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    À CNN, FHC diz que ‘terceira via não pode ser neutra, tem que polarizar também’

    Ex-presidente da República defende que candidatura de centro não precisa ser encabeçada pelo PSDB

    Gregory Prudenciano e Jorge Fernando Rodrigues, da CNN, em São Paulo

     

    Em entrevista exclusiva à CNN nesta segunda-feira (21), o ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB Fernando Henrique Cardoso disse torcer por uma aliança política que dê viabilidade a uma “terceira via” eleitoralmente forte para o pleito de 2022. Segundo FHC, essa opção não deve parecer “neutra” diante das possíveis candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas tem que saber “polarizar também”. 

    “E não é só não ser neutro. A terceira via não pode ser uma coisa opaca, neutra, porque aí ganham os polos. Tem que ser uma coisa que polarize também, que chame atenção para as questões fundamentais do país, inclusive da democracia”, afirmou o tucano. “E não é uma pessoa que vai resolver isso, é um conjunto grande, somos nós todos, juntos, que podemos resolver isso”. 

    O ex-presidente também disse que essa opção eleitoral não precisa, necessariamente, ser encabeçada pelo PSDB, repetindo as palavras ditas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) em uma videoconferência realizada no domingo (20).

    Fernando Henrique, que no domingo completou 90 anos, disse preferir que o PSDB firme sua liderança nessa busca por um nome forte para 2022, mas afirmou que o partido não pode “menosprezar” outras forças políticas. “É preciso que haja um certo esforço para que haja uma terceira via, senão não existe. Se for do PSDB, muito bem, se não for, temos que nos juntar”, declarou. 

    Questionado sobre a foto publicada pelo ex-presidente Lula após almoço com FHC semanas atrás, Fernando Henrique disse que respeita “a força do presidente Lula”. “Ele se situa, ele sabe se colocar”, disse o tucano, esperando que também no PSDB surja um nome “que seja capaz de fazer a mesma coisa” que Lula. 

    “Mas, se não fizer [no PSDB] e o Lula fizer… Em política você não escolhe o adversário, o adversário existe”, disse FHC, para em seguida fazer um aceno ao petista: “Claro que sou do PSDB, sou presidente de honra e prefiro [o PSDB], mas se o Lula for capaz de se expressar de uma maneira, e não havendo outro, o que eu posso fazer?”, disse. Recentemente, Fernando Henrique declarou que, em caso de segundo turno que oponha Lula e Bolsonaro em 2022, optará pelo primeiro nome. 

    Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso (21 de maio de 2021)
    Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso (21 de maio de 2021)
    Foto: Divulgação

    Bolsonaro e democracia

    O ex-presidente da República voltou a afirmar que a democracia brasileira não corre, sob Bolsonaro, um risco concreto, e disse não acreditar que o atual presidente esteja “se movendo contra a democracia”. Apesar disso, FHC disse que a situação atual “pode deslizar”. 

    “Eu, sinceramente, não acredito que o presidente Bolsonaro, que é quem exerce o poder hoje, tenha uma visão de corrupção da democracia, que deseje acabar com a democracia. Mas ele, sem querer, pode… a dinâmica política pode levar a isso”, analisou. Fernando Henrique disse não achar que “Bolsonaro esteja preparando um golpe”, mas ressaltou que golpes “às vezes acontecem, o processo pode levar [a isso]”. 

    Sobre os militares que trabalham no governo federal, Fernando Henrique afirmou que um eventual “exagero de presença de militares” constitui um risco para a imagem das Forças Armadas “porque pode haver a leitura de que são elas as responsáveis pelo governo”.

    Impeachment

    Questionado sobre a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro sofrer um processo de impeachment, Fernando Henrique Cardoso disse que o chefe do Executivo “está se arriscando”, sem detalhar a que se referia. O ex-presidente afirmou que não deseja “que se vá por esse caminho” porque impedimentos presidenciais deixam “marcas”. 

    Além disso, avaliou FHC, não há, no momento, um movimento político forte o suficiente para impor a pauta do impeachment, e as manifestações populares que pedem o impedimento de Bolsonaro ocorridas até o momento “não foram tão fortes assim”. 

    Lava Jato e Sergio Moro

    Antes um entusiasta da operação Lava Jato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ver erros de conduta por parte do ex-juiz Sergio Moro, que deixou o Judiciário para se tornar ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Para o ex-presidente, Moro “talvez tenha exagerado ao participar tão intensamente da vida política”. 

    “Acho que teria sido melhor para ele ficar um pouco mais afastado, não ter exercido cargos políticos”, opinou o tucano. “Eu o conheço pouco, mas eu acho que ele não tem as qualidades necessárias para ser um agente público político”. 

    De acordo com FHC, Sergio Moro foi “um juiz competente”, e “é melhor guardar a memória de um bom juiz do que a de um político vacilante que não sabe se está aqui ou se está lá, e eu lamento dizer o que estou dizendo”, concluiu. 

    Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC)
    Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC)
    Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

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