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    Renato Cariani ofereceu substância “puríssima” a falso representante de empresa, diz PF; veja mensagem

    Empresa investigada pela Polícia Federal recebeu depósitos em dinheiro pelo fornecimento de produtos químicos

    Marcos Guedesda CNN

    São Paulo

    Trocas de e-mails entre o influencer fitness Renato Cariani e um homem que se passou por representante da farmacêutica AstraZeneca revelam que o, agora, alvo da Polícia Federal por suposta participação no desvio de substâncias utilizadas pelo tráfico de drogas, ofereceu produto ‘puríssimo’ ao intermediário.

    Os documentos fazem parte do relatório de uma investigação conduzida pela Polícia Federal que antecedeu a Operação Hinsberg. O inquérito apontou que o homem que se passou por comprador da farmacêutica manteve contato direto com Cariani e fez diversas cotações, além de fazer depósitos em dinheiro para quitar as compras dos insumos.

    De acordo com documentos do processo ao qual a CNN teve acesso, a investigação começou quando a empresa Anidrol Produtos para Laboratórios LTDA, que tem o influencer como sócio-administrador, declarou ao fisco que vendeu produtos químicos para a AstraZeneca.

    E-mail de Renato Cariani com informações sobre produtos / Reprodução

    Os pagamentos recebidos pela empresa do influencer foram feitos por depósitos bancários atribuídos à farmacêutica, em duas notas fiscais de R$103.500,00, no ano de 2015 e 108.500,00, no ano de 2016.

    Segundo a investigação, quando a Receita Federal questionou a farmacêutica sobre os pagamentos, a Astrazeneca começou uma apuração interna envolvendo diversos setores da empresa.

    Ao não encontrar informações sobre os depósitos, a empresa também apurou que a Anidrol não constava entre os fornecedores, o que “impede a realização de qualquer tipo de transação ou movimentação comercial, seja de compra ou venda”, segundo documento.

    A farmacêutica também avançou na investigação interna e concluiu que o homem que se apresentava como comprador jamais foi funcionário da empresa. Além disso, em ofícios enviados à PF, a AstraZeneca informou que não compra “cloreto de lidocaína” no Brasil e comunicou a possível fraude.

    Detalhes de mensagem enviada por Renato Cariani / Reprodução

    Na época da apuração, os policiais tiveram acesso aos e-mails da empresa de Cariani e aos extratos bancários. As conversas sugerem que foram feitas diversas transações, entre ofertas e compras.

    Nos e-mails, também consta a informação de que a mesma operação foi realizada junto a uma empresa de menor porte do que a farmacêutica mundialmente conhecida. Os representantes também reagiram da mesma forma, dizendo que não adquiriram produtos da Anidrol.

    A conclusão do inquérito é de que houve a “falsificação de dados de empresa nacional para a compra fraudulenta de insumos utilizados para a fabricação de drogas”, diz o documento.

    Retorno de e-mail para Renato Cariani / Reprodução

    A continuação da investigação

    No inquérito seguinte, policiais federais passaram a investigar o homem que se passava como representante comercial. No que havia sido apurado até ontem (12), quando a operação foi desencadeada, a Polícia Federal identificou que aproximadamente 19 toneladas de crack e cocaína podem ter sido fabricadas a partir dos produtos que teriam sido desviados pelo grupo.

    “Foram identificadas 60 transações dissimuladas vinculadas à atuação desta organização criminosa, totalizando, aproximadamente, 12 toneladas de produtos químicos (fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila), correspondendo a mais de 19 toneladas de cocaína e crack prontas para consumo”, diz a PF.

    A PF diz que “as pessoas relacionadas aos fatos investigados responderão, cada qual dentro da sua esfera de responsabilidade, pelos crimes de tráfico equiparado, associação para fins de tráfico, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro”. As penas combinadas podem ultrapassar 35 anos de prisão, acrescenta a corporação.

    FOTOS — Veja imagens da operação

    Cariani

    A CNN tenta contato com Cariani sobre a troca de e-mails e aguarda retorno.

    O que diz a AstraZeneca

    No que se refere à Operação Hinsberg, a AstraZeneca do Brasil confirma que, em 2019, procurou a Polícia Federal para comunicar possíveis fraudes relacionadas a notas fiscais emitidas indevidamente em nome da farmacêutica. A AstraZeneca reforça ainda que nunca teve nenhuma relação comercial com a Anidrol e que a referida empresa não integra sua lista de fornecedores cadastrados.

    A farmacêutica esclarece também que não realiza pagamentos em espécie a nenhum tipo de prestador de serviços ou fornecedor e que não reconhece o nome de Augusto Guerra, que integra as investigações, como possível colaborador da empresa.