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    Supermercados no Brasil têm queda de estoque no mês de abril

    Levantamento da Neogrid, empresa especializada em cadeias de suprimentos, mostra que promoções contribuíram para as compras, em meio à disparada da inflação

    Thayana Araújoda CNN , Rio de Janeiro

    Os supermercados brasileiros tiveram uma queda no volume de estoque no mês de abril, para o menor patamar mensal desde janeiro de 2020. A avaliação consta no índice de ruptura da Neogrid, empresa especializada em soluções para a gestão da cadeia de suprimentos.

    Os dados foram compilados a partir dos dados de 80% das maiores redes supermercadistas do país.

    A ruptura de estoque nada mais é do que a falta de um determinado produto para a venda. Ou seja, quando o consumidor vai ao supermercado, por exemplo, em busca de uma marca de leite e não a encontra, está diante de um caso de ruptura.

    Através do índice de ruptura é possível identificar quais produtos tendem a ficar escassos mais rapidamente, permitindo a formulação de estratégias que revertam esse quadro. Os números também servem para mostrar a proporção entre produtos disponíveis e indisponíveis em uma loja.

    O estoque em abril deste ano teve uma queda de pouco mais de 9% no volume médio em relação a abril do ano passado. Na comparação com abril de 2020, a queda foi de 15,96%, e de 16,76% em relação a janeiro daquele ano. A Neogrid não fornece os números absolutos por questões contratuais.

    A queda no volume médio do estoque registrada em abril deste ano é um reflexo duro de um cenário que mescla a dificuldade de importação de insumos da China, onde parte do país vive lockdown, e, internamente, de disparada na inflação E consequente aumento no preço de insumos como o diesel, fundamental no transporte de mercadorias entre indústria varejo.

    De acordo Robson Munhoz, CCSO (Chief Customer Success Officer) da Neogrid a venda aumentou. “A ruptura em abril passado ficou em 10,8%, mesmo índice de março e 0,1% menor que a de fevereiro deste ano [10,9%]. Isso é um indício de que a venda aumentou, impulsionada sobretudo por promoções, o que consumiu o estoque; o varejo anda extremamente cauteloso na compra a tal ponto que a venda maior em volume é decorrente de promoções”, analisa.

    Cenário inverso em março

    Em março deste ano, o cenário foi inverso. A consultoria explica que o mês foi um período peculiar para os supermercados. O maior IPCA em 28 anos, inflação alta e sequencial no preço dos alimentos e queda no poder de compra da população. Todos esses problemas se somaram ao impacto da guerra no preço das commodities.

    Diante do cenário, houve um grande volume em estoque pelo terceiro mês consecutivo. De acordo com o levantamento, a ruptura em março ficou em 10,8%, diante de 10,9% em fevereiro e de 11,7% em janeiro deste ano. Em outras palavras, houve menor indisponibilidade de produtos nas gôndolas no período, na comparação com o mês de fevereiro.

    Consumidora faz compras em supermercado do Rio de Janeiro / 10/09/2020 REUTERS/Pilar Olivares

    Segundo Luiza Zacharias, diretora de Novos Negócios da Horus, empresa de inteligência de mercado com foco em dados de consumo e integrante do ecossistema de negócios da Neogrid, os preços de produtos básicos nos supermercados, com alta há alguns meses, estão pressionados por fatores que variam desde situação climática ao aumento da demanda global por commodities.

    “Nesse cenário de inflação, o bolso do consumidor fica cada vez mais apertado, o que o leva a reduzir o consumo de certos produtos no carrinho de compras. Isso ajuda a reduzir o patamar de ruptura”, complementa.

    Leite UHT e óleo: preços disparam

    Apesar da manutenção da ruptura geral em abril, em comparação com março, alguns produtos da cesta básica registraram alta nos preços mês passado comparado ao anterior, em especial, o leite UHT e o óleo vegetal, segundo levantamento da Horus.

    O óleo de soja tem apresentado alta de preço significativa. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o aumento foi de 31%- de 6% na embalagem de 900ml só em abril. A alta pode ser explicada por conta dos impactos da quebra de safra devido à estiagem no Sul do Brasil. Além de uma quebra da safra do óleo de palma na Ásia, o que reduziu no Brasil a oferta de óleo de dendê, mais consumido por ser mais barato.

    A Horus também expõe em seus demonstrativos que a guerra entre Rússia e Ucrânia afetou a oferta de óleo de girassol, uma vez que os dois países respondem por 77% da exportação desse produto. Com a redução de oferta dos óleos de palma e de girassol, houve aumento significativo da demanda mundial por óleo de soja, o que fez os preços dispararem. A isso se soma o crescente interesse por biodiesel, que tem o óleo de soja como a principal matéria-prima, devido à alta no preço internacional do petróleo.

    No caso do leite UHT, também foi registrada forte alta de preço. Nos últimos 12 meses, aponta a Horus, ele acumulou variação de 27%, 9,5% apenas no mês de abril.

    “A dificuldade de matéria prima e o aumento dos combustíveis são fatores que impactam demais no custo, que aumenta; como o consumidor vai ao mercado em busca de oferta, o estoque cai enquanto essa relação entre varejo e indústria busca chegar a um meio termo”, conclui o CCSO da Neogrid.

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