Ao frear reforma ministerial, Lula agiu para "deixar Bolsonaro sangrar", dizem interlocutores

Governo quer evitar que as nomeações desviem os holofotes da crise que cerca o ex-presidente Bolsonaro
Clarissa Oliveira, da CNN, São Paulo
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A orientação para paralisar as negociações da reforma ministerial e adiar o desenho da nova Esplanada partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ela teve um objetivo principal: evitar que as nomeações desviem os holofotes da crise que cerca o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A ordem, segundo interlocutores de Lula ouvidos pela CNN, é simples: "deixar Bolsonaro sangrar".

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A orientação foi transmitida por Lula no fim da semana passada, antes da viagem à África do Sul, onde o presidente participa da 15ª Cúpula dos Brics.

O recado foi repassado a integrantes do Centrão para acalmar as insatisfações com a demora do Planalto e garantir que os novos prazos não impactem na agenda do governo no Congresso.

O acerto prévio com o Centrão contribuiu, por exemplo, para que a votação do novo marco fiscal fosse mantida para esta semana apesar de as trocas na Esplanada não terem sido efetivadas.

Segundo fontes que participam ativamente da negociação, Lula tranquilizou PP e Republicanos de que as demandas dos dois partidos serão atendidas e que não haverá "decepção" -- mesmo que os detalhes da reforma ainda não tenham sido definidos.

Antes de Lula embarcar para a África do Sul, as especulações sobre a composição da nova Esplanada indicavam a entrega de ao menos um ministério para o PP e um para o Republicanos, que também levariam, respectivamente, a Caixa Econômica Federal e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Mudança de França

O desenho mais adiantado é o da cadeira do Republicanos, que caminha para assumir Portos e Aeroportos, hoje comandado por Márcio França (PSB).

Na semana passada, foi oferecida como compensação a França a pasta da Ciência, Tecnologia e Inovação, que hoje pertence ao PCdoB.

A atual titular da pasta, Luciana Santos, passaria, então a comandar o Ministério das Mulheres.

Antes da viagem de Lula, relatos feitos à CNN por fontes do PT e do PSB ainda indicavam insatisfação de Márcio França em deixar a pasta que ocupa atualmente.

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Ministério robusto

No caso do PP, o quadro estaria menos definido. Mas os relatos dão conta de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), teve a garantia de que seu partido será contemplado com um ministério robusto. A negociação inclui também o comando da Caixa, que deve ser preenchido com a deputada federal Margarete Coelho (PP-PI), aliada de Lira.

Chegou a se falar no desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, para manter o Bolsa Família sob guarda-chuva do PT. Mas o ministro Wellington Dias negou a divisão da pasta.

Não estava descartada a oferta adicional de pastas menores, como Micro e Pequena Empresa, que nasceria de um desmembramento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Ainda não há um novo prazo para o anúncio do novo ministério. Mas seguem na mesa as indicações de André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).

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