Pela 1ª vez, IBGE contará com ajuda da ONU para censo de refugiados e imigrantes
Acnur e OIM vão auxiliar com tradução, acesso a abrigos e contato com etnias indígenas; trabalho terá foco em Roraima e Amazonas, porta de entrada de venezuelanos
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) firmou, pela primeira vez, um acordo com duas agências da ONU para o auxílio no recenseamento de imigrantes e refugiados.
Técnicos da Organização Internacional para Migrações (OIM) e do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) vão ajudar na contagem da população desses grupos.
“Os dois acordos são fundamentais para a cobertura da migração internacional, particularmente dos venezuelanos, embora também dos bolivianos e outros segmentos de refugiados tanto da América Latina quanto fora, como do Afeganistão e da Ucrânia. Vamos captar tudo”, afirmou o presidente do IBGE, Eduardo Rios Neto.
De acordo com um relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o último censo, realizado em 2010, apontou a existência de mais de 592 mil imigrantes no Brasil, especialmente portugueses e japoneses, “revelando traços ainda presentes das migrações históricas que se destinaram ao país a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX.”
Desse total, 61,4% se concentravam nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Já entre 2011 e 2020, ainda segundo o OBMigra, os registros administrativos do governo federal sobre solicitações de residência e refúgio mostram uma mudança do perfil, com 1,3 milhão de imigrantes e refugiados residindo no país, liderados por venezuelanos e haitianos.
Do ponto de vista espacial, São Paulo e Rio reduziram a participação para 38%, enquanto Roraima concentrou 21,9% dessa população e a Região Sul, 16,8%.
No Censo 2022, que começou na última segunda-feira (1º), a Organização Internacional para Migrações vai dar suporte na tradução para o espanhol do questionário e dos materiais de divulgação. O trabalho estará concentrado especialmente em Roraima e Amazonas.
As equipes da OIM também acompanharão os recenseadores em comunidades indígenas venezuelanas e em Postos de Apoio e Recepção de Boa Vista e Pacaraima, ambas cidades do RR. Um dos objetivos é identificar venezuelanos que vivem fora do sistema oficial de abrigos do poder público.
“A OIM apoia a resposta humanitária do governo brasileiro desde seu início com a produção mensal de diferentes informes que permitem conhecer dados dos refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil, possibilitando assim a realização de ações baseadas em evidências concretas. A inclusão dessa população no Censo é uma grande conquista para ampliar o conhecimento e difusão das informações”, destaca o Chefe de Missão da OIM no Brasil, Stéphane Rostiaux.
O Acnur auxiliará o IBGE no acesso aos abrigos que acolhem refugiados e acompanhará a realização de entrevistas com a garantia do respeito à cultura, em especial de etnias indígenas. No Pará, por exemplo, a Agência da ONU para Refugiados já treinou os coordenadores do censo para uma abordagem diferenciada aos indígenas venezuelanos da etnia Warao.
“É por meio do levantamento de dados de qualidade que podemos compreender o perfil da população refugiada acolhida no Brasil para estruturar políticas públicas que dialoguem com as demandas de cada segmento”, afirmou o representante interino do Acnur no Brasil, Federico Martinez.
“Além disso, considerando a ampla área do território brasileiro e o potencial de deslocamento das pessoas refugiadas em busca de oportunidades em diferentes cidades, a realização do Censo nos abrigos possibilita o melhor conhecimento de suas necessidades e contribui para as ações de integração nas cidades de acolhida.”