Rio Grande do Sul: entre secas e inundações, estado vive eventos extremos com sinais de mudanças climáticas
No Brasil, o El Niño provoca maiores volumes de chuvas no Sul, enquanto a La Niña diminui os volumes pluviométricos na região
- 1 de 80
Momento em que a ponte é arrastada pela água no interior do Rio Grande do Sul • Reprodução/redes sociais
- 2 de 80
Avião da FAB sobrevoa região alagada após fortes chuvas no Rio Grande Sul • Força Aérea Brasileira
- 3 de 80
Carro sendo recuperado por um guindaste após ser levado pela força da correnteza • Reprodução/ Portal Clic
-
- 4 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas
- 5 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 6 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
-
- 7 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 8 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 9 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
-
- 10 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 11 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 12 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
-
- 13 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 14 de 80
Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas • Reprodução/ Redes Sociais
- 15 de 80
Imagens de drone mostram dimensão da enchente em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul • Divulgação
-
- 16 de 80
Câmeras flagram grande deslizamento de terra em rodovia no RS; dois ficaram desaparecidos em São Vendelino • Reprodução
- 17 de 80
Prefeitura de Putinga alerta para possibilidade de rompimento de barragem. Cidade foi tomada pelas águas • Reprodução
- 18 de 80
Morador mostra queda de árvore em Porto Alegre • Divulgação
-
- 19 de 80
FAB resgata família após tempestades no Rio Grande do Sul • FAB
- 20 de 80
Casas inundadas perto do rio Taquari após fortes chuvas na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul • 01/05/2024REUTERS/Diego Vara
- 21 de 80
Casas inundadas perto do rio Taquari após fortes chuvas na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul • 01/05/2024REUTERS/Diego Vara
-
- 22 de 80
Trânsito bloqueado na RSC - 287, nas proximidades de Candelária • Prefeitura de Candelária/Reprodução
- 23 de 80
Imagens de drone mostram água invadindo ponte na BR-386, em Lajeado, no Rio Grande do Sul • Ismael Salvatori/Governo de Estrela
- 24 de 80
Vista aérea de área inundada perto do rio Taquari, na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul • 01/05/2024 REUTERS/Diego Vara
-
- 25 de 80
Pontos de alagamento em ruas da cidade de Venâncio Aires, no Rio Grande dos Sul, nesta quarta-feira, 01 de Maio de 2024, ocasionada pelas fortes chuvas e transbordamento do Rio Arroio Castelhano. Hoje, algumas ruas da cidade tiveram o acesso liberado, mas muitos moradores ainda encontram suas residências atingidas pela água • LEANDRO OSÓRIO/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
- 26 de 80
Imagem da barragem da Usina 14 de julho impactada pelas chuvas. Estrutura rompeu parcialmente no Rio Grande do Sul • Reprodução/Redes Sociais
- 27 de 80
As constantes chuvas no Rio Grande do Sul causaram a elevação do Rio Taquari, em Venâncio Aires, no Vale do Taquari • Leandro Osório/Ato Press/Estadão Conteúdo
-
- 28 de 80
Rio Guaíba, em Porto Alegre (RS), que ultrapassou a cota de transbordamento • Divulgação
- 29 de 80
Loja da Havan em Lajeado é tomada pelas águas • Reprodução/Twitter
- 30 de 80
Tecnologia de visão noturna usada pela FAB no resgate de vítimas no Rio Grande do Sul • Divulgação/FAB
-
- 31 de 80
Pessoas são resgatadas de telhados em alagamentos no RS • Divulgação/PMSP
- 32 de 80
Forças de segurança, como bombeiros, Exército e agentes públicos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), fecharam as comportas entre as Avenidas Mauá e Castello Branco, em Porto Alegre (SP), nesta quinta-feira, 2 de maio de 2024, por conta da cheia do Guaíba • Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo
- 33 de 80
Lula e Eduardo Leite em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em encontro para definir ações sobre os alagamentos • Ricardo Stuckert / PR
-
- 34 de 80
Áreas em vermelho que devem ser afetadas pela cheia do Guaíba, em Porto Alegre • Defesa Civil do RS
- 35 de 80
Comporta do Guaíba se rompeu em Porto Alegre (RS) após fortes chuvas que atingem o estado • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 3.mai.2024
- 36 de 80
Avenida alagada em Porto Alegre (RS) • Evandro Leal/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 3.mai.2024
-
- 37 de 80
Vista aérea da enchente que atinge a cidade de Porto Alegre,no Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, 03 de maio de 2024. • MIGUEL NORONHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
- 38 de 80
Terminal de ônibus em Porto Alegre (RS) ficou debaixo d'água • Isadora Aires/CNN - 3.mai.2024
- 39 de 80
Vista aérea da enchente que atinge a cidade de Porto Alegre (RS); ao fundo, o estádio Beira-Rio • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 3.mai.2024
-
- 40 de 80
Com transbordamento do Guaíba, ruas de Porto Alegre ficaram debaixo d'água • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 3.mai.2024
- 41 de 80
Avenidas de Porto Alegre (RS) foram tomadas pela água • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 3.mai.2024
- 42 de 80
Com risco de desabastecimento, Defesa Civil busca rotas para ajuda humanitária no Vale do Taquari • Defesa Civil do RS
-
- 43 de 80
Prateleiras vazias em supermercados de Porto Alegre, após fortes chuvas • Reprodução / Redes Sociais
- 44 de 80
Veja como ficou a loja da Havan em Lajeado após enchente devastadora no Rio Grande do Sul • Havan
- 45 de 80
Veja como ficou a loja da Havan em Lajeado após enchente devastadora no Rio Grande do Sul • Havan
-
- 46 de 80
Estragos em São Sebastião do Caí , no Rio Grande do Sul • Arquivo Pessoal
- 47 de 80
Vista geral da Praça da Alfândega, em Porto Alegre (RS), após cheia do Guaíba • Donald Hadlicj/Còdigo19/Estadão Conteúdo
- 48 de 80
Marcacão da Defesa Civil de Porto Alegre na Usina do Gasômetro, instantes antes da marca atingir 4,77 metros • Defesa Civil Porto Alegre
-
- 49 de 80
Ônibus do Grêmio foi praticamente encoberto pela água no CT Luiz Carvalho • Reprodução/Redes sociais
- 50 de 80
PM de SP resgata 10 vítimas ilhadas no RS • PMSP
- 51 de 80
Árvores ficam quase submersas no Parque da Marinha do Brasil, em Porto Alegre (RS) • Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre
-
- 52 de 80
Câmera de segurança da prefeitura mostra a altura da água no Centro Histórico de Porto Alegre (RS) durante enchente histórica • Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre
- 53 de 80
Vista aérea de veículos atingidos pelas fortes chuvas e enchentes em Encantado, no Rio Grande do Sul • 03/05/2024 REUTERS/Diego Vara
- 54 de 80
Porto Alegre (RS) é atingida pela maior enchente da história • Matheus Piccini/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 04.mai.2024
-
- 55 de 80
Região do Mercado Público de Porto Alegre (RS) foi tomada pela água durante enchente histórica na capital gaúcha • Reprodução/redes sociais
- 56 de 80
Casa destruída após tempestade em Sinimbu (RS), a cerca de 185 km de Porto Alegre • Gustavo Mansur/Palácio Piratini
- 57 de 80
Imagem de baratas "escapando" dos alagamentos da cheia do Guaíba em Porto Alegre viralizaram nas redes sociais • Reprodução/Redes Sociais
-
- 58 de 80
Ruas da cidade de Porto Alegre (RS) foram alagadas após o transbordamento do lago Guaiba, neste sábado, 4 de maio de 2024. As águas passaram de 5 metros. Imagem mostra pátio de carros tomado • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo
- 59 de 80
Equipes trabalham no resgate de pessoas que ficaram ilhadas após o lago Guaiba registrar cheia histórica, em Porto Alegre (RS) • Evandro Leal/Enquadrar/Estadão Conteúdo
- 60 de 80
Na maior enchente de Porto Alegre (RS), bombeiros usam sacos de areia para tentar escorar comporta do Guaíba • Matheus Piccini/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 04.mai.2024
-
- 61 de 80
Vista da pista alagada do Aeroporto Salgado Filho, localizado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), que está com as operações suspensas por tempo indeterminado • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo
- 62 de 80
Vista da pista alagada do Aeroporto Salgado Filho, localizado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), que está com as operações suspensas por tempo indeterminado • Miguel Noronha/Enquadrar/Estadão Conteúdo
- 63 de 80
Vista das ruas do centro da cidade de Porto Alegre (RS), onde equipes trabalham no resgate de pessoas que ficaram ilhadas após o Lago Guaiba registrar cheia histórica • MIGUEL NORONHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
-
- 64 de 80
Gramado da Arena do Grêmio foi tomado pela água das chuvas no RS • Reprodução/Instagram
- 65 de 80
Arredores da Arena do Grêmio ficaram alagados • Reprodução/Redes sociais
- 66 de 80
Alagamentos em Porto Alegre após cheia do lago Guaíba • Ricardo Reinbrecht
-
- 67 de 80
Rio Guaíba alagando rua em Porto Alegre • MetSul
- 68 de 80
Áreas em vermelho são afetadas pela cheia do Guaíba • Defesa Civil
- 69 de 80
Imagens da destruição em Arroio do Meio • Divulgação
-
- 70 de 80
Enchente na região do Centro Administrativo Municipal de Porto Alegre • Matheus Piccini/Fotoarena/Estadão Conteúdo
- 71 de 80
Região da Praça da Alfândega, em Porto Alegre (RS), antes e depois da enchente histórica • CNN
- 72 de 80
Imagens da destruição em Arroio do Meio • Reprodução
-
- 73 de 80
Vista aérea do Estádio Beira-Rio, neste domingo, 5 de maio de 2024. O entorno e diversos pontos da cidade encontram-se alagado devido às fortes cheias do Guaíba
- 74 de 80
Lula sobrevoa áreas atingidas por enchentes no Rio Grande do Sul • Ricardo Stuckert/PR
- 75 de 80
Pelo menos 3,5 mil animais ilhados pela chuva foram resgatados no Rio Grande do Sul • Grupo Amor em Patas
-
- 76 de 80
Ruas alagadas em Porto Alegre • 05/05/2024REUTERS/Renan Mattos
- 77 de 80
Ponte que liga os municípios de Lajeado e Estrela, no Rio Grande do Sul, foi danificada por causa das chuvas • Divulgação/Defesa Civil de São Paulo
- 78 de 80
Enxurrada destruiu a loja da Havan e arredores em Lajeado (RS) • Divulgação/Defesa Civil de São Paulo
-
- 79 de 80
Imagem de doações para vítimas das chuvas no RS • Edson de Souza/Thenews2/Estadão Conteúdo
- 80 de 80
Voluntários que têm embarcações e motos aquáticas estão liberados para auxiliar no resgate de vítimas das enchentes. Não há exigência de habilitação para condução desses equipamentos no Rio Grande do Sul • Gustavo Mansur/Secom
Atingido por duas inundações catastróficas no intervalo de apenas seis meses, depois de ter enfrentado quase três anos de seca inclemente, o Rio Grande do Sul virou o exemplo do que as mudanças climáticas podem fazer com eventos já considerados extremos, mas que vêm atingindo proporções cada vez piores em um mundo que não consegue conter o avanço da temperatura global, avaliam especialistas.
Nos últimos dias, o estado foi palco de uma confluência infeliz, explicam cientistas. De um lado, um El Niño extremamente forte, com todos os oceanos mais quentes, não apenas o Pacífico, como é comum no fenômeno, e uma onda de calor no Sudeste e no Centro-Oeste, que aumentou a umidade no ar e favoreceu a chegada de um ar quente e úmido ao Sul do Brasil.
Do outro lado, vinda da Antártida, uma frente fria com chuva e vendaval, mas sem força para empurrar o ar quente. Junto a isso, com o El Niño, as frentes andam de leste para oeste, em vez de sul para norte, o que faz com que chova mais tempo em um só lugar, explica o pesquisador Marcelo Schneider, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A combinação de fatores, no entanto, não é totalmente fora do comum, mas sim sua intensidade. Cientistas explicam que o Rio Grande do Sul sempre foi o ponto de encontro de sistemas tropicais e sistemas polares, o que criava um padrão que inclui períodos de chuvas intensas e outros de seca. A exacerbação dos fenômenos causados pelas mudanças climáticas, no entanto, aumenta o choque desses sistemas, piora fenômenos com El Niño e La Niña, e deixa o clima imprevisível.
“A mudança climática tem mais impacto do que o El Niño sozinho. Essas características típicas do RS estão se acentuando com a mudança do clima. A rivalidade entre o trópico aquecido e úmido e a Região Sul em direção à Antártida tem favorecido as tempestades severas, as frente frias intensas, os ciclones explosivos, as ressacas mais extensas”, explica o pesquisador Francisco Aquino, chefe do centro polar e climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O El Niño corresponde ao aumento da temperatura das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial, enquanto a La Niña corresponde à diminuição da temperatura dessas águas. No Brasil, o El Niño provoca maiores volumes de chuvas no Sul, enquanto a La Niña diminui os volumes pluviométricos na região.
Até a metade de 2023, o estado enfrentava uma estiagem histórica, fruto de um período longo de La Niña, que durou por mais de dois anos, com pouquíssimos períodos de chuva. O governo federal chegou a estudar a implantação de um sistema de cisternas em algumas regiões, da mesma forma que fez no Nordeste.
Foram três anos seguidos de quebras de safra agrícola no estado pela seca, com impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB). De uma participação de 6,53% no PIB do país em 2019, para 5,90% em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia e Estatística do governo gaúcho.
Em setembro do ano passado, já sob efeito do El Niño, o estado ficou debaixo d’água devido à passagem de um ciclone extratropical, em uma inundação que já era considerada histórica, com mais de 50 mortes registradas.
Agora, apenas seis meses depois, novas enchentes quebraram novamente os recordes. Nesse momento, quase metade dos municípios gaúchos foram atingidos pela chuva, em diversas regiões do Estado, com ao menos 31 pessoas mortas e mais de 70 desaparecidas, segundo dados da Defesa Civil estadual.
“Nem todos anos de El Niño temos desastres dessa magnitude. É notável que temos cada vez mas desastres e cada vez piores. O aquecimento global muda padrões do clima e eventos extremos se tornam cada vez mais frequentes. Uma atmosfera mais quente retém mais umidade, assim como um oceano mais quente gera mais energia, mais combustível para tempestades severas. Então fica tudo mais potencializado”, resume a pesquisadora Karina Lima, doutoranda em Climatologia pela UFRGS.
Lima explica que não foram feitos ainda os chamados estudos de atribuição, que verificam se um evento extremo foi tornado mais provável e/ou mais intenso devido às mudanças climáticas. “Mas é muito difícil que um evento dessa magnitude não tenha tido influência”, afirma.
A secretária de Mudanças Climáticas do MMA, Ana de Toni, ressalta que não há dúvidas que o país já está vivendo uma emergência climática e que casos como do Rio Grande do Sul e a seca extrema na Amazônia, efeitos do El Niño, foram exacerbados pelas mudanças no clima.
“Temos que fazer a adaptação. Claro que não significa que vamos deixar de lado a mitigação, mas ao mesmo tempo tem que fazer a adaptação a um mundo que vai viver com uma temperatura mais elevada”, disse.
Toni explica que o Brasil é muito vulnerável às mudanças climáticas, com uma economia agrícola muito forte que depende de padrões climáticos, energia baseada em hidrelétricas e uma grande população que vive em situações vulneráveis.
“A adaptação é muito, muito urgente. O custo da inação é muito maior”, diz.
O governo trabalha com planos de adaptação em 15 áreas, que passam por agricultura, infraestrutura, cidades, entre outras. Algumas das medidas, por exemplo, são planos de retirada de moradores de encostas, sempre vulneráveis à chuva; o desenvolvimento de sementes mais resistentes; estudos de infraestrutura para construção de estradas, pontes, etc, que sejam mais resistentes.
“Estamos vivendo essas mudanças climáticas, que estão chegando muito mais rápido e muito mais forte. Precisamos adaptar e mitigar ao mesmo tempo”, defendeu.