PCC lavou R$ 6 bilhões usando fintechs, mostra investigação

2GO Bank e a InvBank movimentaram dinheiro para o Primeiro Comando da Capital em diversos países; esquema envolvia empresas de fachada e contas de laranjas
Mariana Grasso, da CNN*, Guilherme Rajão e Rafael Saldanha, da CNN, em São Paulo
Fintechs são investigadas por lavagem de dinheiro do PCC  • Polícia Federal
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Cerca de R$ 6 bilhões foram movimentados de forma ilegal pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) através de duas fintechs, a 2GO Bank e a InvBank, utilizando mecanismos financeiros "sofisticados" para ocultar a origem e os beneficiários dos recursos, segundo investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (GAECO).

Além do Brasil, esse valor teria sido movimentado em países como os Estados Unidos, Paraguai, Peru, Holanda, Argentina, Bolívia, Canadá, Panamá, Colômbia, Inglaterra, Itália, Turquia, Dubai e, principalmente, Hong Kong e China.

A investigação deu origem a Operação Hydra, deflagrada pela Polícia Federal e o GAECO nesta terça-feira (25), que revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

Na ação, o policial civil Cyllas Elia Junior foi preso. A CNN apurou que ele se apresenta como CEO da 2GO Bank, uma das instituições financeiras alvos da operação. Tanto a 2GO quanto a InvBank foram delatadas por Vinicius Gritzbach, empresário morto no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024.

Elia Junior já havia sido preso em 2024 por lavagem de dinheiro para criminosos chineses.

Na operação de hoje, os agentes também cumprem um mandado de prisão contra o dono de uma das fintechs. Há ainda dez ordens de busca e apreensão nas sedes das companhias e em endereços de seis pessoas que trabalham nas fintechs.

Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo.

A Justiça determinou o bloqueio de valores em oito contas bancárias e a suspensão temporária das atividades econômicas das instituições financeiras envolvidas.

A operação desta terça-feira (25) é um desdobramento da delação do empresário Vinícius Gritzbach. Segundo os investigadores, as instituições financeiras encaminhavam os depósitos para contas de “laranjas”, das quais tinham total controle.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), responsável pela Polícia Civil de São Paulo, informou que Cyllas Elia Junior já havia sido afastado de suas funções em dezembro de 2022. A Corregedoria da corporação acompanha a ação desta terça para colaborar com as investigações.

A CNN solicitou um posicionamento às fintechs citadas e aguarda um retorno.

Veja nota do InvBank

"Carlos Alexandre Ballotin e Marcelo Henrique da Palma manifestam absoluta indignação com a injusta inclusão de seus nomes em denúncia do MPSP por suposições que já foram devidamente esclarecidas na fase de investigação. A defesa lamenta a exploração midiática de uma denúncia extremamente genérica e sem qualquer materialidade contra seus clientes e esclarece o seguinte:

A InvBank, durante a gestão do Sr. Carlos (2020 até setembro de 2022, quando foi vendida), nunca se relacionou com qualquer fintech citada, tampouco operava como tal. Sua movimentação financeira, no período, não superou a cifra de 60 mil reais mensais, devidamente informada ao Fisco, conforme documentação apresentada à polícia. Nenhuma das pessoas mencionadas na denúncia eram clientes da plataforma do InvBank à época da gestão do Sr. Carlos.

A transação financeira de Anselmo em favor da pessoa jurídica Invbank, limitou-se a transferência bancária entre a Caixa Econômica Federal e a conta PJ da empresa no Banco Itaú. Sua finalidade foi a de constituir sociedade em conta de participação (SCP) para investimento em um empreendimento imobiliário.

O negócio não se confunde com serviços financeiros prestados pelo Invbank e é absolutamente legítimo, com documentação já à disposição das investigações.

Importante ressaltar que não havia, até aquele momento (outubro de 2021), qualquer informação pública a respeito de práticas criminosas atribuídas ao sr. Anselmo, incluindo a pesquisa de certidões cíveis e criminais.

Somente após a morte do sr. Anselmo é que o sr. Carlos Ballotin, assim como todo o público, tomou conhecimento das acusações e a SCP foi desfeita, com a devolução integral de todos os valores depositados ao espólio do falecido.

Em relação às transações entre os srs. Carlos e Marcelo entre 5/2020 e 2/2021, os depósitos têm origem lícita e documentada perante a Receita Federal, sendo proveniente de receitas obtidas com o trabalho como advogados, como sócios."

Leandro Ponzo, advogado”

*Sob supervisão