Professor de universidade gaúcha é condenado por assédio sexual
Ele foi condenado a três anos e três meses de reclusão, mas teve pena convertida em prestação de serviços comunitários
Um professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), na região Sul do Rio Grande do Sul, foi condenado por assédio sexual, na última quarta-feira (4).
O homem, de 52 anos, cometeu o crime contra uma aluna da faculdade no dia 11 de março de 2019.
Em outubro de 2022, o professor já havia sido condenado pelo crime de importunação sexual. O artigo 215-A do Código Penal define a violação como “praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”.
Nesta decisão, a pena aplicada foi de dois anos e três meses de reclusão, mas o professor teve a privação de sua liberdade substituída por duas penas restritivas de direitos, ambas pelo mesmo período ao da pena substituída:
- Prestação de serviços à comunidade;
- Proibição do exercício de função pública na condição de gestor de programas com destinação de verbas e bolsas em universidades públicas.
No entanto, o Ministério Público Federal e a defesa recorreram à Justiça gaúcha, pedindo a ampliação da pena inicial e a inocência do homem, respectivamente.
Após os recursos, o homem foi condenado por importunação sexual e por assédio sexual, tendo a pena aumentada para três anos e três meses de reclusão. Porém, a pena foi novamente substituída pelas medidas restritivas impostas anteriormente, pelo mesmo período.
A denúncia
A denúncia do MPF aponta que, no dia 11 de março de 2019, em reunião previamente agendada, o professor se encontrou com a aluna nas dependências da universidade para conversarem sobre assuntos acadêmicos.
Ao entrarem na sala, ele trancou a porta, guardou a chave no bolso e sentou-se ao lado da estudante. Durante a conversa, exaltando a suposta influência que teria na faculdade, o professor ofereceu uma bolsa de estudos à aluna e a oportunidade de publicar um artigo científico.
Neste momento, ele se aproveitou da situação para passar a mão na perna da vítima e segurar a sua mão, de acordo com a denúncia.
Pouco tempo depois, algumas pessoas chegaram ao local e o professor entregou alguns livros para a aluna, inclusive com dedicatórias. Ele disse que queria lhe dar mais um livro que não estaria no local e conduziu a estudante para outra sala.
Segundo o ministério, o professor elogiou a beleza da aluna e fez referências sobre o estímulo sexual que a presença dela teria lhe causado.
Chegando no outro espaço, ele pediu que as pessoas se retirassem. Então, fechou a porta, sentou-se ao lado da mulher e voltou a conversar sobre a bolsa de estudos que poderia oferecer.
Conforme descrito na denúncia, durante a conversa, o professor se levantou, fechou as cortinas da sala e sentou ao lado da estudante, passando a mão em sua perna novamente.
Em seguida, ele começou a abraçar a vítima, tentando lhe beijar na boca duas vezes, momento em que ela virou o rosto. Mesmo assim, ele acabou beijando o rosto e o pescoço dela. Depois do assédio, a vítima conseguiu sair do local dizendo que estaria atrasada para o almoço.
A aluna, em depoimento, declarou que “não tinha nenhuma intimidade com o denunciado, já que mal o conhecia, pois havia iniciado a cursar a disciplina por ele lecionada há poucos dias”, segundo o MPF.
Ela também relatou que o professor havia pedido o seu número de telefone e, em mensagens por Whatsapp, elogiou reiteradamente a sua beleza física.
Além disso, o homem propôs convites para encontros fora do ambiente acadêmico e fez diversas insinuações de conotação sexual. As mensagens foram enviadas tanto nos dias anteriores à reunião do dia 11 de março, quanto nos dias seguintes à ocorrência.
O que diz a Furg
A Universidade Federal do Rio Grande (Furg) emitiu uma nota oficial sobre o caso e disse que o professor foi demitido logo após a decisão do TRF4. Veja na íntegra:
“Na tarde desta última quinta-feira, 5, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) publicou a condenação em segunda instância de um ex-professor de 52 anos, pelos crimes de importunação e assédio sexuais contra uma aluna. O caso data de 2019, e na ocasião, a Universidade – assim que a denúncia foi apresentada – promoveu a apuração dos fatos, colaborando com a justiça durante todo o processo, fornecendo cópia da totalidade dos procedimentos; no âmbito institucional, a FURG decidiu pela demissão do docente, o que converge com a decisão publicada pelo TRF4.
Mecanismos de prevenção e enfrentamento ao assédio
Visando não somente o combate ao assédio, mas também uma série de políticas de inclusão tornando a Universidade um espaço mais equânime e acessível, a FURG criou a Coordenação de Ações Afirmativas, Inclusão e Diversidades (Caid) em 2021. Esta coordenação tem por objetivo desenvolver e fortalecer políticas institucionais que articulem ações – de caráter transversal e de indissociabilidade do ensino, pesquisa, extensão, gestão e convivência – promotoras da valorização da igualdade racial, da inclusão e das diversidades em diálogo permanente com a comunidade interna e externa. Assim, são seus destinatários professores, técnicos-administrativos em educação, terceirizados e acadêmicos.
Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio
Para atender suas finalidades a Caid está organizada em comissões, dentre as quais uma delas se volta ao enfrentamento do assédio no ambiente universitário. Neste sentido, em 2023, foi aprovada a Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio, Discriminação e outras formas de Violência. Esta política tem entre seus objetivos o de promover um ambiente positivo no qual as pessoas são tratadas de forma justa e com respeito, construindo para tanto um ambiente livre de violência.
O documento – aprovado por unanimidade no Conselho Universitário – perpassa as demais comissões da Caid, uma vez que abrange outras formas de discriminação e violência.
A política é organizada em três eixos: prevenção, acolhimento e apuração. O primeiro inclui o desenvolvimento de um processo de prevenção educativo contínuo e permanente, seja nos espaços formativos, assim como nos espaços informativos; o segundo se estabelece a partir do reconhecimento da gravidade das violências sofridas e se organiza na escuta inicial para orientação assim como no atendimento especializado, cujos fluxos e canais de atendimento estão disponíveis no site da Caid; e o terceiro trata das especificidades que envolvem desde a denúncia, passando pela apuração, até o sancionamento, estabelecendo outras possibilidades sancionatórias que se somam àquelas previstas na legislação federal em vigor.
É importante destacar que mesmo antes da aprovação desta política, a Caid já vinha realizando formações sobre o tema em todos os espaços da Universidade, com docentes, discentes e terceirizados. Para o próximo mês de outubro, serão realizadas formações com todos os gestores da FURG, uma vez que, com a aprovação da política, tal formação se tornou condição obrigatória para o exercício destes cargos.
Secretaria de Integridade, Transparência e Controle Social
Também em 2021 é criada a Secretaria de Integridade, Transparência e Controle Social (SITC), constituída como um órgão vinculado à Reitoria, na finalidade de promover interlocução das questões que envolvem instâncias universitárias e as comunidades interna e externa, atuando na qualificação, fortalecimento e monitoramento das ações de integridade, bem como na promoção do acesso à informação e da participação social.
Ouvidoria
Compondo a estrutura da SITC, está a Ouvidoria, que se constitui como um espaço destinado ao exercício da cidadania para que a comunidade possa fazer sua manifestação por meio de sugestões, elogios, reclamações, denúncias e solicitações, sendo, portanto, um canal de comunicação entre o cidadão e a FURG, para contribuir com a melhoria da Universidade.
A Ouvidoria exerce papel mediador nas relações envolvendo instâncias universitárias e os integrantes das comunidades interna e externa, examinando e encaminhando as demandas aos setores competentes, identificando melhorias, propondo mudanças, assim como, apontando irregularidades.
Neste sentido, o espaço é mais um dos mecanismos da FURG para o combate de práticas abusivas. Recentemente, a Ouvidoria publicou um guia para capacitar a comunidade na realização de denúncias de assédio moral, sexual e discriminação, disponível aqui.
Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar
Ainda em 2021, foi aprovado o novo regimento da Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar (CPPAD), órgão que integra o sistema de Correição do Poder Executivo Federal, e é responsável por garantir a integridade do serviço público, por meio da apuração e responsabilização de infrações administrativas.”