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    Relembre a disputa entre Silvio Santos e Zé Celso pelo Parque do Bixiga

    Dramaturgo e empresário brigavam na Justiça pelo terreno ao lado do Teatro Oficina há 43 anos

    Croqui de projeto do Parque do Bixiga
    Croqui de projeto do Parque do Bixiga Divulgação

    Felipe Romerocolaboração para a CNN

    São Paulo

    A criação do Parque do Bixiga, na região central de São Paulo, está mais próxima após a Câmara Municipal de São Paulo aprovar em primeira votação a proposta da Prefeitura de pagar R$ 64 milhões pelo terreno pertencente ao Grupo Sílvio Santos (GSS). O grupo pedia R$ 80 milhões pela área. A matéria ainda passará por uma segunda votação.

    A disputa caminha para sua conclusão após a trágica morte do dramaturgo Zé Celso Martinez causada por um incêndio em seu apartamento, em julho de 2023.

    Começo da disputa

    O Teatro Oficina foi criado por Zé Celso e estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco como um grupo amador, mas logo encontrou no imóvel da rua Jaceguai sua sede. Adquirido em 1961, a primeira reforma no antigo teatro apresentou uma transgressão arquitetônica: o palco no centro com arquibancadas subindo até o teto nas laterais.

    Foi só na década de 1980 que o apresentador Silvio Santos comprou o terreno ao lado do Teatro Oficina, com planos de erguer um arranha-céu para seu grupo empresarial. 

    Temendo que o prédio prejudicasse o espaço cênico, Zé Celso decidiu entrar na Justiça contra o empreendimento.

    Construção de torres

    Na década de 2010 o Grupo Sílvio Santos tentou levar a cabo um projeto para erguer três grandes torres com imóveis comerciais e residenciais no terreno, sendo que duas delas impediriam a vista do teatro. O projeto foi barrado em 2016 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, responsável pelo primeiro tombamento do teatro.

    No ano seguinte, Silvio Santos e Zé Celso tiveram encontros para resolver o imbróglio, mas não chegaram a um acordo. Foi nessa época que o dramaturgo sugeriu a criação do Parque do Bixiga. 

    Em 2018, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) autorizou a construção das torres com restrições que respeitassem o tombamento do Teatro Oficina, mas o Ministério Público Federal interviu e a Justiça impediu a construção.

    Casamento, ipê e multa de R$ 200 mil 

    Zé Celso casou-se com o também dramaturgo Marcelo Drummond em junho de 2023, em uma festa para amigos no Teatro Oficina. Os noivos foram presenteados pelas atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres com um ipê, que Zé Celso decidiu plantar no terreno disputado. 

    Poucos dias depois o dramaturgo foi surpreendido com uma decisão judicial que o proibia de plantar a árvore no terreno ao lado do teatro, sob multa de R$ 200 mil para qualquer intervenção que pudesse prejudicar a posse do imóvel. 

    O dramaturgo chegou a convidar Silvio Santos para o casamento e sugeriu que o empresário doasse o terreno como presente para o casal. 

    “É a vida como ela é. Vivemos no capitalismo. É muito mais fácil fazer o que eles fizeram (entrar com o pedido liminar) do que ter uma atitude de grandeza e generosidade e doar o terreno”, lamentou o dramaturgo.

    Arcos emparedados

    Em fevereiro de 2024 a disputa teve um de seus últimos capítulos. Na manhã do dia 5, artistas e funcionários do Oficina foram surpreendidos por funcionários do Grupo Sílvio Santos que fecharam com tijolos os arcos cênicos que davam acesso ao terreno, além de retirar uma escada metálica do local. 

    A ação aconteceu sem autorização dos órgãos competentes, o que levou o Iphan a notificar o GSS. O grupo empresarial afirmou estar “seguro de ter agido no estrito cumprimento das leis e das decisões judiciais.” 

    Melhor teatro do mundo

    O jornal britânico “The Guardian” elegeu, em 2015, o Oficina como o melhor teatro do mundo. “O Teatro Oficina tem ângulos de visão desafiadores, assentos duros e uma forma que é exatamente a que os teatros não deveriam ter, mas é mais intenso precisamente por isso”, dizia a publicação sobre o espaço criado para que o público estivesse dentro dos espetáculos.

    Além da primeira reforma que desafiava o conceito clássico de arena, na década de 1990 o Oficina passou por mais uma grande obra, projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, responsável também pelo projeto do Masp. 

    Uma das particularidades do projeto da italiana é uma grande janela em uma de suas partes laterais, que possibilita ao telespectador enxergar com certo privilégio a paisagem da cidade de São Paulo, além de trazer iluminação natural ao palco.