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    “Petrópolis precisa ampliar plano de contingência para chuva”, alerta especialista

    Planejamento da Defesa Civil para o verão está em vigor desde dezembro, mas foco ainda é em comunidades

    Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16.
    Destruição causada pela chuva na localidade de Alto da Serra, no município de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, 16. Estadão Conteúdo

    Rayane Rochada CNN*

    no Rio de Janeiro

    A cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, acionou o plano de contingência municipal para chuva intensa, depois das inundações desta terça-feira (15). O planejamento do verão 2022, em vigor desde dezembro do ano passado, conta com sirenes de alerta instaladas em 18 regiões.

    Com o intuito de evitar tragédias como a que atinge o município neste momento, apenas quatro bairros, no entanto, estão equipados com tais sirenes: Quitandinha, Valparaíso, Alto da Serra e Bingen.

    Em novembro do ano passado, a prefeitura já havia informado à CNN que cerca de R$ 2 mil foram investidos, em áreas que não contam com o equipamento, para a compra de 16 apitos, capas de chuva, lanternas e coletes. Em situações urgentes, esses materiais são destinados a voluntários da Defesa Civil. Esse grupo é responsável por sinalizar a moradores quando há riscos de acidentes.

    Desenvolvido pela Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ações Voluntárias, o plano define ainda quais responsabilidades cabem a cada órgão oficial em casos de emergências causadas por desastres naturais. O documento define o que deve ser feito quanto ao socorro, assistência e reabilitação. O projeto segue em operação até o mês de março.

    O professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leandro Torres, chama a atenção para as origens do problema. “Não é um desastre totalmente natural, por causa do componente de atuação do homem. Mais do que o ponto de vista hidrológico, por exemplo, há a ação das pessoas, que ocupam lugares não adequados. Assim, dizemos que é um desastre socionatural”, explica.

    O especialista em Gestão de Emergências e Desastres da UFRJ destaca que novas estratégias de contingência precisam ser desenvolvidas o quanto antes.

    “No meu entendimento, boas práticas já foram testadas e implementadas com sucesso, mas falta uma abordagem mais geral. O conceito do plano deveria ser ampliado. As áreas de moradias críticas foram priorizadas, por isso as sirenes estão em comunidades que têm riscos de deslizamentos. O desastre de 2011 mostrou a vulnerabilidade do público que mora nesses locais”, relembra.

    O incidente em questão aconteceu em janeiro de 2011 e é considerado a maior tragédia climática da história do país, com desdobramentos até os dias de hoje. À época, os petropolitanos enfrentaram uma chuva intensa, com deslizamentos de terra e enxurradas, que deixou mais de 900 mortos em toda a Região Serrana.

    Para o engenheiro civil, além dos pontos preocupantes, outras localidades centrais devem ser contempladas, mesmo sendo tidas como menos importantes em um primeiro momento.

    “O exemplo das comunidades mostrou que o plano funciona. Agora, o restante da população precisa saber quando está entrando em uma área de risco. Dessa forma, o próprio cidadão ajuda na sua proteção”, afirma.

    “Muitas vezes, as pessoas estão na rua e acontece uma enxurrada. Elas não receberam um aviso prévio da emergência, porque não estavam nessas comunidades”, complementa.

    O professor entende que é necessário aumentar os investimentos em capacitação e em preparação. “A Defesa Civil tem que conseguir acessar as pessoas de diversas maneiras. São cenários em que tem que se trabalhar com redundância de medidas”, alerta.

    “Há uma infinidade de medidas para prevenção, como obras de engenharia e planos em escolas. Mas, para evitar mortes em situações como esta, temos que investir em um sistema comunitário de resposta”, defende.

    O especialista ressalta o uso da tecnologia como aliada nestes momentos. “Os alarmes e letreiros ajudam, mas alertas maiores precisam ser feitas para chegar a mais gente. É desejável um alcance por meio de mensagens individuais pelo celular, por exemplo. Articular o cruzamento de informações por meio de aplicativos, para saber por onde a população está circulando”, sinaliza.

    Leandro Torres elucida ainda que deve ficar claro no plano o que precisa ser feito pela população quando o volume de água começar a subir acima do normal. “Pontos de apoio, rotas de fuga e abrigos emergenciais e temporários em prédios públicos e privados são alguns desses exemplos. É preciso pensar não só em que mora ou trabalha de forma física nesses locais, mas também quem está em trânsito ocasionalmente”, conclui.

    *Sob supervisão de Stéfano Salles