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    Quase 40% de toda água potável captada não chega às residências do país

    O volume equivale a 7,5 mil piscinas olímpicas de água tratada desperdiçada diariamente, segundo dados de 2019

    Adriana Freitas e Isabelle Resende, da CNN, no Rio de Janeiro

     

    Em meio à crise hidrológica histórica enfrentada pelo Brasil nos últimos meses e as consequências na oferta de energia, mais uma preocupação surge – como mostra pesquisa do Instituto Trata Brasil. O país sofre com a grande ineficiência na distribuição da água potável pelas cidades. 

    Só em 2019, 39,2% de toda água potável captada não chegou de forma oficial às residências do país, o que representa um volume equivalente a 7,5 mil piscinas olímpicas de água tratada desperdiçada diariamente, ou sete vezes o volume do Sistema Cantareira – maior conjunto de reservatórios para abastecimento do estado de São Paulo.

    Considerando a água que não chega às casas brasileiras, 60% deste volume se perde por conta de vazamentos causados por canos estourados e problemas de infraestrutura de tubulações corroídas. Essa quantidade de água é suficiente para abastecer mais de 63 milhões de brasileiros em um ano, equivalente a 30% da população do país em 2019. O restante da água que não chega ao destino se perde por conta de furtos e erros de leitura dos hidrômetros.

    Esse volume seria, portanto, mais que suficiente para levar água aos quase 35 milhões de brasileiros que até hoje não possuem acesso a abastecimento nem para lavar as mãos em plena pandemia de Covid-19. Essa quantidade poderia também atender, por quase três anos, aos mais de 13 milhões de brasileiros que habitam em favelas.

    Os dados constam em um levantamento inédito feito pelo Instituto Trata Brasil e divulgado nesta segunda-feira (31). Utilizando como base o Índice de Perdas na Distribuição, o estudo ressalta que desde 2015 o país vem piorando. De 2015 a 2019 houve aumento de 2,5 pontos percentuais nesta modalidade de desperdício.

    No que se refere ao impacto ambiental, o volume de água que poderia ser economizado da natureza ajudaria a manter mais cheios os rios e reservatórios espalhados pelo país, que hoje sofre com a escassez de recursos.

    Uma redução dos atuais 40% de Índice de Perdas de Faturamento Total para índices próximos a 25%, meta prevista pela Portaria Nº 490 do Ministério do Desenvolvimento Regional, permitiria a economia de um volume da ordem de 2,2 bilhões de m³ (metros cúbicos) de água.

    Significa que, mesmo uma redução não tão ambiciosa nas perdas de água já resultaria em volume suficiente para atender a aproximadamente 39 milhões de brasileiros em um ano – número equivalente aos brasileiros historicamente sem acesso.

    Indicadores por região

    A região Norte do país, detentora dos piores índices de saneamento, também é onde se registra o maior Índice de Perda de Distribuição, chegando a 55,2%. Ou seja, a região perde mais da metade da água potável produzida. Não muito atrás, a região Nordeste também aponta indicador alto, com 45,7%. O Índice de Perda de Distribuição das regiões Norte e Nordeste é maior do que a índice nacional que registra perda de 39,2%. Em terceiro lugar no ranking está a região Sul (37,5%) seguida do Sudeste (36,1%).

    A região que mais apresentou piora no período 2015-2019 foi o Norte com aumento de 0,09 ponto percentual. Novamente uma melhora na região Centro-Oeste, com redução de 0,01 ponto percentual nos anos avaliados.

    Indicadores de perdas de água por estado

    O estado de Goiás foi o que apresentou a menor perda (29%) e o Amapá, a maior (74%). 15 Unidades da Federação apresentam indicadores piores que a média nacional (39%), incluindo o Rio Grande do Sul e quase todos os estados da Região Norte, com exceção do Tocantins.

    Destaques positivos

    Ao analisar as 100 maiores cidades do país, o estudo destaca as 10 cidades com o menor Índice de Perdas, ou seja, que tenham o percentual abaixo dos 39%, que é o índice nacional. Em primeiro lugar, está a cidade de Santos, no litoral sul de São Paulo, que tem o menor índice de perda de água potável – 11,94%. Em segundo lugar, a cidade de Limeira, também no estado de São Paulo (12,25%). 

    Entre as dez cidades com menor índice de desperdício de água potável, está Petrópolis, na Região Serrana do estado do Rio. A cidade aparece em oitavo lugar com 22,4% de perda.

    Destaques negativos

    Entre as dez cidades com o maior Índice de Perdas na Distribuição, cinco são da Região Norte. Porto Velho é a cidade com maior percentual (83,88%), seguida por Macapá e Manaus.

    Para o presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, ao não atacar o problema, as empresas operadoras de água e esgotos precisam buscar mais água na natureza, não para atender mais pessoas, mas para compensar a ineficiência. Em momentos de pandemia e pouca chuva, isso cobra um preço altíssimo à sociedade”.

    Reservatório de água
    Reservatório de água em período de seca
    Foto: Reprodução / CNN