Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Às lágrimas, deputada estadual de SP denuncia racismo em plenário; veja vídeo

    "Eu não gostaria de estar chorando aqui agora", desabafou Thainara Faria, parlamentar da Alesp, nesta sexta-feira (31)

    Deputada estadual Thainara Faria (PT) denuncia racismo de servidora
    Deputada estadual Thainara Faria (PT) denuncia racismo de servidora Rede Alesp

    Salma FreuaManoela Carluccida CNN

    São Paulo

    A deputada estadual Thainara Faria (PT) disse ter sido vítima de racismo, nesta sexta-feira (31), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A parlamentar denunciou o caso em plenário. Em nota, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), solidarizou-se com a colega e disse ter tomado providências sobre o assunto.

    De acordo com a deputada, após participar da entrega do “Prêmio Theodosina Rosário Ribeiro”, proposto pela deputada Leci Brandão (PCdoB), uma servidora tentou impedir que ela assinasse a lista de presença de deputados.

    “Eu passei três horas numa solenidade belíssima da deputada Leci Brandão, sentada aqui, com a placa escrita ‘deputada Thainara Faria’. Quando eu desci da mesa e fui assinar os livros, a servidora falou: ‘não, esses livros são só para os deputados’. Eu mostrei o bottom para ela, assinei o livro, e fui dar entrevista para a TV Alesp. Quando eu virei para dar entrevista para a TV Alesp, eu que tenho o tato, o olfato e a audição muito apurados, ouvi ela reclamando para outra servidora: ‘é difícil'”, iniciou o relato.

    “Dei entrevista, voltei, e falei para ela: é difícil todos os dias nesta Casa ser confudida”, acrescentou.

    A deputada disse que se desdobrou para estar com identificação especialmente no dia de hoje, por estar de tranças. “Hoje, por estar de trança, e por ter esquecido o meu bottom na minha casa, eu pedi para que minhas assessoras pedissem outro bottom para que eu não fosse confundida. Negaram o bottom primeiro e disseram ‘não, a deputada já tem. Nós temos poucos bottons de deputada, porque tem muita deputada agora’. Mesmo assim, deram o bottom”, contou em plenário.

    Ela afirmou que relatou esse incoveniente à servidora. “Nós procuramos vocês hoje para que fosse garantido meu bottom para que eu não precisasse passar racismo e vocês negaram esse bottom. Porque não estão acostumados com uma mulher preta, jovem, de 28 anos, circulando por essa casa. E eu sabia que por estar de trança eu seria confundida, eu queria evitar esse tipo de situação”, disse à ela.

    “Eu não gostaria de estar chorando aqui agora, mas a questão é que dói muito. Toda hora sofrer racismo. Quando não dói, ele mata, gente. E eu não quero que mais ninguém passe por isso”, continuou o desabafo em plenário.

    “E a servidora então disse: ‘é que a senhora é nova e a gente não aprendeu ainda quem são os deputados’. Eu quero mostrar para a sociedade paulista o ‘carômetro'”, disse, enquanto mostrava um papel com as fotos individuais dos parlamentares.

    “Todos os deputados novos estão aqui há muito tempo. Não tem como ficar confundindo. Todos nós estamos aqui. Não tem por que me barrar nos espaços. Não tem por que impedir que eu assine um livro com o peso de uma mão de 91.388 votos do povo de São Paulo”, disse, às lágrimas.

    “E aí, eles acham que é mimimi. Mas eu não posso voltar com essa dor e esse constrangimento para casa. Este constrangimento tem que ser da servidora e de todas as racistas e os racistas deste país. Chega de tratar nós, pretos e pretas, como escória da sociedade. Muitos desses servidores são os que passam reto das mulheres da faxina que em sua maioria são mulheres pretas. Muitos servidores não aceitam que eu esteja aqui sendo a voz do estado de São Paulo”, completou.

    A deputada elogiou o tratamento recebido por outras pessoas: “Faço um parêntesis para todas as pessoas que me trataram bem nessa casa, inclusive, muito surpreendida pela postura dos policiais e das policiais que estão extremamente respeitosos comigo. Agradeço. Mas eu não posso deixar mais uma situação como essa”.

    No Instagram, a deputada também publicou um vídeo sobre o assunto. “Eu vou perguntar para vocês: isso foi um mal entendido? Hoje de manhã eu fui pegar esse bottom aqui que a gente usa, justamente pra identificar que a gente é deputada exatamente por causa disso. Eu justamente não queria passar por esse racismo por causa da trança, por conta de estar circulando nessa casa fora dos padrões. Isso não é mal entendido gente, isso é racismo puro e o pior tipo de racismo que existe, que é o estrutural”, disse na rede social.

    Posicionamento da Alesp

    O presidente da Assembleia, André do Prado (PL), solidarizou-se com a deputada Thainara Faria. “De imediato, o presidente determinou providências ao secretário-geral Parlamentar, que substituiu a funcionária pública envolvida no episódio. O caso será avaliado em âmbito administrativo”, disse, em nota.

    Outros casos de racismo

    A deputada relatou ter sofrido outros casos de racismo desde que assumiu o cargo, há 15 dias. “Desde que eu fui eleita deputada estadual por São Paulo e ocupo esse espaço para discutir e me preparar para a minha posse, eu venho sofrendo racismo nesta Casa”, disse em plenário.

    “Na posse, uma policial e uma servidora pediram para que eu liberasse o caminho para que os deputados pudessem passar. Me confundiram várias vezes com outras pessoas. Só na posse foram mais de dez vezes que eu passei por situações de racismo estando acompanhada pelo meu assessor de Comunicação, que é um homem branco, me confundiram com ele. Isso reinteiradas vezes durante os dias”, completou.