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    Petrópolis: ocupação de áreas irregulares acelerou desde 1985, diz especialista

    Segundo MapBiomas, moradias em áreas de risco cresceram 107% nos últimos 35 anos, enquanto moradias em todas as áreas da cidade tiveram aumento de 66%

    Iuri Corsinida CNN* , no Rio de Janeiro

    A ocupação em áreas de risco em Petrópolis cresceu mais que a média da ocupação total da cidade nos últimos 35 anos. Enquanto as áreas totais de habitação na cidade saltaram de 30 quilômetros quadrados, em 1985, para 50 em 2020, as ocupações em aglomerados subnormais (locais de habitação irregular e em área de risco), saltaram de 1,9 para 4,1 quilômetros quadrados, no mesmo período.

    Os dados são de um levantamento feito pelo engenheiro ambiental Edmilson Rodrigues, da equipe de mapeamento urbano do MapBiomas.

    Enquanto o avanço da ocupação em áreas irregulares e de alto risco para deslizamentos e inundações em Petrópolis foi de cerca de 107% nos últimos 35 anos, o crescimento residencial nas demais áreas foi de 66% neste mesmo período. Ainda é possível dizer que 6,6% das áreas na cidade estavam em locais irregulares há 35 anos. Em 2020, a proporção subiu para 8,26%.

    Para Julio Pedrassoli, um dos pesquisadores do MapBiomas envolvidos no estudo, os dados apontam para a urgência de se discutir e olhar com atenção para a ocupação urbana na cidade e no país.

    “Estes dados adicionam mais uma camada de complexidade na ocupação de Petrópolis e de muitas outras áreas no Brasil, onde há uma persistente ocupação de áreas inadequadas por populações vulneráveis, que ocupam áreas muitas vezes perigosas, como encostas íngremes e outras áreas de risco. Elas são vítimas da falta de políticas públicas, inclusive sociais”, reflete.

    Julio destaca que não se pode culpar os habitantes destas regiões já que, na maioria das vezes, essa ocupação não ocorre por uma escolha racional, mas por necessidade. Isso, segundo o pesquisador, evidencia o que qualifica como uma negligência do estado no cumprimento de seu papel de prover condições dignas de moradia.

    Reportagem mostrada pela CNN nesta semana revelou que projetos de habitação para vítimas de chuvas de Petrópolis estão parados desde 2011. Após a tragédia das chuvas da Região Serrana naquele ano, a União destinou terrenos ao governo do estado para a construção de conjuntos habitacionais do programa “Minha Casa Minha Vida”. Nenhuma moradia foi construída na cidade.

    Os riscos em Petrópolis são conhecidos há tempos. O último Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) elaborado, em 2017, já indicava que havia, pelo menos, 15.240 residências no primeiro distrito de Petrópolis em áreas de risco alto e muito alto para deslizamentos de terra. Essa foi justamente a região mais impactada pelas chuvas do dia 15 de fevereiro no município.

    À CNN, o engenheiro geotécnico Luís Carlos de Oliveira, um dos responsáveis pelo PMRR, falou sobre o problema da falta de controle e de políticas habitacionais.

    “Todas as reflexões feitas após o estudo indicam para questões estruturais de urbanização, controle urbano e de soluções de habitação – e não apenas obras estruturais. Em toda a região onde ocorreu a catástrofe desta terça-feira foi observado um adensamento nesses locais, com aumento e intensificação da ocupação nesses últimos anos”, destacou na ocasião o especialista.

    A tragédia já deixou ao menos 208 mortos em Petrópolis, sendo 124 mulheres e 84 homens. Deste total, 40 eram crianças ou adolescentes. As buscas seguem acontecendo em diversos pontos do município, com dezenas de pessoas ainda desaparecidas.

    *Com informações de Elis Barreto, Fabiana Lima e Isabelle Saleme, da CNN

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