Situação atual do Rio sinaliza para a necessidade de lockdown, aponta documento
Estudo da Secretaria Estadual de Saúde está nas mãos de Wilson Witzel e afirma que é grande a possibilidade de saturação do sistema de saúde do estado
Um documento da Secretaria Estadual de Saúde considera que o atual estágio da epidemia de coronavírus no Rio de Janeiro já mostra a necessidade de um bloqueio total do estado, com restrições amplas à circulação – o chamado ‘lockdown’. A CNN obteve acesso ao documento e confirmou que ele foi apresentado ao governador Wilson Witzel para subsidiar sua resposta ao Ministério Público do estado. No texto, a pasta afirma que 98% dos leitos de UTI estão ocupados. O cenário é grave, pois a Secretaria reconhece que as previsões estão baseadas em dados subnotificados e sem atualização. Mas mesmo com essas lacunas, a secretaria reconhece “a possibilidade de saturação do sistema de saúde” do estado do Rio e afirma que a taxa real de infecção no estado “é desconhecida” porque não foi possível realizar a testagem em massa da população.
Na segunda-feira (6), o órgão pediu que o governo fluminense apresentasse um estudo sobre o tema. Na resposta, o governador afirma que considera o bloqueio de todas as estradas do estado e a proibição expressa da circulação de pessoas e veículos particulares nas cidades, exceto para atividades essenciais. A análise da Secretaria de Saúde, no entanto, é mais dura do que a resposta que Witzel decidiu apresentar ao MP. Segundo a pasta, desde o dia 02/04 que a taxa de crescimento diário de casos de coronavírus caiu, como efeito das medidas de isolamento social decretadas no estado.
Mas de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, essa diferença na taxa de crescimento pode ter influência da subnotificação de casos, uma vez que os testes para Covid-19 só são realizados em casos graves. “Existe preocupação quanto à observação que o número de casos aumenta com uma velocidade possivelmente muito maior, fazendo com que a subnotificação aumente com o tempo”, diz trecho da análise feita pela pasta.
Há duas projeções de cenários para o Rio de Janeiro até o final de maio. Na estimativa mediana, a pasta prevê que haverá demanda por 1050 leitos de UTI no estado, dos quais 258 precisaram de ventilação. A estimativa pessimista é de que no dia 31 deste mês a demanda será por 2269 leitos de UTI, sendo 558 com necessidade de ventilação mecânica. Na quinta-feira (7), a CNN mostrou que a Secretaria de Saúde aguarda a abertura de 3.131 leitos no estado. O Rio tem 1.394 mortes e 14.156 casos confirmados de coronavírus.
Em mais um sinal do colapso do sistema de saúde do Rio de Janeiro, o número de mortes de pessoas em casa cresceu 40,6% desde o começo da pandemia do coronavírus, de acordo com levantamento dos Cartórios de Registro Civil do Brasil. Os dados mostram que houve aumento de mortes por síndrome respiratória aguda grave, insuficiência respiratória, infecção generalizada e causas indeterminadas, além de causas naturais. De acordo com o documento da Secretaria Estadual de Saúde, a responsabilidade pelo transporte de pacientes com Covid-19 é dos municípios.
