Universidades públicas de SP dão retorno de produtividade de 15%, diz estudo
A pesquisa foi divulgada em meio à tentativa da gestão João Doria (PSDB) de aprovar um pacote de ajuste fiscal
Um estudo do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (Nereu-USP) estima que as três instituições públicas paulistas de ensino superior geram um retorno de produtividade de cerca de 15% em relação ao orçamento que o Tesouro estadual investe anualmente nelas. A pesquisa foi divulgada em meio à tentativa da gestão João Doria (PSDB) de aprovar um pacote de ajuste fiscal no qual prevê devolução de recursos das universidades e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) não utilizados para o caixa do governo.
Os pesquisadores Carlos Azzoni, Moisés Vassallo e Eduardo Haddad fizeram uma série de comparações entre os profissionais formados por USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) entre 2005 e 2015 e graduados ou pós-graduados por outras instituições de ensino superior Brasil afora.
As três universidades forneceram uma base de dados de 202 mil formados, dos quais 138.325 tinham em 2018 algum vínculo empregatício registrado na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério da Economia, na iniciativa privada ou no setor público nos três níveis de governo (municipal, estadual ou federal).
Esse contingente foi comparado a 13,5 milhões de profissionais com ensino superior completo em outras instituições. A partir de uma modelagem estatística que levou em conta características como idade, experiência no emprego e gênero, entre outros, o estudo estima que uma pessoa formada por uma das universidades paulistas empregada no setor privado tem salário, em média, 30% mais alto que alguém desempenhando a mesma atividade de trabalho, mas com diploma de outra instituição de ensino superior.
Com esse dado, os economistas calcularam qual seria o acréscimo salarial anual dos ex-estudantes da USP, Unicamp e Unesp ao longo do tempo (quatro décadas de carreira profissional e taxa de desconto real de 2%). Chegaram a um total de R$ 12,6 bilhões, levando-se em conta o número de 16.431 profissionais formados na graduação das três universidades públicas paulistas em 2018. Essa cifra é 14,5% maior que os R$ 11 bilhões referentes aos balanços dessas instituições naquele mesmo ano.
Retorno e prestação de contas
“Pensando apenas no retorno bruto, o ensino de melhor qualidade provido pelas três universidades devolve à sociedade, em termos de acréscimo de produtividade, bem mais do que o montante que a sociedade gasta com elas”, argumentam os pesquisadores.
Na conclusão do estudo, Azzoni, Vassallo e Haddad afirmam que “o produto das universidades públicas nem sempre é bem compreendido pela sociedade, principalmente por administradores públicos e políticos”, que enxergariam a aplicação dos recursos apenas como “custos”. Mas, reconhecem, isso pode ocorrer “talvez também por culpa das próprias universidades, que, com certa arrogância, não se preocupam, como deveriam, em tornar mais evidente sua contribuição”.
O estudo contou com apoio das três universidades e foi divulgado em meio à discussão, na Assembleia Legislativa, de um pacote de ajuste fiscal no qual o governo, entre outras medidas, quer utilizar superávits das instituições de ensino e da Fapesp para fortalecer o Tesouro paulista, diante da queda na arrecadação provocada pela pandemia do coronavírus. O projeto de lei aguarda deliberação dos parlamentares, mas enfrenta forte resistência política: já há mais de 600 emendas apresentadas ao texto e, embora Doria quisesse que a medida fosse aprovada até 30 de setembro, o texto ainda não passou nem sequer pelas comissões temáticas do Legislativo paulista.