Pandemia pode resultar na perda de 25% na renda futura de crianças de até 5 anos
Relatório do Banco Mundial analisou impacto socioeconômico provocado pela crise sanitária da Covid-19 na educação
Crianças de 0 a 5 anos acumularam durante a pandemia de Covid-19 uma perda de déficit cognitivo que pode significar a longo prazo uma queda de 25% na renda que teriam na vida adulta. Essa perda foi calculada em relatório global do Banco Mundial divulgado nesta quinta-feira (16).
O documento também analisou os problemas causados pela crise sanitária em crianças em idade escolar de 6 até 14 e de jovens de 15 à 24 anos.
À CNN, Joana Silva, economista do Banco Mundial e uma das autoras do relatório, conta que as crianças de 0 até 5 anos sentem mais a perda cognitiva porque os primeiros cinco anos de vida são essenciais para o desenvolvimento do cérebro. É nessa fase que se estabelece a base para habilidades como alfabetização e matemática.
“Um choque nesta fase leva a perdas maiores porque a acumulação de capital humano é um processo sequencial e cumulativo. As crianças de 0 a 5 anos tiveram perdas significativas no início da vida, que podem se arrastar por toda a trajetória escolar e culminar em piores oportunidades de trabalho”, alerta.
Ela informa que o aprendizado durante os primeiros anos é a base para a aprendizagem futura, pois as crianças começam a aprender sobre números, linguagem e a relacionar-se socialmente, além de desenvolver funções executivas. “Perdas de capital humano nesta fase criam um obstáculo à acumulação de capital humano nas fases seguintes do seu ciclo de vida.”
O documento também calcula que as crianças em período escolar podem perder até 10% de seus ganhos futuros devido aos impactos na educação provocados pela Covid-19.
Com o fechamento das escolas, por exemplo, as crianças não só deixaram de aprender como também esqueceram coisas que já haviam estudado, mesmo tendo aulas remotas.
O Banco Mundial calcula que ,entre as crianças em idade escolar, em média, para cada 30 dias de fechamento das escolas, os alunos perderam 32 dias de aprendizagem. Essas perdas na observadas hoje podem reduzir os ganhos futuros em todo o mundo em US$ 21 trilhões.
Joana explica que, para minimizar os problemas causados pela perda de capital humano durante a vida dessas crianças, os governos precisam priorizar transferências de renda para famílias com crianças pequenas e cuja renda não foi recuperada, além de promover campanhas de atualização da carteira de vacinação e suplementação nutricional e programas para incentivar maior estímulo cognitivo e socioemocional nos lares.
Já para as crianças em idade escolar, Joana analisa que simplesmente tê-las de volta à escola não será suficiente: “Uma criança que parou de ir à escola na segunda série e ficou em casa por um ano não poderá acompanhar o currículo da quarta série ao voltar para a escola. Será importante adequar o ensino ao nível de aprendizado desses alunos. Aumentar o tempo de aula e os programas de recuperação –como aulas de compensação– para os alunos com maiores perdas também pode ajudar.”
