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    Políticos, partidos e entidades se manifestam sobre caso Monark

    Youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, afirmou defender a "criação de um partido nazista no Brasil"

    Anna Gabriela Costada CNN* , em São Paulo

    A repercussão em torno da declaração do youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark –que afirmou na segunda-feira (7) defender a criação de um partido nazista no Brasil– tomou proporções entre políticos e entidades religiosas, além de eventuais desdobramentos judiciais.

    No dia seguinte ao comentário, realizado durante entrevista com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) e o deputado Kim Kataguiri (Podemos-SP) no Flow Podcast, Monark publicou um vídeo pedindo desculpas à comunidade judaica, alegando estar “muito bêbado” no momento da declaração. Em algumas horas, o vídeo já havia sido reproduzido mais de 1,7 milhão de vezes e somava ao menos 60 mil comentários, em sua maioria criticando a posição do youtuber. Ele acabou sendo desligado do canal.

    Na contramão das notas de repúdio emitidas no decorrer do dia, o Partido da Causa Operária (PCO) declarou em uma publicação no Twitter que Monark estava sendo “perseguido por apresentar uma mera opinião”.

    “O clima policialesco de censura e histeria apoiado pela esquerda identitária não liberta nenhuma minoria oprimida. Ele apenas aumenta o poder de repressão do Estado burguês sobre todos”, disse o PCO no tweet.

    Críticas

    A Confederação Israelita do Brasil (Conib) condenou a fala de Monark e lembrou que “sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias”.

    “O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera “inferiores”. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, acrescentou a Conib, por meio de nota.

    O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou, em publicação nas redes sociais nesta terça-feira (8), que “qualquer apologia ao nazismo é criminosa, execrável e obscena”.

    “O discurso do ódio contraria os valores fundantes da democracia constitucional brasileira. Minha solidariedade à comunidade judaica”, acrescentou o ministro.

    O também ministro do STF Alexandre de Moraes se pronunciou sobre o acontecimento. Moraes afirmou que “a Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo”.

    O senador e presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Davi Alcolumbre (DEM-AM), emitiu uma nota afirmando considerar a afirmação de Monark “repugnante”.

    “Defender o nazismo não é liberdade de expressão. Defender um regime que assassinou 6 milhões de judeus inocentes só por serem judeus no maior genocídio da história é um acinte repugnante e criminoso. Este é um país construído sobre o respeito à diversidade e o acolhimento ao diferente. Que nós sejamos capazes de manter viva a memória de um passado tão cheio de dor para jamais termos de testemunhar um holocausto novamente”, disse.

    O ex-juiz e pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) afirmou em uma publicação no Twitter que o nazismo é abominável e inaceitável em qualquer circunstância.

    “É um crime e uma ofensa ao povo judeu e a toda humanidade. Não há mais lugar no mundo para o ódio e a intolerância”, disse Moro.

    O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), também se manifestou sobre o caso. Leite destacou que o nazismo não é apenas um erro, mas um crime.

    O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aproveitou a discussão e falou sobre o projeto de lei 4425/20, que “criminaliza a apologia a qualquer tipo de regime totalitário”,

    “Se querem mesmo fazer algo contra ideologias extremistas e repugnantes, como o nazismo e o comunismo, acesse seu deputado falando sobre meu PL 4425/20, que criminaliza a apologia a qualquer tipo de regime totalitário, e solicite sua aprovação.”

    Os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral, que participavam do podcast quando as declarações foram proferidas, comentaram a situação ocorrida na gravação do Flow Podcast.

    “A nossa liberdade termina quando começa a do outro. Ponto final. O nazismo e outras ideologias que ameaçam a existência e integridade de pessoas ou grupos, sejam judeus, PCD, negros ou LGBTQIA+, são intoleráveis e devem ser banidas. Isso sempre foi e será inegociável para mim”, declarou Tabata Amaral no Twitter.

    Em nota, Kataguiri afirmou que é “muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados. Irônico é ver quem normaliza os genocídios cometidos pelo comunismo falarem em direitos humanos”.

    Desdobramentos na Justiça

    Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou, nesta terça-feira (8), a abertura de uma investigação sobre declarações dadas no Flow Podcast a respeito da criminalização do nazismo.

    Segundo a PGR, o procurador-geral Augusto Aras determinou a instauração de um procedimento para que seja investigado se o deputado federal Kim Kataguiri e se Monark cometeram o crime de apologia ao nazismo no programa.

    Defensoria Pública da União (DPU) emitiu uma nota de repúdio ao “discurso de ódio e à apologia a ideias nazistas em episódio de podcast”.

    No comunicado, a Defensoria afirma que repudia com veemência as declarações de Monark que retratam “verdadeiro discurso de ódio por fazer apologia a ideias nazistas, racistas, preconceituosas, discriminatórias, de absoluto desprezo e intolerância contra judeus”.

    A nota ainda diz que discursos que incitam a violência ou a eliminação de um grupo “não são cobertos pelo manto da liberdade de expressão”.

    Por fim, a DPU afirma que irá adotar as medidas legais para responsabilizar criminal e civilmente os envolvidos. O comunicado foi assinado pelo defensor público-geral federal, Daniel de Macedo Pereira e pelo defensor nacional de direitos humanos, André Ribeiro Porciúncula.

    Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo afirmou, em nota à CNN, que recebeu representações de cidadãos sobre o caso. “Essas representações serão distribuídas a um procurador da República, que então fará a análise preliminar dos fatos e definirá os próximos passos”, informou o MPF.

    Contratos

    Nesta terça, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) rompeu com o Flow Podcast. A Ferj tinha contrato com a os “Estúdios Flow”, responsável pelo “Flow Sport Club”, que transmitia jogos do Campeonato Carioca 2022, e disse que defende a igualdade, o respeito e contraria qualquer tipo de preconceito.

    O também youtuber Davy Jones, um dos âncoras do Flow Sport Club, fez um pronunciamento nas redes sociais. Ele repudiou as falas de Monark e disse que não continuaria no canal se Monark não fosse desligado.

    A Flash, uma das empresas que patrocinava o canal, também cortou relações com o Flow. Em nota, a empresa afirmou que “não há sociedade livre quando há intolerância ou busca de legitimação de discursos odiosos, nazistas e racistas, tecidos a partir de uma suposta liberdade de expressão. Reforçamos que todo e qualquer tipo de opinião jamais pode ferir, ignorar ou questionar a existência de alguém ou de um grupo da sociedade. Diante de absurdos como esse, é preciso agir e, desta forma, solicitamos o encerramento formal e imediato de nossa relação contratual com os Estúdios Flow”.

    A Fatal Model foi outra patrocinadora que solicitou cancelamento de contrato com o podcast após o episódio. “Em nossa caminhada, repudiamos e sempre repudiaremos toda e qualquer forma de discriminação, preconceito e violência” afirmou a nota da empresa.

    O Flow Podcast também deixou de contar com o patrocínio da Amazon. A empresa repudiou as declarações sobre o nazismo feitas durante o programa e afirmou que tanto a Prime Video quanto a Amazon Music não são mais anunciantes e nem mesmo patrocinadoras do podcast.

    Com informações de Tiago Tortella, Vinícius Tadeu, Danilo Moliterno e Giulia Alecrim, da CNN.

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