Pastor é preso no Rio após abusar de mulheres acolhidas por igreja
Segundo os relatos das vítimas, o homem justificava os abusos como ensinamentos de um pai e afirmava que os atos serviriam para orientar em suas vidas conjugais
Um pastor foi preso, nesta sexta-feira (19), por policiais da Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo (DEAM), na Região Metropolitana do Rio, por estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Pelo menos três mulheres foram abusadas por ele.
Segundo a delegada responsável pelas investigações, Ana Carla Rodrigues de Moura Nepomuceno, os crimes foram cometidos entre 2010 e 2021 no município de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Angelo Ventura Siqueira era pastor da igreja Ministério Terra do Deus Vivo, localizada na Estrada Doutor Plínio Casado. Segundo os relatos das vítimas, ele abusava de mulheres acolhidas pela instituição.
De acordo com a Polícia, o suspeito usava o mesmo modus operandi. Ele buscava vítimas com a família desestruturada, sem a figura paterna ou que estivessem passando por momento conturbado em casa. O homem se aproveitava da fragilidade emocional das mulheres para se aproximar e convencê-las a saírem de casa e se mudarem para um anexo da casa dele.
O pastor afirmava que era uma espécie de “pai” para seus fiéis, em especial para as mulheres. Usava inclusive a expressão “paistor”, afirmando que atuaria como um pastor e, ao mesmo tempo, como o pai que esteve ausente na vida das vítimas.
Em todos os relatos recebidos pela polícia, as mulheres contaram que os abusos começaram com o homem dizendo a elas que nutria “carinho de um pai”. Em outros momentos, ele justificava os abusos como ensinamentos de um pai e afirmava que aqueles atos serviriam para orientar as vítimas em suas vidas conjugais com seus futuros maridos. Ele dizia: “eu vou te ensinar como um homem deve tratar uma mulher e depois disso você não vai admitir que nenhum homem te trate menos que isso”.
Uma das vítimas disse que permitia as carícias e atos sexuais pois se sentia coagida a consentir, já que Angelo dizia que, como autoridade espiritual, não poderia ser questionado. Ele chegou a agredir essa vítima quando ela não quis mais ter relações sexuais com ele.
As investigações apontam ainda que Angelo distorcia a função do gabinete pastoral, local utilizado nas igrejas evangélicas para aconselhamento, e o usava para ter contatos íntimos com as mulheres. As vítimas relataram que o pastor marcava os encontros em lugares como lanchonetes, shoppings, montes, praias (em horários noturnos) e até no carro dele. Nesses encontros, ele oferecia vinho às vítimas.
Uma delas chegou a ser levada por ele para um motel, já bastante alcoolizada. Ao perceber onde estava, a mulher questionou o pastor. Ela perguntou, inclusive, se houve penetração, após sentir uma ardência na região íntima, pois ela não tinha qualquer relacionamento havia sete anos. Ele assumiu para ela que “tinha errado”.
O pastor estava em São Paulo e vinha sendo monitorado pela equipe da DEAM. Ele retornou ao Rio nesta sexta-feira e foi preso no bairro Posto 13, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele foi denunciado por estupro de vulnerável e por violação sexual mediante fraude.