Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    CNN Plural

    ‘Projeto de estado no Brasil para os negros ainda é cunhado no século 19’, diz especialista

    À CNN Rádio, o cientista social Dagoberto José Fonseca avaliou os resultados da abolição da escravidão, que completa 134 anos em 13 de maio

    Nicole FuscoTalita AmaralMatheus Meirellesda CNN

    Em São Paulo

    No dia 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea, que abolia a escravatura no Brasil. Mas, 134 anos depois, uma pergunta persiste: será que realmente houve uma abolição dos negros e negras no país?

    Em entrevista ao CNN no Plural, da CNN Rádio, o cientista social e antropólogo Dagoberto José Fonseca, trouxe reflexões sobre o assunto. “Atualmente, quando falamos de mapa da fome, que voltou no Brasil, quem vive esse mapa da fome? Quando falamos de mapa da violência, quem são os mortos no Brasil pelo estado brasileiro? É essa mesma população que tem um histórico de violência. O projeto de nação no Brasil ainda é um projeto cunhado no século 19”, afirmou ele.

    Após a assinatura da Lei Áurea, os negros se tornaram descartáveis, segundo Fonseca. “Eles não tinham acesso a escolas, a trabalho, não tinham acesso às condições básicas de saúde. Havia um projeto efetivo de eliminação dessa população”. E isso persistiu ao longo dos anos. O antropólogo completa: “Em 1911, o representante do Brasil na Conferência das raças disse que o Brasil iria eliminar a população negra e mestiça, leia-se população parda e indígena.”

    Fonseca explicou que a escravatura foi abolida por dois motivos. O primeiro era a pressão interna que havia no Brasil por parte da população escravizada. “Não foi apenas processo histórico, de pressão inglesa. Havia uma luta interna. O Brasil é o último país, sim [a terminar com a escravidão],” explica o cientista social.

    O outro era a necessidade de que os negros se tornassem consumidores, uma vez que a Inglaterra já vivia a segunda Revolução Industrial, que marcou a transição do sistema feudal para o sistema capitalista. “Quando a população africana começa a se tornar um problema maior, incalculável, aí começam a trazer a população da Europa para cá. Hoje a gente diz de forma romântica que eram imigrantes, colonos europeus, mas quem veio para cá foram refugiados de guerra na Europa, dos processos que culminaram com todas as guerras na França e na Inglaterra”, explicou Fonseca.