Seguranças que teriam agredido mulheres trans prestam depoimento
A Polícia investiga o caso, que aconteceu na Lapa, como lesão corporal, transfobia e roubo
A Polícia Civil do Rio de Janeiro planeja ouvir nesta sexta-feira (26) todos os seguranças de uma casa de shows onde mulheres transsexuais teriam sido agredidas, após uma roda de samba na Lapa, na região central da capital fluminense.
A denúncia é do último dia 19, mas, segundo o delegado responsável pelo caso, Bruno Ciniello, somente na quarta-feira (24) a polícia teve acesso à lista de profissionais que atuavam no Casarão do Firmino no dia em que tudo teria acontecido. Oito depoimentos devem ser colhidos.
Na quinta-feira (25), as três vítimas, as duas mulheres trans e a irmã de uma delas, que é cis, foram ouvidas na 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), além de testemunhas. Um vídeo curto, ao qual os investigadores tiveram acesso, mostra os homens de camisa preta chutando uma das vítimas, já caída no chão. Outras imagens também já estão em posse da Polícia Civil.
O caso é investigado como lesão corporal, transfobia e roubo. A Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) assumiu a defesa das mulheres nesta segunda-feira (22). Os advogados das vítimas pretendem que seja investigada a tentativa de homicídio.
Pelas redes sociais, o Casarão do Firmino afirmou que reconhece a gravidade do caso e que ofereceu suporte às vítimas. O estabelecimento disse, também, que afastou preventivamente os envolvidos até o fim da investigação policial, com a qual a casa de shows diz colaborar. O espaço informou, ainda, que realiza treinamento especializado dos funcionários e que está aumentando os critérios de seleção de novos colaboradores.
Relembre o caso
Por meio das redes sociais, as duas mulheres, Zuri e Lua, as quais são designers de moda, compartilharam imagens com ferimentos pelo corpo. Elas afirmaram que sofreram intimidações e constrangimentos na casa de samba. Ao saírem do local, elas teriam sido agredidas por cerca de 15 homens, incluindo seguranças do espaço, com “nítida motivação transfóbica”.
Zuri contou, ainda, que teve o nariz quebrado e aguarda por cirurgia. Além disso, a mulher afirma que teve os pertences furtados pelos homens.
“Fui espancada por um grupo de homens, dentre eles seguranças, ambulantes e motorista do aplicativo Uber, que após me retirarem agressivamente do samba, iniciaram uma agressão verbal com falas transfóbicas como ‘pode bater que é tudo homem’, ‘eu pensava ser mulher, senão já tinha batido antes’, nos jogaram no chão e nos chutaram por todo o corpo, cabeça e rosto” explicou a designer em publicação no Instagram.
Lua também escreveu um desabafo dizendo que jamais imaginava passar por uma situação como essa. “Eu juro, eu jamais imaginei passar por algo assim nessa existência, porém eu sou uma mulher trans preta nessa existência e minha vida não vale nada para eles”, desabafou.