À CNN, Aécio admite nome de fora do PSDB, mas vê Tasso ‘ganhando musculatura’
Ex-presidente do partido afirmou que vê Eduardo Leite como "uma grande novidade" e que Doria não consegue agregar o partido
Em entrevista exclusiva à CNN, o deputado federal e ex-presidente do PSDB, Aécio Neves, afirmou que o partido pode apoiar um nome de fora da sigla em 2022, mas ressaltou que vê o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ganhando “musculatura” para disputar a Presidência da República no ano que vem.
“O PSDB tem que estar pronto para apoiar uma candidatura de centro. Seja do nosso partido, seja de outros partidos, se esses, ou esse, eventualmente, se apresentar em melhores condições. Esse é um gesto para com o país”, disse o deputado.
“Pelas conversas que eu tenho tido, e eu converso muito com lideranças de outros partidos, como o presidente [nacional do DEM] ACM Neto e lideranças de outros partidos mais ao centro, eu acho que o senador Tasso Jereissati, de alguma forma, começa a construir com alguma naturalidade uma certa musculatura”, avaliou Aécio Neves.
Aécio afirma que não vê o senador cearense como alguém “que vai dar uma largada com enorme percentual de votos nas pesquisas”, mas ressalta o contexto no qual Jereissati se destaca — ele é hoje um dos principais nomes da CPI da Pandemia do Senado, integrando o G7, como é chamado o grupo de senadores de oposição e independentes que controla a comissão.
“[Tasso Jereissati] É alguém que pode efetivamente construir, pela sua trajetória, pela capacidade de expor suas ideias, uma candidatura viável”, afirmou sobre o colega de partido. “A candidatura à presidência da República, do PSDB ou do centro, ela tem que ter viabilidade”, completou Aécio.
O deputado afirmou, ainda, que enxerga o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como “uma grande novidade”, mas ressaltou que ainda não vê no gaúcho “uma disposição determinada de enfrentar essa luta”.
Em relação ao governador de São Paulo, Aécio Neves avaliou que João Doria “não consegue agregar o PSDB e sequer” o maior aliado dos tucanos, o DEM. “Recentemente, ouvimos o presidente do DEM, nosso aliado histórico ao longo de toda existência do PSDB, dizer que não caminha com essa candidatura”, lembrou.
“Nós não podemos, e vou repetir, submeter a lógica de uma candidatura que interessa ao país, de uma terceira via, a projetos individuais seja de quem for”, disse o deputado.
Lula e FHC
Sobre o encontro dos ex-presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado contou que ficou surpreso com a repercussão da reunião e confirmou que FHC, ao aceitar o convite do ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, sabia que se encontraria com o “candidatíssimo” Lula.
No entanto, ele argumenta que FHC, presidente de honra do PSDB, pode se permitir, diante dos 89 anos de idade e da trajetória na política, a tomar decisões individualizadas e que não levem em conta todo o contexto do partido.
O deputado afirmou à CNN que corrobora a posição do presidente tucano, Bruno Araújo, de que o encontro dos dois ex-presidentes pode passar “sinais trocados” para os eleitores. Aécio Neves afirma que é democrática a convivência entre as forças políticas, mas que o PSDB tem que manter distância de qualquer movimento que pretenda a volta do PT.
Ele diz que viu como “normal” o encontro, mas questionou se o ex-presidente Lula — caso não pudesse concorrer e FHC estivesse como candidato — faria o mesmo pelo tucano. Ele mesmo respondeu: “Acho que pelo Lula, sim. Mas o partido (PT) não permitiria”.
O deputado falou da época em que o Brasil passava pela redemocratização e lembrou que o PT não apoiou Tancredo Neves, seu avô, no Colégio Eleitoral de 1985, expulsando os deputados que endossaram o candidato. “O PT sempre colocou em primeiro lugar o PT, em segundo lugar o PT e depois, se talvez sobrasse espaço, o Brasil”, opinou.
Aécio Neves foi candidato à Presidência da República em 2014, mas acabou derrotado em segundo turno pela então presidente Dilma Rousseff, do PT. Ele contestou o resultado e o PSDB apresentou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um pedido de auditoria das eleições, mas a corte anunciou que não foi encontrada nenhuma evidência de fraude e selou a lisura da reeleição da petista.