Abin: Quem foi alvo e quem se beneficiou com as supostas espionagens ilegais
Segundo investigação, software espião foi usado cerca de 30 mil vezes; lista inclui ao menos nove autoridades e advogados
A Operação Vigilância Aproximada, realizada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (25), trouxe novos elementos sobre o suposto esquema de espionagem ilegal promovido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Segundo as investigações, o software israelense FirstMile era usado para rastrear a localização de autoridades, políticos, advogados e jornalistas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em relatório apresentado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os investigadores afirmam que a ferramenta foi usada cerca de 30 mil vezes. O documento lista ao menos oito nomes como alvos.
Entre eles está o próprio Moraes, numa tentativa de associá-lo à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Para tanto, também foi monitorada a advogada Nicole Giaberardino Fabre, que trabalhava na época para a ONG Anjos da Liberdade.
Segundo as investigações, no mesmo contexto, outro ministro do STF, Gilmar Mendes, teve a localização rastreada “alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”.
A Polícia Federal indica ainda que os investigados utilizaram a ferramenta para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada federal Joice Hasselmann e o advogado Roberto Bertholdo.
O advogado teria proximidade com Hasselmann e Rodrigo Maia, à época tidos como “adversários políticos do governo”.
Governadores também teriam sido alvos da espionagem. Entre eles, Camilo Santana, atual ministro da Educação e ex-governador do Ceará.
Em outra oportunidade, de acordo com a Polícia Federal, “ficou patente a instrumentalização da Abin” para monitoramento da promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa que apura o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Beneficiados
Pelo menos dois filhos do ex-presidente teriam os serviços da Abin à disposição: o mais novo, Jair Renan Bolsonaro, e o mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Investigadores apontam que o monitoramento ilegal foi utilizado em situações pessoais ou políticas.
No ano de 2021, foi instaurado pela Polícia Federal inquérito para apurar suposto tráfico de influência por parte de Jair Renan. Entre as circunstâncias, havia a premissa do recebimento pelo investigado de veículo elétrico para beneficiar empresários do ramo de exploração minerária.
“As ações de ‘inteligência’ realizadas não deveriam deixar rastros razão pela qual a então alta gestão decidiu que não haveria difusão do relatório, ao tempo diligência solicitada pelo GSI/Planato diretamente para direção geral da Abin”, diz trecho do relatório da Polícia Federal.
O ex-personal trainer e ex-assessor de negócios de Jair Renan Bolsonaro é outro citado na representação da Polícia Federal ao STF como um dos espionados pela Abin.
Durante o período em que foi preparador físico de Jair Renan, Allan Lucena teve uma empresa esportiva e atuava como promotor no “Camarote 311”, projeto ligado ao escritório da empresa Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia, dentro do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. O dono era Jair Renan Filho.
Em outra situação, o senador Flávio Bolsonaro teria sido beneficiado pelos monitoramentos para se defender de denúncias de “rachadinha” na época em que era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Outro Lado
Após a deflagração da Operação Vigilância Aproximada a Abin afirmou que tem colaborado com as investigações e que é a “maior interessada” na apuração.
A atual gestão da agência diz que colabora, há 10 meses, com os inquéritos da PF e do STF sobre o que chamou de “eventuais irregularidades” cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização da agência, no período de 2019 a 2021.
Procurada, a defesa de Jair Renan disse que ‘não tem nada a declarar’. “Os advogados não têm acesso aos inquéritos e tudo mais é especulação.”
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que nunca recebeu relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “Jamais recebi isso, eu nunca vi esse suposto relatório, isso não foi usado por mim em momento algum durante toda a minha defesa”, afirmou o parlamentar em entrevista à CNN.