Aliados de Bolsonaro acusam Mandetta de não ter preparado presidente para crise
Apesar de reuniões semanais do presidente com ministros, a ala mais bolsonarista afirma que o diagnóstico repassado por Mandetta era de tranquilidade
Em processo de fritura, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, passou a ser responsabilizado por aliados de Bolsonaro pela montanha-russa de declarações do presidente acerca do coronavírus. “Muito bonito falar agora. Antes da explosão de casos na Itália, Mandetta nunca passou um atestado de gravidade ou preocupação sobre a doença chegar no Brasil”, afirmou à coluna um ministro com bom trânsito junto ao presidente.
No fim de fevereiro, a Itália registrava 11 mortes pela nova doença, que até então era vista como algo que só ocorria na China. Atualmente já há mais de 9 mil mortos na Itália vítimas do coronavírus. Apesar de reuniões semanais do presidente com ministros, a ala mais bolsonarista afirma que o diagnóstico repassado por Mandetta era de tranquilidade. Para essa ala, a primeira vez que o ministro expôs o contexto crítico foi na reunião, no fim de semana, no Palácio da Alvorada, em que Mandetta se opôs ao discurso do presidente de que o coronavírus seria meramente uma “gripezinha”. “Ele disse que ninguém quis ouvi-lo antes. Eu não aceito, não aceito esse discurso. O presidente foi mal preparado pelo ministro da Saúde. Se tenho uma bomba como essa, eu faço plantão na porta do presidente”, afirmou um ministro de forma contundente à coluna.
Na reunião, no Alvorada, Mandetta foi cobrado a apresentar um plano de ação contra o coronavírus, que já completava um mês de infestação no Brasil. “Ele disse que estava reformulando os planos. Causou surpresa que ele já havia apresentado um plano de medidas aos secretários”. Secretários de Saúde tornaram público um documento que haviam recebido do Ministério da Saúde, com ações como prazo para o fechamento de escolas. A Presidência afirma que só ficou sabendo depois da existência desse plano.
Aliados de Mandetta veem no discurso da ala bolsonarista uma tentativa de criar argumentos que justificariam a demissão do ministro. “O presidente percebeu que, se não se alinhar às regras da Saúde (de enfrentamento ao coronavírus), é Mandetta que pode entregar o chapéu. Ele não faz isso porque é cauteloso, tem preocupação com a sociedade brasileira, quer continuar ministro da Saúde”, disse uma liderança de Congresso à CNN.
Para quem esperava uma modulação entre o que Bolsonaro e Mandetta dizem, o presidente desafiou, novamente, nesta quinta-feira (2) ao menosprezar o coronavírus e dizer que a doença “não é tudo isso que estão pintando”. Na mesma tarde, em entrevista no Palácio do Planalto, o ministro Mandetta reiterava as ações de isolamento social como melhor medida de combate ao vírus.
Osmar Terra, ex-ministro da Cidadania, é cotado em uma eventual substituição. Ele já criticou Mandetta publicamente e saiu em defesa de Bolsonaro. Antônio Barra, presidente da Anvisa, também teve o nome apontado. Ele é a pessoa que aparece fazendo imagens de Bolsonaro interagindo com manifestantes, apesar da ordem de isolamento, em frente ao Planalto, no protesto de 15 de março.