à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro”.
O vice-presidente ainda registrou a sua relação pessoal com o ex-assessor, afirmando que Queiroz foi seu soldado no Exército em 1987, onde tinha boa atuação. Mourão disse que ficou mais de trinta anos sem encontrá-lo e que o reencontro aconteceu durante a campanha de 2018, quando o policial reformado acompanhava Flávio Bolsonaro como assessor.
A respeito da prisão de Queiroz na casa do advogado de Flávio em Atibaia (SP), o vice-presidente afirmou que “Queiroz não era foragido, não era procurado, não era nada”. “É um processo que está ocorrendo, então vamos aguardar” concluiu.
TSE
Mourão disse não temer as ações que tramitam contra a sua chapa ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que foi eleita em 2018. O vice-presidente também disse não se opor a possibilidade do compartilhamento de provas coletadas no chamado “inquérito das fake news” com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Estou absolutamente tranquilo com o processo da chapa e a forma como foi conduzida a nossa campanha. O tribunal vai analisar isso à luz da legislação e vai soterrar essas denúncias”, afirmou.
(Edição: André Rigue)