Justiça pede exames psicológicos a aluna condenada por desvio na USP
Determinação acontece após Alícia Muller conseguir registro profissional como médica
Após a CNN relevar que Alicia Dudy Muller Veiga, condenada por desviar quase R$ 1 milhão da comissão de formatura de medicina da USP, conseguiu o registro profissional como médica, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediu à Justiça que a ex-estudante de medicina passe por exames psicológicos.
O pedido foi aceito pela 32ª Vara Criminal da Barra Funda do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no dia 3 de fevereiro deste ano. A medida veio à tona após a Justiça retirar o sigilo do processo de estelionato.
O MP afirma que Alicia tentou se “safar das consequências dos seus atos, ou, pelo menos, minimizar o que a lei estabelece como pena para as suas condutas” ao alegar inimputabilidade, condição quando não se sabe entender o que é ou não crime.
O argumento é contraditório, segundo o Ministério Público, com a obtenção do registro de médica:
A ré vem aqui alegar possuir problemas psiquiátricos, transtornos de personalidade e tudo o mais para minimizar as consequências de seus atos, de outro, (…) vai consultar pessoas doentes, prescrever remédios e atuar como se nada desses problemas psicológicos e psiquiátricos por ela supostamente enfrentados realmente existissem
Vagner dos Santos Queiroz, promotor de justiça
O MP solicitou exames de perícia para esclarecer a condição mental de Alicia e saber se a jovem possui condições psicológicas e psiquiátricas de exercer a medicina.
A CNN procurou o advogado que defende a jovem na quarta-feira (19), data da publicação da reportagem, e não obteve retorno. Na noite de quinta-feira (20), a defesa de Alícia enviou um e-mail à produção da CNN questionando a publicação da reportagem, argumentando que o texto “vincula de maneira equivocada o incidente de insanidade mental instaurado no processo criminal à capacidade profissional” de Alícia.
A defesa aponta, ainda, que os exames pedidos são referentes à época dos fatos que aconteceram na USP. “Esclarece-se que o incidente de insanidade mental tem por objeto exclusivo a análise da condição psíquica da requerente à época dos fatos imputados, e não sua capacidade profissional, que é de competência exclusiva do Conselho Regional de Medicina (CRM), conforme disposição constitucional (art. 109 da CF)”, diz a mensagem enviada.
Alicia conquistou o CRM
Após a condenação, Alicia conseguiu o registro profissional como médica e já aparece como ativa no Conselho Federal de Medicina (CFM) até a noite desta quarta-feira (19).
A inscrição no CRM foi realizada em 26 de dezembro de 2024. No entanto, não consta sua especialidade e área de atuação.

Relembre o caso
No fim de 2021, a jovem, que era presidente da comissão, solicitou a transferência dos valores para uma conta pessoal sem o aval de outros estudantes integrantes do grupo.
Aos colegas, Alicia declarou que sacou o dinheiro da conta porque a empresa contratada não estava prestando um bom serviço, e decidiu investir o recurso junto em uma corretora, de quem teria, posteriormente, sofrido um golpe.
A Polícia e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) não acreditaram em sua versão, sendo denunciada pela prática de estelionato por oito vezes.
A Justiça de São Paulo aceitou a denúncia, e em julho do ano passado Alicia foi condenada pela 7ª Vara Criminal a cinco anos de reclusão em regime semiaberto.
A sentença também determinou o pagamento de indenização às vítimas, no mesmo valor do prejuízo causado.