Vacina contra Covid: 8 em 10 pessoas não tomaram todas as doses de reforço
Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas 21,6% da população tomou as doses bivalentes; número é considerado baixo pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
Dados do Ministério da Saúde atualizados nesta segunda-feira (20) apontam que quase 80% da população não completou o esquema de vacinação bivalente contra Covid-19. Os números são preocupantes, de acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
No painel de imunização, disponível no site do ministério, pouco mais de 36,8 milhões de doses foram aplicadas, o que corresponde a 21,6% da população apta para ser imunizada. Os dados da Rede Nacional de Dados de Saúde mostram que todas as regiões, com exceção do Piauí, Distrito Federal e São Paulo, estão abaixo dos 24,9%, o que é classificado pela “faixa vermelha”. Veja gráfico.
Entre os estados com a menor cobertura vacinal da Covid-19 estão Mato Grosso (10,1%), Tocantins (12,1%), Acre (12,9%), Maranhão (13,2%) e Roraima (13,3%). Por outro lado, os estados com a maior cobertura vacinal da bivalente não chegam a 30% da população. Entre os estados com a maior cobertura vacinal da Covid-19 estão Piauí (28,9%), Distrito Federal (28%), São Paulo (26,7%), Ceará (24,8%) e Sergipe (23,7%).
Entidade diz que falta vacinas contra Covid-19
A CNN conversou com Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), que alega que a cobertura vacinal de Covid-19 no Brasil é muito baixa.
“A gente tem acompanhado os dados do Ministério da Saúde, que é o único dado que a gente tem disponível, que mostra um percentual muito baixo de vacinação, principalmente para os grupos prioritários, que são os grupos definidos como mais importantes para a vacinação” afirma Chebabo.
Ele destaca que a vacina de Covid-19 está no calendário vacinal das crianças. Também está no calendário de vacinação para idosos e imunossuprimidos. A recomendação é uma dose a cada seis meses. Mas, após a pandemia, há pouca divulgação, o que é um entrave.
“Essa é uma das grandes dificuldades que a gente tem, que são as pessoas terem conhecimento em relação à necessidade de tomar essas doses, a importância de se vacinarem, porque a doença ainda continua ocorrendo de forma importante e ainda continua matando, são mais de 5 mil mortes por Covid-19 no Brasil só esse ano”, pondera.
O porta-voz da SBI relata que há uma escassez no país inteiro. Em alguns municípios a vacina já acabou e outros ela tá com baixa disponibilidade, então são poucas doses, muitas das vezes concentradas em dois ou três locais de vacinação. Para o especialista, essa dinâmica prejudica o acesso ao imunizante.
“Isso é muito ruim porque você diminui o acesso das pessoas à vacina próximo das suas casas ou do seu local de trabalho. Então, o que a gente tem hoje é falta em alguns municípios já e escassez em outros, porque os estoques estão terminando e não foram repostos” diz Chebabo.
Para o presidente da SBI, os principais desafios são basicamente a falta de comunicação e a falta de uma campanha de esclarecimento. Ele alerta que a doença ainda é a infecção que mais mata no Brasil, ao lado da dengue.
“As pessoas realmente estão, todas as pessoas, estão cansadas, né? A gente viveu um momento muito duro, né, na pandemia. E a tendência de todo mundo é achar que já passou, que acabou. Mas não acabou, a doença continua acontecendo” alerta o infectologista.
O Ministério da Saúde se posicionou sobre a falta de doses de vacina para Covid-19. De acordo com a pasta, nos próximos dias 1,2 milhão de doses serão entregues, com foco na imunização de crianças. Veja posicionamento na íntegra.
Levantamento aponta para falta de imunizantes
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) entre os dias 2 e 11 de setembro revelou que seis em cada dez municípios brasileiros enfrentam falta de vacinas. O levantamento, que abrangeu 2.415 municípios, aponta para a necessidade urgente de medidas para solucionar o problema.
O Ministério da Saúde reconheceu, em nota, a falta de vacinas na rede pública de saúde e atribuiu o problema a dificuldades na fabricação, logística e alta demanda. A pasta informou estar buscando soluções alternativas, como a aquisição de imunizantes através da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), mas a regularização do estoque de algumas vacinas está prevista apenas para 2025.
A pesquisa da CNM também revelou uma queda significativa na cobertura vacinal nos últimos anos. A média da cobertura de todas as vacinas analisadas caiu de 83,8% em 2014 para 66,2% em 2023. Essa redução aumenta a vulnerabilidade da população a doenças preveníeis por vacinação.