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    115 anos de imigração japonesa: parlamentares descendentes criam pontes entre os países

    Mais de um século após a chegada dos primeiros imigrantes, as gerações futuras mantém vivas as conexões com o Japão ​

    Giovanna Inoueda CNN

    Brasília

    No dia 18 de junho de 1908, os primeiros japoneses imigrantes desembarcaram do navio Kasato Maru no Porto de Santos em busca de uma nova vida. Hoje, 115 anos depois, seus descendentes estão integrados em todos os ramos da sociedade brasileira, inclusive no Congresso Nacional.

    Apesar de ter mais de cem anos no país, a presença japonesa na política brasileira é recente. O primeiro descendente eleito no âmbito federal foi Yukishigue Tamura, que foi eleito como deputado estadual e seguiu para se tornar o primeiro deputado federal nikkei (palavra japonesa que denomina descendentes de japoneses nascidos fora do Japão) em 1955, cargo que assumiu por quatro vezes. Tamura foi o primeiro político de origem japonesa eleito fora do Japão.

    Ao longo da história da imigração, aproximadamente 30 descendentes passaram pelo Congresso Nacional. A 54ª legislatura, de 2011 a 2015, foi a que mais teve parlamentares nikkeis, com 7 pessoas. Na atual legislatura, três deputados federais nikkeis trabalham na Câmara. Luiz Nishimori (PSD-PR) é nissei (filho de japoneses), enquanto Kim Kataguiri (União-SP) e Pedro Aihara (Patriota-MG) são sanseis (netos de japoneses), representam os estados deles e a comunidade japonesa.

    Os três deputados fazem parte do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, responsável por fortalecer as relações entre os parlamentos dos países. As negociações do grupo levaram a à comercialização de carne de frango e suco de laranja entre os países e ao aumento de empresas japonesas em solo brasileiro.

    O deputado Luiz Nishimori, presidente do grupo, acredita que o próximo obstáculo a ser conquistado é a venda de carne bovina. “Temos o grande desafio de vender carne bovina no Japão. O Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo, mas no mercado japonês nós ainda não conseguimos entrar”.

    Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil é o segundo maior fornecedor de frango no Japão, responsável por 26,7% da proteína no país, e o principal fornecedor de suco de laranja, com participação de 57% do comércio.

    Em 2022, o mercado japonês proporcionou a entrada de pouco mais de US$ 1,0 bilhão em divisas com as vendas de carne de frango e suco de laranja.

    “A prioridade agora é a criação de um acordo de comércio, ou entre Mercosul e Japão ou um acordo bilateral”, avalia Kataguiri.

    O deputado também afirma que o Grupo tenta concretizar a facilitação de vistos para yonseis (bisnetos de japoneses), além da isenção de vistos de turismo de curta duração para brasileiros, cuja negociação foi anunciada pelo primeiro-ministro japonês Fumio Kishida após a viagem do presidente Lula ao país.

    Para Kataguiri, uma simplificação na tributação facilitaria o investimento japonês no mercado brasileiro.

    “Acho que tem algumas questões em relação à burocracia que a gente poderia resolver pra estreitar os laços entre os países”, afirma.

    Apesar da longa história de imigrantes no Brasil, a participação política de nikkeis ainda é pequena.

    Questionados, os deputados concordam que três parlamentares não é o bastante para representar os dois milhões de descendentes que moram no Brasil. “Não é o suficiente, mas nós estamos nos virando”, coloca Kataguiri.

    “Acho que a presença do nikkei como deputados, apesar de não termos senadores, é muito importante para a sociedade brasileira por trazer outra cultura, tradição, educação, uma outra disciplina”, afirma o deputado Nishimori. “No momento nós temos três, graças a deus”, completa.

    Para o deputado Aihara, aumentar a representatividade japonesa no Congresso é fundamental, mas reconhece ser uma tarefa trabalhosa por considerar a força política da comunidade como “dispersa”.

    “É muito difícil a gente ter representatividade se antes nós não temos um sentimento de unidade”, enfatiza.

    O grupo parlamentar encaminhou ao Ministério da Educação (MEC) uma demanda para que os estudantes brasileiros que moram no Japão possam realizar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em solo japonês. “Para o jovem brasileiro no Japão conseguir fazer o Enem, ele precisa voltar pra cá, o que torna impraticável. Além da viagem ser longa e cara, demanda muito planejamento, então eles acabam não fazendo a prova e isso acaba os excluindo de uma possibilidade”, explica o deputado Aihara.

    Para o embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi, o intercâmbio entre parlamentares é um importante pilar das relações entre os países. A deputada japonesa Yuko Obuchi, vice-Presidente do Grupo Parlamentar Japão-Brasil, esteve no Brasil como enviada em missão especial para a cerimônia de posse do Presidente Lula.

    “A confiança da sociedade brasileira, conquistada pelos nipo-brasileiros ao longo dos anos, se tornou uma base importante da relação entre os dois países, que hoje são considerados parceiros estratégicos globais”, afirma o embaixador.

    115 anos de imigração

    No dia 18 de junho de 1908, os primeiros imigrantes japoneses desembarcaram do navio Kasato Maru no Porto de Santos. Após 50 dias de viagem, 781 pessoas chegaram ao Brasil e iniciaram a imigração entre Brasil e Japão.

    Atualmente, estima-se que cerca de 2 milhões de descendentes de japoneses vivam no Brasil, o que equivale a 1% da população. É a maior comunidade nikkei fora do Japão.