Recorde de mortes por policiais no Rio é destaque no ‘New York Times’
Segundo reportagem, dados coincidem com as promessas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e o governador Wilson Witzel durante suas campanhas em 2018


O jornal norte-americano The New York Times colocou o Brasil na capa da edição desta segunda-feira (18). Uma foto de crianças paradas em uma rua do Rio de Janeiro em meio a disparos de arma de fogo ilustra a chamada para a matéria “‘Impunidade reina’: por dentro do recorde anual do Rio de 1.814 mortes cometidas por policiais”.
A reportagem começa contando o história de Rodrigo dos Santos, um jovem de 16 anos que carregava maconha, cocaína e crack em um mochila e foi baleado no braço e nas costas, por policiais, quando tentou fugir no Complexo do Chapadão, zona norte do Rio, em março de 2019.
A matéria informa que a polícia não confirmou que o garoto estava armado e um dos oficiais envolvidos na ação, o sargento Sergio Britto, continua em serviço, apesar de estar envolvido em um processo no qual é acusado de matar outro homem com um tiro no pescoço.
Segundo o NYT, foram registradas 1.814 mortes cometidas por policiais em 2019 no estado do Rio de Janeiro, região “com um longo histórico de brutalidade policial e uma liderança política que prometeu ‘cavar covas’ para frear o crime”.
O jornal afirma que analisou cerca de 50 casos de mortes cometidas por agentes no bairro onde Rodrigo foi morto. Segundo a publicação, os policiais atiram nas pessoas sem qualquer tipo de restrição e ainda são protegidos pelos seus superiores, de forma que, mesmo quando são investigados por essas mortes, não são impedidos de trabalhar.
Assista e leia também:
Polícia Federal intercepta carga de fuzis e drogas em rota de tráfico para o Rio
Após prisão de traficante em Moçambique, DF pede transferência de líderes do PCC
De acordo com o NYT, de todos os casos analisados, em 20 deles a vítima foi baleada ao menos três vezes, um quarto das ocorrências envolvia um oficial já acusado de homicídio e metade delas envolvia um agente acusado de cometer ao menos um crime.
A matéria diz que enquanto a criminalidade no Rio de Janeiro diminuiu, o número de mortes cometidas por policiais aumentou, e que isso coincide com as promessas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador Wilson Witzel (PSC) durante suas campanhas em 2018.
No caso de Rodrigo, o oficial envolvido na ação, o sargento Britto, de 38 anos, teve participação em outras 20 mortes em serviço, diz a reportagem. Promotores tentaram tirá-lo das ruas, mas seus advogados argumentaram que ele agiu em legítima defesa. O NYT informa que tentou entrar em contato com ele, mas não teve retorno.
Ainda segundo a reportagem, uma promotora disse que é difícil construir casos contra os agentes, pois as famílias das vítimas temem represálias se denunciarem os abusos cometidos por eles.
Além disso, a matéria afirma que, de acordo com traficantes e moradores, os policiais exigem o pagamento de grandes quantias de dinheiro e ameaçam prendê-los ou matá-los se eles não pagarem.
O jornal entrevistou membros da Polícia Militar do Rio de Janeiro, promotores, membros da família de Rodrigo dos Santos, testemunhas da morte dele, moradores do Complexo do Chapadão e traficantes.
