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    Vera Iaconelli: ‘Na nossa cultura, mãe e culpa viraram sinônimos’

    Na quarta edição do programa 'O Mundo Pós-Pandemia', a psicanalista Vera Iaconelli fala sobre os desafios da maternidade e como é ser mãe em tempos de pandemia

    Na quarta edição do programa “O Mundo Pós-Pandemia”, a psicanalista e doutora em psicologia Vera Iaconelli falou sobre o Dia das Mães no isolamento social e os desafios da maternidade. A data acontece neste domingo (10 de maio).

    Em conversa com as jornalistas da CNN Daniela Lima, Mari Palma e Thais Herédia e a comentarista Gabriela Prioli, Vera Iaconelli detalhou como os filhos podem reconhecer suas mães para além do papel de maternidade, e como as mães podem gerenciar suas tarefas e espaços em tempos de pandemia. A partir disso, Iaconelli também falou sobre a importância de perdoar, ser perdoado e lidar com a culpa de maneira saudável.  

    “Essa vai ser uma data em que muitas mães e filhos estarão distantes por conta do isolamento social”, ressaltou Daniela Lima.

    Isolamento social

    Há uma trauma que pode nascer entre mães e filhos devido ao distanciamento social? Para a psicanalista, “toda situação extrema como essa tem um potencial traumático”. Contudo, ela acredita que as mães são preparadas para lidarem com situações extremas durante a maternidade. 

    “Eu acho que a pandemia vai ter um efeito sobre nós. Mas como toda intensidade, nós temos condições de elaborar, sim, e acho que as mães estão habituadas a elaborarem sempre em situações extremas, porque a própria maternidade te coloca em uma situação extrema. [O nascimento de um filho] é de uma dimensão que você nunca mais para de falar desse acontecimento”. 

    “Acredito que podemos aprender coisas legais também”, diz. 

    Significado de “ser mãe”

    Questionada sobre como é possível acompanhar o aprendizado que os filhos adquirem sobre a definição do que é ser mãe, Vera responde: “filhos demoram a descobrir que mãe também é mulher”. Quando os filhos descobrem o outro lado da figura materna, e entendem que por trás da mãe existe uma mulher, esse processo abre espaços para novos aprendizados conjuntos.  

    “Demoramos a descobrir, nesse processo, que mãe é mais do que mãe, é mulher também. Essa mulher a gente sempre recusa, a gente só quer a mãe pra gente. Tudo que dá marca que existe algo além da mãe, é uma alegria e é um susto. Alegria pelo fato que você também pode ser mais do que pai e mãe, e pode ser mais do que um filho”. 

    A mãe e a mulher profissional 

    Em tempos de pandemia, muitas mães precisam trabalhar remotamente em suas casas. É possível, nesta situação, separar a “mãe” da “mulher profissional”? Para a doutora em psicologia, é importante reconhecer os espaços da casa, como também reconhecer o espaço da própria vida pessoal e profissional.  

    “Curiosamente, isso é um retorno histórico. Antigamente, as pessoas viviam no campo e o trabalho era misturado com o cuidado doméstico. Agora, com a quarentena, isso retorna. Tem a questão dos espaços simbólicos dentro da casa”, diz. 

    “É importante a pessoa saber, porque não é só o espaço do seu trabalho, é o espaço da sua vida. Você é uma mulher, você tem outras coisas além da maternidade. E isso é muito libertador para os filhos, porque eles vão descobrir que poderão ser mais do que pais e mães”, explica.

    Sentimento de culpa

    De acordo com Vera, muitas mães, ao precisarem se desdobrar para cuidar dos filhos, da casa e do trabalho, carregam um enorme sentimento de culpa. Isso pode ser agravado, ainda, pela questão da desigualdade, na qual a mulher precisa assumir vários papéis no mesmo lar. Vera ressalta a importância de olhar para a culpa com o objetivo de transmutar este sentimento para algo construtivo. 

    “A gente não é a mãe que a gente escolhe ser, a gente é a mãe que a gente pode ser. A gente vai se entendendo com a possibilidade de pedir desculpas. É menos romântico, mas é lindo”, diz. A psicanalista diz que o processo de perdoar e ser perdoada é essencial nesta situação. 

    “A pessoa fica se denunciando o tempo todo, ela está ali mais preocupada em ficar se vilipendiando do que, de fato, assumir aquilo e partir para frente. [Devemos pensar]: ‘eu fiz aquilo, o que eu tenho que pagar? A quem devo pedir desculpas?’ É uma atitude ética. Na nossa cultura, mãe e culpa viraram sinônimos”, analisa. 

    “É dificil, é até um exercício de humildade. Mas é legal quando você assume que não foi tudo aquilo que você imaginava. Você também ensina para os seus filhos que eles não precisam ser tão duros com eles, porque a tua dureza passa para eles também”, conclui.  

    Por fim, com um tom de coragem, a psicanalista sugere uma reflexão para as mães: “o que eu posso melhorar daqui para frente?”.