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    WWF: Brasil causou 43% do desmatamento das florestas tropicais entre 2004 e 2017

    Estudo publicado nesta quinta-feira (14) analisou o desmatamento em 24 frentes na Ásia, América Latina e na África

    Murillo Ferrari, da CNN, em São Paulo

    A ONG World Wildlife Fund (WWF) publicou nesta quinta-feira (14) um novo relatório em que analisa o desmatamento de florestas tropicais em 24 frentes na Ásia, América Latina e na África.

    A análise focou-se nas áreas tropicais e subtropicais, que representaram cerca de dois terços do desmatamento global entre 2000 e 2018 e onde a fragmentação das florestas é significativo.

    O estudo mostra que 43 milhões de hectares de floresta tropicais – equivalente ao tamanho do México – foram desmatados nessas áreas entre 2004 e 2017.

    Na Amazônia brasileira, essa perda foi de 15,5 milhões de hectares (15,4% da área de floresta em comparação com 2000), enquanto o Cerrado perdeu 3 milhões de hectares (32,8% da área de floresta em 2000). Somado, o desmatamento dessas duas áreas correspondeu a 43,7% do total relatado nas florestas tropicais pelo WWF (18,5 milhões de 43 milhões de hectares).

    O WWF usou os dados de melhor qualidade disponíveis nas últimas duas décadas para constatar que o desmatamento ocorre nas taxas mais rápidas na Amazônia e Cerrado brasileiros, na Amazônia boliviana, no Paraguai, na Argentina, em Madagascar, nas ilhas Sumatra e Bornéu (na Indonésia), e na Malásia.

    Chamado de Frentes de Desmatamento: Motivos e respostas em um mundo em mudança, o relatório identificou que a agricultura comercial é a principal causa do desmatamento em todo o mundo, particularmente a agricultura em grande escala, com áreas de florestas desmatadas para se tornarem pastagem de gado e para o cultivo de safras.

    Ao detalhar a destruição de floresta tropicais no Brasil, o estudo indicou que a Amazônia é afetada principalmente pela pecuária e pelo desenvolvimento de infraestrutura de transporte, mas também citou a agricultura comercial e familiar, a exploração madeireira, a mineração, as hidrelétricas e os incêndios como outras causas.

    O estudo apontou ainda a Amazônia brasileira como um exemplo de área onde houve oscilação no desmatamento ao longo do tempo (e em comparação com levantamento anterior, feito em 2015).

    “De acordo com fontes oficiais, o desmatamento anual caiu de um pico de 2,8 milhões de hectares em 2004 para 457.000 hectares em 2012, mas tem mostrado uma tendência de crescimento desde então, ultrapassando 1 milhão de hectares em 2019”, diz o documento.

    WWF analisou 24 frentes de desmatamento na Ásia, América Latina e na Ásia
    Estudo da WWF analisou 24 frentes de desmatamento em áreas tropicais e subtropicais na Ásia, América Latina e na África
    Foto: Reprodução/WWF

    Já o Cerrado foi desmatado principalmente por causa da pecuária e da agricultura em larga escala, com os incêndios aparecendo como um fator secundário.

    “A forma como produzimos e consumimos alimentos está no cerne do desafio que enfrentamos”, disse Fran Raymond Price, líder de prática florestal global do WWF International à Fundação Thomson Reuters.

    Outros fatores apontados pelo WWF para o desmatamento tropical, especificamente no caso do Brasil, são a falta de alinhamento de políticas, governança fraca e corrupção.

    “Esforços significativos foram despendidos na melhoria das estruturas regulatórias para o manejo de terras e florestas, monitoramento e controle ambiental. A questão principal ainda é a falta de alinhamento entre os marcos legais que apoiam a sustentabilidade ambiental de longo prazo e os sistemas de incentivos financeiros e econômicos voltados para o crescimento econômico de curto prazo”, diz o estudo.

    Também há menção à falta de ações para prevenção de incêndios, que quando foram implementadas tiveram mais destaque em controlar focos já em andamento do que impedir a existência de incêndio florestal.

    “Os incêndios se expandiram, particularmente em áreas intactas e não adaptadas de florestas tropicais. O fogo tem sido tradicionalmente usado na Amazônia (…) como parte da mudança de práticas de cultivo, mas hoje também é cada vez mais utilizado como uma forma barata de converter terras para pecuária na Amazônia brasileira.”

    “Além disso, o desempenho das áreas protegidas também é precário porque estão constantemente sob pressão de interesses concorrentes para desenvolver essas regiões, como demonstrado pela mudança da visão do governo do Brasil, que agora apoia o agronegócio e indústrias extrativas na Amazônia”, continua o WWF.

    Sugestões de ação

    O estudo traz ainda recomendações de medidas que deveriam ser adotadas pelo governo para reduzir o desmatamento.

    Em relação à Amazônia são propostas ações como a eliminação da grilagem e da especulação imobiliária, a redução do desmatamento em propriedades privadas, facilitando pagamentos por serviços ambientais combinados com iniciativas de mercado para abastecimento sustentável, o incentivo ao aumento da produtividade por meio de investimentos direcionados e o fornecimento de assistência técnica para melhorar o desempenho dos pequenos produtores.

    Já para o Cerrado brasileiro as medidas sugeridas são a expansão das áreas protegidas para pelo menos 17% do mínimo exigido pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), a redução do desmatamento em propriedades privadas com iniciativas de mercado para produção sustentável e por meio de pagamentos por serviços ambientais e a ampliação da técnica para incentivar a produtividade do setor pecuário.

    (Com informações da Reuters)

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