Pastagem é principal causa de mais de 90% do desmatamento da Amazônia, diz estudo
Área de pastagem cresceu 363% nos últimos 39 anos
A pastagem foi a principal causa do desmatamento da Amazônia, entre os anos de 1985 e 2023. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (3) pela Rede MapBiomas, mostram que a prática foi responsável por mais de 90% da devastação.
Segundo o estudo, as imagens de satélite analisadas mostram que o crescimento da área de pastagem na Amazônia foi de mais de 363%, número que representa um aumento de aproximadamente 12,7 milhões de hectares para 59 milhões. Assim, em 2023, foi identificado que 14% da Amazônia é composto por pastagens.
No que diz respeito à região Amacro, que representa a junção das fronteiras dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, a área de pastagem aumentou 11 vezes, o que totaliza cerca de 7 milhões de hectares.
Já entre 1987 e 2020, aproximadamente 77% do desmatamento na Amazônia viraram pasto e apresentaram o mesmo uso em 2020. Além disso, 12% das áreas desmatadas tiveram como primeiro uso pastagem, no entanto, em 2020 voltaram a passar por um processo de regeneração.
As áreas úmidas da região também foram afetadas pelas pastagens e chegaram a perder cerca de 3,7 milhões de hectares entre 1985 e 2023. Do total, 441 mil hectares foram transformados em áreas agrícolas.
Para o pesquisador da equipe Amazônia do MapBiomas, Luis Oliveira, houve aumento de área provocado pela criação de barragens e reservatórios na região.
“Porém, se ampliarmos a análise para todas as classes úmidas (Água, Floresta Alagável e Campo Alagado), nota-se uma tendência de redução das áreas úmidas na Amazônia, o que pode já ser um forte indício de mudanças climáticas no bioma”, completou o pesquisador.
Na análise, feita com base na porção de área dos estados dentro do bioma, foi possível identificar os estados com maior expansão de pastagem entre 1985 e 2023:
- Tocantins: aumento de 33% para 74% da área do estado;
- Maranhão: aumento de 14% para 48%;
- Rondônia: aumento de 6% para 39%.
Aumento da área agrícola
De acordo com a pesquisa, a área agrícola do maior bioma brasileiro cresceu 47 vezes entre 1985 e 2023, o que representa um aumento de 4.647%, em que a área passou de 154 mil hectares para 7,3 milhões de hectares.
Cerca de 97% da área agrícola corresponde às lavouras temporárias, com predomínio da soja que, em 2023, ocupava 5,9 milhões de hectares no bioma.
Já em relação à área de cana-de-açúcar houve aumento progressivo. O que antes representava 192 hectares em 1985, passou a ocupar, em 2023, 1,23% do total da área agrícola, com cerca de 90 mil hectares.
Vegetação nativa
A pesquisa aponta que o bioma perdeu 14% de vegetação nativa entre os 39 anos analisados. Assim, foram perdidos 55,3 milhões de hectares de área vegetação. nativa. Atualmente, cerca de 81,3% da Amazônia são cobertos por vegetação nativa.
Para Jailson Soares, pesquisador da equipe Amazônia do MapBiomas, a quantidade de vegetação nativa removida nos últimos 39 anos é alarmante e a continuidade da perda pode levar a região ao chamado “ponto de não retorno”.
“Nesse estágio, o bioma amazônico perderia sua capacidade de manter funções ecológicas essenciais e de se recuperar de distúrbios como queimadas e exploração madeireira, resultando em uma degradação irreversível da floresta”, alertou Jailson.
*Sob supervisão de Bruno Laforé