Sete conselheiros do CNJ pedem à corregedoria para investigar juíza de SC
Joana Ribeiro Zimmer é investigada por atuação no caso da menina de 11 anos impedida de fazer um aborto após ter sido estuprada
Sete conselheiros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição vinculada ao Supremo Tribunal Federal (STF), fizeram uma representação para que a corregedoria do órgão acompanhe sistematicamente as apurações sobre a conduta da juíza Joana Ribeiro Zimmer, de Santa Catarina, envolvida no caso da criança de 11 anos grávida em decorrência de um estupro e impedida de realizar o aborto, segundo informações da âncora da CNN Daniela Lima.
Na representação, os sete membros do CNJ tratam a audiência conduzida pela juíza como “escabrosa” e palco de violência institucional contra a menina.
Na referida sessão, divulgada em uma reportagem publicada pelas jornalistas Paula Guimarães, Bruna de Lara e Tatiana Dias, do Portal Catarinas e do Intercept Brasil, a magistrada chegou a perguntar à vítima se ela “suportaria ficar mais um pouquinho” grávida e se o “pai do bebê concordaria com a entrega para adoção”.
Zimmer também autorizou que a criança fosse levada a um abrigo, sob a justificativa de que haveria “risco” da mãe efetuar “algum procedimento para operar a morte do bebê”.
A tentativa de aborto foi recusada no hospital em que a menina foi levada, em razão de o tempo de sua gestação ter superado o limite de semanas estabelecido pelas normas internas.
Apesar de o aborto ser permitido em casos de estupro, durante a audiência, a juíza sugere que a menina aguente mais um pouco a gestação para que possa entregar o bebê à adoção.
Embora Zimmer tenha citado o “risco de morte do bebê” para justificar a ida da vítima para o abrigo, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) afirma que o pedido de acolhimento provisório foi feito “com o único objetivo” de colocar a criança a salvo de possíveis novos abusos.
Hoje (21), a Justiça autorizou que a vítima retorne a sua casa, uma vez que o agressor não está no local, segundo informações da advogada da família, Daniela Felix.
Ainda nesta terça-feira, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) confirmou que a juíza não representa mais o caso desde a última sexta-feira (17), por ter sido promovida dias antes.
Durante sessão do CNJ realizada nesta terça-feira (21), o conselheiro e ex-secretário-geral da Mesa do Senado, Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, afirmou que o tratamento dado à menina estuprada é uma “violência institucional, quando o Estado ‘revitima’ aquela criança que merecia proteção”.
“Uma criança que havia sido vitimada por estupro e estava grávida foi induzida, de certa forma, no contexto da audiência, a desenvolver uma espécie de carinho por aquele feto”, disse o conselheiro. “Fazendo perguntas como ‘que nome você daria para o bebê?’, ou ‘você acha que o pai do bebê concordaria em dar para adoção?’. Não estamos falando de um pai, estamos falando de um estuprador. Então acredito que essa criança merecia proteção”, completou Bandeira de Mello.
O conselheiro disse, também, que já foi oficializado um requerimento para que o CNJ acompanhe a apuração da Corregedoria-Geral do TJ-SC a respeito da “eventual responsabilidade disciplinar” da juíza Joana Ribeiro Zimmer, que impediu a realização do aborto.
“Já conversamos com a nossa corregedora, que também está de acordo com esta providência. A nossa principal preocupação é não permitir, não mandar a mensagem que o CNJ endossa, ou faz pouco caso, daquelas cenas que nós todos, lamentavelmente, vimos”, afirmou Bandeira de Mello.
MP abre apuração
A Corregedoria-Geral do Ministério Público de Santa Catarina informou, em comunicado, que ao tomar conhecimento dos fatos ocorridos com a menina, instaurou uma reclamação disciplinar para apurar a atuação do membro do Ministério Público que atua no caso.
O corregedor-geral do MPSC, Fábio Strecker Schmitt, também já informou a Corregedoria Nacional do Ministério Público (CNMP) sobre a existência da investigação em andamento.