Taxistas são intimidados por motoristas clandestinos no Aeroporto de Guarulhos
À CNN, funcionários afirmaram que o medo, assédio verbal e as ameaças de agressão física têm feito parte da rotina de trabalho
Dia 2 de setembro, 20h27. Enquanto passageiros saem pelo terminal 2 do aeroporto internacional de Guarulhos, começa uma discussão entre um funcionário da Guarucop, serviço credenciado de táxi do Aeroporto Internacional de Guarulhos, e um homem que se passa por motorista de aplicativo. Menos de um minuto depois, o motorista agride o funcionário e tem início uma briga. De acordo com funcionários da Guarucop, agressões físicas e verbais cometidas por motoristas clandestinos tem se tornado comuns, especialmente durante a pandemia da Covid-19.
O funcionário agredido, que preferiu não se identificar, contou que o ataque aconteceu após pedir para que um grupo de motoristas clandestinos se afastassem das portas de saída do terminal. “Dá medo às vezes, ainda mais porque eu tenho filhos, esposas, pessoas que dependem de mim”.
Somente depois da agressão, o segurança da Gru Airport, empresa que administra o aeroporto, apareceu para separar.
A equipe da CNN encontrou vários motoristas clandestinos na área de desembarque do aeroporto e nos arredores tentando convencer passageiros a utilizarem o serviço.
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Outro funcionário da Guarucop, que também preferiu não se identificar, disse que depois que conseguiu impedir que um passageiro utilizasse o transporte clandestino foi ameaçado. “O pessoal ficou bravo comigo, me ameaçou e falou que da próxima vez que eu derrubasse uma corrida deles iam encher minha cara de porrada”, conta.
E não são somente os homens que são vítimas das agressões. Duas mulheres que trabalham na Guarucoop, e pediram para não terem seus nomes divulgados, relataram uma rotina diária de ameaças, abuso e assédio verbal. “Não é de hoje que eles ficam lá no aeroporto abordando os passageiros, mas com esta crise, parece que eles se rebelaram contra todos os motoristas”, conta uma das funcionárias. A outra descreve a intimidação sofrida quando passageiros são impedidos de usar o serviço dos motoristas clandestinos: “Se você tirar a minha corrida, eu sei onde você mora, sei que horas você vai embora, sei o teu horário de trabalho, toma cuidado, não mexe com a gente, são esses o tipo de ameaça”, explica.
No Terminal 2 do aeroporto, os arrastadores podem ser facilmente percebidos abordando as pessoas, sem nenhum tipo de fiscalização. Para conseguir as corridas, eles se misturam com os taxistas e os motoristas de aplicativo.
Não apenas os funcionários, mas os passageiros também se tornam vítimas desses motoristas, que acabam cobrando muito mais do que deveriam por uma corrida. A CNN teve acesso a um boletim de ocorrência que mostra que um turista foi cobrado mais de R$ 1.200,00 em seu cartão de crédito por uma viagem. O mesmo trajeto, feito por um motorista de aplicativo, custaria R$ 23,00.
Um dos funcionários da Guarucop lembra a história de uma mulher que teve que utilizar o serviço clandestino porque estava sem bateria no celular e acabou pagando o preço. “A passageira foi abordada por um rapaz que usava uma máscara da [aplicativo] Uber e ofereceu [o serviço clandestino]. Ele cobrou 450 reais por uma corrida até Santo Amaro, quando a gente cobra entre 180 e 200 reais, no máximo”, relata.
Segundo Waldir Almeida da Silva, presidente da Guarucoop, os motoristas clandestinos tiram cerca de 30% das corridas diárias dos taxistas credenciados. Diante dessa situação, a empresa de táxis continua cobrando uma maior fiscalização das autoridades, na tentativa de conter as ações dos clandestinos.
A CNN também teve acesso a uma pilha de ofícios que foram encaminhados à prefeitura de Guarulhos. “Temos ofício aqui de 2015, 2016, 2017, 2019 e 2020 com fotos das ações deles, tanto durante o dia quanto a noite, do grupo deles angariando passageiros”, conta Waldir.
Marcio Pontes, secretário municipal de segurança pública de Guarulhos, explicou que a fiscalização não é tão fácil quanto parece. “O nosso trabalho fica um tanto quanto prejudicado, porque nós podemos fazer, sim, o trabalho de fiscalização de trânsito de pessoas que estão na calçada e na via, porém, nós não temos muitas ações, uma vez que eles [motoristas clandestinos] ficam transitando pelo aeroporto como se fossem passageiros”, explica.
De acordo com o secretário, falta melhor orientação para os viajantes dos perigos do transporte clandestino e também uma união das forças de segurança. Por meio de nota, a GRU Airport, concessionária responsável pela segurança interna do aeroporto, disse que orienta os frequentadores do aeroporto sobre os perigos do transporte clandestino, mas que a fiscalização na zona aeroportuária é da responsabilidade da polícia militar, polícia rodoviária e prefeitura de Guarulhos.
Já o subcomandante da polícia militar, Fernando Maciel, disse que a responsabilidade da fiscalização é da prefeitura de Guarulhos. “As ocorrências que chegam ao nosso conhecimento, muitas das vezes a gente nem consegue localizar um boletim de ocorrência registrado. A vítima busca o transporte irregular no interior do aeroporto, mas ela vai ser lesada, muitas das vezes, em outro município”.