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    Aliada de Temer, crítica de Dilma: como foi a vida política de Marta Suplicy em 9 anos fora do PT

    Ex-prefeita retorna ao partido para compor como vice a chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo

    Douglas Portoda CNN , São Paulo

    Cerca de nove anos após deixar o PT, a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy retorna ao partido nesta sexta-feira (2).

    O retorno é consequência de um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lhe pediu para compor como vice a chapa de Guilherme Boulos (PSOL) para a Prefeitura de São Paulo.

    A volta de Marta ao PT gerou controvérsias para uma ala do partido. Isso porque, durante o período em que esteve fora da sigla, fez diversas críticas aos petistas, apoiou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), aliou-se a Michel Temer (MDB) — considerado algoz da ex-presidente por membros do partido — e se aproximou de adversários históricos do PT, como o PSDB de São Paulo.

    A CNN detalha, a seguir, como foi o período e o recomeço das relações entre Marta e PT.

    Saída do governo Dilma

    Marta Suplicy e Dilma Rousseff / Roberto Stuckert Filho/PR

    Um dos pontos iniciais das rusgas entre Marta e PT se deu com sua saída do Ministério da Cultura, o qual ocupava desde 2012.

    Semanas após a vitória a de Dilma contra Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014, Marta entregava à então chefe do Poder Executivo sua carta de demissão.

    Entre agradecimentos pela oportunidade de conduzir a pasta, Marta fazia críticas à falta de orçamento para condução de projetos.

    No entanto, o ponto alto foi a crítica da condução econômica pelo governo. Na época, o país passava por uma recessão econômica, e a questão foi muito abordada durante o pleito.

    Marta pedia, em nome de todos os brasileiros, que Dilma fosse “iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada”, que ajudasse no “resgate a confiança e credibilidade” do governo. E que a equipe, acima de tudo, estivesse “comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país”.

    Posteriormente, Marta retornou para o Senado, a fim de cumprir seu mandato, que terminaria em 2019.

    A desfiliação

    O fim da relação entre a ex-prefeita e o partido viria em 28 de abril de 2015.

    Na data, Marta entregou sua carta de desfiliação ao Diretório Municipal de São Paulo. Ela estava no PT havia 33 anos. 

    Em suas palavras, dizia que havia sido “isolada e estigmatizada” pela direção e se sentia “constrangida” com a investigação de crimes de corrupção. 

    O período era marcado pelas investigações da Operação Lava Jato, que descobriu um esquema de corrupção na Petrobras envolvendo políticos de diferentes partidos e outras empresas públicas e privadas.

    “É de conhecimento público que o Partido dos Trabalhadores tem sido o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção que a nação brasileira já experimentou”, disse Marta à época. Ela falou ainda que não se sentia mais “em condições de cooperar com o que não faz mais sentido a mim e a milhões de brasileiros”.

    Como membro do PT, encontro-me em situação absolutamente constrangedora na bancada e no Plenário do Senado. Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram. Situação sem sentido que não tenho mais condições de deixar perdurar

    Marta Suplicy, em 2015

    A partir disso, afirmava que sua prioridade e fidelidade era ao mandado que lhe foi dado pelo paulista, e se sentia na responsabilidade e no dever de deixar o PT.

    Ida para o MDB

    Cinco meses depois, Marta se filiava ao então PMDB, atual MDB.

    No evento, estavam figuras-chave do processo de impeachment de Dilma, como o então vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara à época, Eduardo Cunha.

    Em seu discurso, Marta afirmava que o PMDB havia devolvido “o que há de mais valioso na vida, a liberdade, o direito de ir e vir, de mudar de ideia”. Sua entrada aconteceu após uma conversa com Temer, a quem a senadora chamava de “líder conciliador” e quem “iria reunificar o país”.

    Impeachment de Dilma

    Junto de seus então correligionários do PMDB, Marta foi favorável ao impeachment de Dilma durante votação no Senado.

    Em sua justificativa, a parlamentar afirmou que teve o “tirocínio e a percepção que o governo da presidente Dilma ia acabar do jeito que acabou”. “E saí então na hora certa”, disse à TV Senado na época.

    Ela disse que havia um “embasamento jurídico muito forte” aliado de um “embasamento político” no rito do impeachment e, a partir disso, o Brasil não poderia continuar com uma presidente que mostrou “absoluta incompetência na condução da nação”. Ainda culpou a então presidente pontualmente pelo “esfarelamento da economia” devido ao “seu determinismo, intervenção, seja na energia, na Petrobras, em tantos locais”.

    Eleições paulistanas

    Marta Suplicy durante campanha para o então candidato Bruno Covas no “Martamóvel” / Reprodução/Facebook

    Após ficar em quarto lugar, com pouco mais de 10% dos votos válidos, na eleição municipal de São Paulo de 2016, pelo PMDB, Marta foi cotada para ser vice do então prefeito Bruno Covas (PSDB) em 2020.

    Entretanto, a questão não foi para frente após resistências dentro do PSDB já que Marta ainda era vista como alguém do PT. Filiada ao Solidariedade à época, a ex-prefeita foi contra a orientação do partido de apoio a Márcio França (PSB) e decidiu ficar ao lado de Covas. A escolha levou à saída dela da sigla.

    Quando se juntou à campanha de Covas, Marta disse que, mesmo tendo sido adversária da sigla em muitas eleições, “nós nos apoiamos quando a nossa cidade e estado foram ameaçados”.

    Ela se referia ao apoio dado pelo avô de Bruno, Mário Covas, em 1998, na eleição vencida por ele contra Paulo Maluf (PP) para o governo de São Paulo. E sobre retribuição de Mário Covas, em 2000, quando Marta venceu o mesmo Maluf no segundo turno para a prefeitura paulistana.

    A ex-prefeita foi uma das apostas da chapa Covas/Nunes para frear o crescimento de Guilherme Boulos na periferia da cidade.

    Marta teceu diversas críticas a Boulos na ocasião. Em um dos debates do segundo turno, em comentário nas redes sociais, ela o criticou por “uma reposta absurda” em que ele comparava São Paulo e o Brasil com a China, “onde em uma canetada você fecha a cidade”, em referência a restrições durante a pandemia de Covid-19.

    Posteriormente, a ex-prefeita disse que o Boulos estava “tenso, pesado, com conteúdo fraco” e que Covas tinha “conteúdo, verdade, tranquilidade de quem sabe e conhece o que faz”.

    Entrada no governo Covas/Nunes

    Com a vitória de Covas sobre Boulos no segundo turno, Marta foi oficializada pelo prefeito reeleito como secretária de Relações Institucionais. A ação marcou sua volta ao Executivo municipal após 16 anos.

    Ainda se manteve no cargo após a morte do prefeito, em maio de 2021, quando Ricardo Nunes (MDB), então vice, assumiu o comando da prefeitura em definitivo.

    Apoio a Lula em 2022

    Marta Suplicy e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva / Reprodução/Facebook

    Durante as eleições de 2022, Marta anunciou apoio a eleição de Lula contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Na ocasião, já proclamava a criação de uma “frente ampla”, assim como havia feito com Covas em 2020.

    Além de participar de atos de campanha, no aniversário de Lula, três dias antes do segundo turno, afirmou que o presente dele seria a vitória que traria “dias melhores para o povo brasileiro”.

    Volta ao PT

    Sua demissão da Prefeitura de São Paulo aconteceu no último mês, reflexo da reunião dela com Lula. A gestão Nunes chegou a avaliar que houve quebra de confiança, como informou a CNN à época.

    Um dos elos para a volta de Marta ao PT foi o deputado federal Rui Falcão, que participou de seu encontro com Lula.

    Além disso, ele esteve presente no primeiro encontro entre Marta e Boulos, que aconteceu no apartamento da ex-prefeita, na região dos Jardins.

    Após a reunião, o deputado petista afirmou que não era mais dirigente da sigla, mas, sim, a pessoa que estava “fazendo essa aproximação a pedido do presidente Lula” entre os dois.

    Eu não sou dirigente do PT. Eu sou a pessoa que está fazendo essa aproximação a pedido do presidente Lula. E tenho uma relação com o Boulos de muito tempo

    Rui Falcão

    Quando Marta esteve à frente da prefeitura paulistana, entre 2001 e 2004, Falcão foi seu secretário de governo.

    Nova frente ampla

    PT marcou para 02 de fevereiro cerimônia de refiliação de Marta Suplicy / Reprodução/ Instagram Marta Suplicy

    Depois de se reunir com Boulos, a ex-prefeita divulgou novamente um manifesto por uma frente ampla em São Paulo. “A hora é a de nos unirmos para construirmos a mais ampla frente política e social para o progresso e o desenvolvimento da cidade de São Paulo”.

    Para Boulos, Marta “está muito animada para organizar e fazer campanha”. Três dias depois, o Diretório Municipal do PT aprovou a volta de Marta.

    Agora, após a filiação de Marta, a expectativa é pela oficialização da ex-prefeita como pré-candidata a vice na chapa de Boulos.

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